Ser Ministro extraordinário da Comunhão

Chamo-me Paulo Serapicos, colaboro com a Comunidade Canção Nova em Portugal há mais de 12 anos, na televisão. Sempre fui aquela pessoa que gosta de ajudar quem mais precisa. Com isso, tive a oportunidade de fazer o curso de ministro extraordinário da comunhão (MEC) pela Comunidade. Ser MEC para mim é importante, porque primeiro obriga-me a ter uma postura de exemplo perante uma Comunidade interna e depois lá fora diante dos outros, tanto como pessoa como um exemplo de fé. Não basta parecer, precisamos ser. Expor o Santíssimo no ostensório, levar a comunhão aos doentes, aos agonizantes, e aos fiéis durante a missa é algo assim maravilhoso.

Somos enviados de Deus porque é essa a nossa missão: servir os outros! E posso dizer que para se ser MEC deve aceitar-se como uma vocação, nunca como um curso ou um extra a mais no currículo pessoal. Ser MEC é ser chamado a levar Jesus, a dar Jesus para o outro sem esperar nada em troca. Hoje o meu trabalho passa por expor o Santíssimo às 10h na adoração diária da TV Canção Nova. Na paróquia de Fátima, dou a comunhão aos fiéis na Santa Missa, aos domingos, e, no fim, levo a comunhão e celebro a palavra na casa de uma senhora acamada.

Mas posso dizer que, recentemente, a minha maior experiência foi algo que não esperava. Infelizmente, o meu pai é doente oncológico e dia após dia tem vindo a piorar. Num dia destes e numa fase já muito débil, praticamente sem comer, sem caminhar e sem falar, passava das 20h e eu chamei um padre para ir a casa dele administrar-lhe  a unção dos enfermos, uma vez que entendi que era o momento. O senhor padre entrou e ficou com ele no quarto a sós. Passado um pouco, o sacerdote chamou-me e disse: “Quando puderes, trazes Jesus ao teu pai.” (Ou seja, o meu pai confessou-se, que surpresa!) Olhei para o meu pai e fiz a pergunta: “Tens a certeza que queres receber Jesus?”  Ele abanou a cabeça e disse que sim. Eu, há pouco tempo, tinha pedido muito a Deus para quando o meu pai partisse que ele fosse para o céu porque na terra já tinha sofrido muito. Bem mas como se não bastasse, Deus concedeu-me outro desejo: o desejo que Jesus entrasse naquela casa. No dia a seguir, a minha mãe ligou-me novamente a dizer que o meu pai estava bastante mal e que eu fosse o mais rápido possível. Ele não aguentaria muito mais devido a uma hemorragia porque estava a perder muito sangue. Eu saí a correr do trabalho, passei na paróquia (como o pároco sugerira) e levei uma Hóstia comigo. Levei a minha esposa, o nosso filho e disse-lhes que naquele dia poderia ser a última vez que o veríamos. Cheguei a casa, estendi o corporal, coloquei o crucifixo que era já do bisavô dele (tradicionalmente, exposto no dia da visita Pascal), depois coloquei Jesus e rezei um “Pai Nosso”, uma Avé Maria e um “Glória”, por fim dei-lhe a comunhão. Senti para mim mesmo que estava a dar de volta aquele Jesus que o meu pai há muito tempo não via tão de perto. Ali, não era só o meu pai, era o filho pródigo que estava a voltar para os braços do Pai e a preparar-se para O abraçar . Por fim, eu disse-lhe que íamos celebrar hoje mesmo a páscoa dele. Rezámos um pouco e o meu pai, de mãos juntas, lembrava-me a mãe dele, a minha avó. Enquanto eu elevava a Hóstia e dizia “eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” o meu pai disse-me que naquele momento estava a ver a mãe e que queria ir para junto dela. Eu olhava para ele e havia um sorriso na sua cara que os olhos dele quase rasgavam, parecia que estava a ver algo muito perto. No fim da comunhão, fiquei pertinho dele. Prometi que enquanto ele estivesse em casa, eu iria trazer todos os dias a comunhão. Nesse mesmo dia, a ambulância levou-o para o hospital e lá ficou internado, até hoje. Posso dizer que foi algo único, algo inesperado da minha parte, mas depois de tudo isso percebi que Deus tinha algo para escrever na minha vida. Senti-me muito grato a Deus e soube também assim preparar-me mais e melhor para a partida do filho pródigo, o meu pai.

Eu hoje mais uma vez posso dizer que sou um livro aberto com folhas em branco, sempre consciente de que quem escreve a minha vida é Deus.

 

Paulo Serapicos
Benfeitor e colaborador da Canção Nova