Na amamentação, acontece um laço muito íntimo entre mãe e filho
Como obstetra, tive a oportunidade de acompanhar e orientar muitas mães na preparação para a amamentação. Antigamente, eu seguia o protocolo de orientações básicas: massagem no mamilo para torná-lo mais proeminente, uso de hidrante na pele para evitar estrias, esfoliação suave com bucha de banho ou toalha para a aréola e mamilo, banho de sol (quando possível, afinal não é fácil ter uma área privativa para topless).
Após o nascimento, continuavam as orientações: acompanhamento da pega do bebê para que não aconteçam rachaduras, o uso do próprio leite e do sol para a cicatrização do mamilo, o posicionamento do corpo do bebê voltado para a mãe (famosa posição “barriga com barriga”) e um local calmo e adequado para amamentar.
Tudo isso está muito correto, mas confesso que só entendi o que significava a amamentação depois que me tornei mãe.
A amamentação na prática
Na teoria, é lindo e fácil (e realmente temos a esperança de que se seguirmos à risca as orientações, tudo correrá bem), mas, na prática, a história é bem diferente.
Frequentemente, surgem dificuldades grandes para esse momento (rachaduras, dificuldade do bebê para aprender a mamar, falta de participação e ajuda por parte do pai, pouca produção de leite devido ao estresse e a falta de sono). Tornar-se mãe é uma das transformações mais fortes, lindas e enlouquecidas pela qual uma pessoa pode passar.
Costumo dizer para as minhas pacientes que, no primeiro mês, o objetivo é sobreviver (mãe, pai e bebê). Se der para tomar banho, comer, cortar as unhas ou dormir, considere-se no lucro.
Nossos sentimentos, nossos medos, o relacionamento que tivemos com nossa própria mãe ou com nosso pai, nossos traumas… Tudo surge como um turbilhão de emoções e dúvidas. Ao mesmo tempo, quando olhamos o bebê pela primeira vez, sentimos que ninguém no mundo poderia amá-lo mais e melhor do que nós mesmas. E durante as piores crises, eles dão aquele sorrisinho inconsciente que desmancha qualquer mau humor.
A intimidade entre mãe e filho
A amamentação acontece em meio a esse momento de crise inicial e tem um lado muito forte, que a torna tão intensa e importante: a intimidade. Nossa sociedade tornou a intimidade algo quase exclusivamente sexual. É difícil ver o carinho saudável entre amigos, entre pais e filhos, entre irmãos. Se virmos um beijo no rosto, um abraço, um cafuné, logo imaginaremos que exista um relacionamento amoroso ali.
A falta de carinho dos nossos pais e as carências afetivas que carregamos nos tornam pessoas necessitadas de intimidade, mas, ao mesmo tempo, nos ensina a limitar a fonte ao que é sexual.
Na amamentação, acontece um laço muito íntimo entre mãe e filho sem ser algo sexual. Não há como explicar a força desse momento, mas posso dizer que é algo muito especial. O bebê tinha seu universo no corpo da mãe, e após o nascimento, a amamentação mantém esse vínculo com o local de origem, com sua casa natural.
A perfeição do leite materno
É impressionante a perfeição do leite materno. Ele é produzido exatamente de acordo com o que aquele bebê precisa. Se está frio, o leite se torna mais gorduroso para sustentar e aquecer. Se está calor, ele vem mais diluído para hidratar. Se mãe e bebê tem contato com alguém doente, o corpo da mãe produz as células de defesa e passa pelo leite para proteger o bebê. Quanto mais o bebê precisa, mais é produzido, e se ele mama menos, naturalmente o leite vai secando. É realmente uma continuação da gestação, só que agora pelo aleitamento.
Não é fácil amamentar (e os primeiros 15 dias podem ser bem difíceis), mas é algo pelo qual vale a pena lutar, tanto pela mãe (que terá uma experiência de intimidade única e nova), quanto para o bebê, que se sentirá amado, cuidado e protegido pelas pessoas mais capacitadas que existem no mundo todo: seu pai e sua mãe.
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