Retiro Popular na Quaresma de 2017

Neste tempo propício da Quaresma, somos convidados a uma atitude de conversão do coração. Neste contexto, é-nos particularmente cara a mensagem oferecida à humanidade em Fátima. Apresentando o olhar de esperança e de misericórdia com que Deus nos olha, somos encorajados a não nos deixarmos vencer pela indiferença que banaliza o mal, mas a deixar que o nosso coração se identifique com Cristo e a assumir a sua atitude de compromisso diante da vida.” É assim que D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, apresenta esta proposta de retiro popular para esta Quaresma de 2017.

TEMA 4

Compaixão – Vida e espiritualidade da Beata Jacinta Marto

 

Breve contextualização
Certa vez, quando a Jacinta voltava a casa com os rebanhos, vinha no meio ovelhas com um cordeirinho ao colo e a Lúcia perguntou-lhe porque vinha assim. «Para fazer como Nosso Senhor» (MIL, p. 44), respondeu-lhe ela.
Jesus «viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor» (Mc 6, 34); e a pastorinha queria ser como o Bom Pastor. Um dos traços mais marcantes da vida da Jacinta é o seu desejo de «fazer como Nosso Senhor», de se configurar com Jesus na sua compaixão pela humanidade sofredora. São muitos os exemplos desta compaixão que a leva a desejar e interceder pela cura e a salvação de todos, a rezar e sacrificar-se pelos que mais precisavam, a oferecer a Deus toda a sua dor pela conversão dos pecadores.
À luz da compaixão de Jesus que atende a prece de quem a ele se confia, escutemos um exemplo de como a Jacinta se compadece de quem sofre e intercede por elas.

Leitura das Memórias da Irmã Lúcia (MIL, p. 56-57)
Encontrou-nos um dia uma pobre mulher e, chorando, ajoelhou-se diante da Jacinta a pedir-lhe que obtivesse de Nossa Senhora a cura de uma terrível doença. A Jacinta, ao ver de joelhos, diante de si, uma mulher, afligiu-se e pegou-lhe nas mãos trémulas para a levantar. Mas vendo que não era capaz, ajoelhou também e rezou com a mulher três Ave-Marias; depois, pediu-lhe que se levantasse, que Nossa Senhora havia de curá-la. E não deixou mais de rezar todos os dias por ela, até que, passado algum tempo, tornou a aparecer para agradecer a Nossa Senhora a sua cura.
Outra vez, era um soldado que chorava como uma criança. Tinha recebido ordem de partir para a guerra e deixava a sua mulher em cama, doente, e três filhinhos. Ele pedia ou a cura da mulher ou a revogação da ordem. A Jacinta convidou-o a rezar com ela o Terço. Depois disse-lhe:

– Não chore. Nossa Senhora é tão boa! Com certeza faz-lhe a graça que lhe pede.

E não esqueceu mais o seu soldado. No fim do Terço rezava sempre uma Ave-Maria pelo soldado. Passados alguns meses, apareceu com sua esposa e seus três filhinhos para agradecer a Nossa Senhora as duas graças recebidas. Por causa de uma febre que lhe tinha dado na véspera de partir, tinha sido livre do serviço militar e sua esposa, dizia ele, tinha sido curada por milagre de Nossa Senhora.

Leitura do Evangelho segundo São Mateus (Mt 20, 29-34)
Quando iam a sair de Jericó, uma grande multidão seguiu Jesus. Nisto, dois cegos que estavam sentados à beira da estrada, ao ouvirem dizer que Jesus ia a passar, começaram a gritar: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de nós!» A multidão repreendia-os para os fazer calar, mas eles gritavam cada vez mais: «Senhor, Filho de David, tem misericórdia de nós!» Jesus parou, chamou-os e perguntou-lhes: «Que quereis que vos faça?» Responderam-lhe: «Senhor, que os nossos olhos se abram!» Dominado pela compaixão, Jesus tocou-lhes nos olhos. Imediatamente recuperaram a vista e seguiram-no.

TÓPICOS PARA A MEDITAÇÃO

Parar, chamar, perguntar…

Jesus escutou os clamores daqueles cegos, mesmo quando muitos os queriam abafar. Deixou que eles interrompessem a sua caminhada: para, chama-os, dá-lhes atenção, acolhe-os na realidade das suas vidas e sofrimentos.
A Jacinta fará levantar aquela mulher depois de se ajoelhar a seu lado, de rezar com ela, de a escutar, acolhendo-a na sua dor. Escuta o pedido daquele soldado, deixa que as suas lágrimas possam ser derramadas a seu lado.

  • Deixar que o outro, na sua dor ou fragilidade, não passe indiferente a nosso lado, é o primeiro passo da compaixão. Como reajo diante de situações de dor ou sofrimento? Procuro estar atento, dar tempo, escutar aqueles que precisam de ajuda?

 

Deixar-se dominar pela compaixão

O coração e Jesus é dominado pela compaixão, sofre com quem sofre, partilha da dor da humanidade.Ao querer imitar Jesus, também a Jacinta de todos se compadece: aqueles que lhe pedem orações, mas também dos que vivem afastados de Deus. E nunca esquece o Santo Padre.

  • Procuro dar lugar no meu coração não apenas aos que me são próximos, mas também às dores e necessidades da Igreja e de toda a Humanidade?

 

Dar frutos de compaixão

A compaixão de Jesus traduz-se em gestos de cura, que levam os cegos ao seguimento, num caminho de vida nova, de salvação.
A Jacinta não se limita a consolar as pessoas que dela se aproximam: reza com elas e por elas, não as esquece, sacrifica-se, oferece a sua vida, procura que todos encontrem a bondade de Deus.

  • Quais são os frutos de compaixão que já reconheço presentes na minha vida? O que posso fazer mais? Rezo habitualmente pelos outros, sobretudo pelos que mais sofrem? Ofereço a Deus os pequenos ou grandes sacrifícios?

 

 

in Retiro Popular Quaresma 2017: “Eu nunca te deixarei”
Diocese Leiria-Fátima