Neste tempo propício da Quaresma, somos convidados a uma atitude de conversão do coração. Neste contexto, é-nos particularmente cara a mensagem oferecida à humanidade em Fátima. Apresentando o olhar de esperança e de misericórdia com que Deus nos olha, somos encorajados a não nos deixarmos vencer pela indiferença que banaliza o mal, mas a deixar que o nosso coração se identifique com Cristo e a assumir a sua atitude de compromisso diante da vida.” É assim que D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, apresenta esta proposta de retiro popular para esta Quaresma de 2017.
TEMA 6 – Fidelidade e missão
Vida e testemunho de Lúcia de Jesus
Breve contextualização
O acontecimento de Fátima faz-se não somente da voz vinda diretamente do Céu, mas ainda do mistério da vida dos três videntes – do Francisco, da Jacinta e da Lúcia –, três crianças cuja fidelidade aos apelos do Anjo e de Nossa Senhora continua a ser um dos mais sérios motivos de credibilidade do acontecimento em si. Ao olhar para as suas vidas não é difícil reconhecer como se tornaram veículo da mensagem revelada, ao ponto de neles podermos encontrar uma breve síntese dessa mesma mensagem.
Lúcia, foi a escolhida para dar voz aos encontros com a Senhora, a eleita para «ficar cá mais algum tempo», a prolongar no tempo a mensagem que fazia querer amar mais os Corações de Jesus e Maria: «Tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração». A Lúcia comentará, alguns anos mais tarde: «Era a missão que Deus me destinava; mas o ficar sem a companhia da Jacinta e do Francisco parecia-me o ficar só neste mundo tão incerto e deserto, sem quem me possa seguir, compreender, ajudar e compartilhar».
O chamamento que nos é feito traz muito de exigência, mas não menos de capacidade para o cumprirmos. À luz dos testemunhos de tantos que são escolhidos por Deus para serem seu sinal, escutemos o relato da aparição da Senhora que confia à Lúcia a sua missão:
Leitura das Memórias da Irmã Lúcia (MIL, p. 175-176)
Dia 13 de Junho de 1917 – Depois de rezar o terço com a Jacinta e o Francisco e mais pessoas que estavam presentes, vimos de novo o reflexo da luz que se aproximava (a que chamávamos relâmpago) e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira, em tudo igual a Maio.
– Vossemecê que me quer? – perguntei.
– Quero que venhais aqui no dia 13 do mês que vem, que rezeis o terço todos os dias e que aprendam a ler. Depois direi o que quero.
Pedi a cura dum doente.
– Se se converter, curar-se-á durante o ano.
– Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu.
– Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-Se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração.
– Fico cá sozinha? – perguntei, com pena.
– Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.
Foi no momento em que disse estas últimas palavras que abriu as mãos e nos comunicou, pela segunda vez, o reflexo dessa luz imensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco parecia estarem na parte dessa luz que se elevava para o Céu e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora, estava um coração cercado de espinhos que parecia estarem-lhe cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação.
Leitura do Livro do Profeta Jeremias (Jer 1, 4-10)
A palavra do SENHOR foi-me dirigida nestes termos:
«Antes de te haver formado no ventre materno,
Eu já te conhecia;
antes que saísses do seio de tua mãe,
Eu te consagrei e te constituí profeta das nações.»
E eu respondi: «Ah! Senhor DEUS,
eu não sei falar, pois ainda sou um jovem.»
Mas o SENHOR replicou-me:
«Não digas: ‘Sou um jovem’.
Pois irás aonde Eu te enviar
e dirás tudo o que Eu te mandar.
Não terás medo diante deles,
pois Eu estou contigo para te livrar»
– oráculo do SENHOR.
Em seguida, o SENHOR estendeu a sua mão,
tocou-me nos lábios e disse-me:
«Eis que ponho as minhas palavras na tua boca;
a partir de hoje, dou-te poder sobre os povos e sobre os reinos,
para arrancares e demolires,
para arruinares e destruíres,
para edificares e plantares.»
TÓPICOS PARA A MEDITAÇÃO PESSOAL
A oferta da sua vida a Deus
«Vossemecê que me quer?», perguntava a Lúcia, em nome dos três pequenos pastores, ao encontrar-se com a Senhora vinda do Céu, na Cova da Iria. Marca de quem já queria viver entregue à vontade de Deus, Lúcia dispõe o seu coração para o que o Senhor, por meio de Sua Mãe, quer dela. Também Jeremias porque se dispõe ao encontro com o Senhor, O escuta e é enviado em missão. É do encontro que se parte para o anúncio. Só do encontro pode existir anúncio fecundo.
- De que forma cuido a minha relação com Deus? Quando vou ao Seu encontro pergunto-Lhe o que quer de mim, ou simplesmente lhe falo do que quero eu para mim?
Para difundir uma mensagem recebida
Ao ouvir os planos que Deus tinha para ele, Jeremias sente-se ainda demasiado jovem para tal missão, mas Deus replica e aponta-lhe um caminho novo, para ir por onde o Senhor lhe enviar, para dizer tudo o que Ele lhe mandar. Sabemos pelo desenrolar da história de Jeremias que o anúncio da mensagem por Deus recebida trouxe uma enorme exigência entre aqueles a quem lhe era pedido pregar.
Também Lúcia, no esforço de fidelidade à sua missão, teve muitas contrariedades e incompreensões. A mensagem que Lúcia custodia e que ao mesmo tempo oferece à Igreja e ao mundo é uma mensagem de esperança e misericórdia para um século emaranhado no drama do sofrimento, da dor e do mal, com todos os desafios que isso acarretou.
- E eu, de que forma reajo às contrariedades que brotam do facto de procurar viver em fidelidade à minha missão? Deixo-me abater facilmente ou procuro segurar-me na promessa do Céu que hoje me volta a dizer: «Eu nunca te deixarei»?
Em comunhão plena com a Igreja
Tal como Jeremias, Lúcia experimentou na sua vida a presença de um Senhor que vigia perto do mensageiro, para que a Palavra se cumpra, para que a promessa se realize. Uma presença que reclamou fidelidade e obediência. É essa a via que Lúcia escolhe para si: a de uma obediência ao sim dado e à Igreja por onde esse seu sim vai sendo concretizado, na pessoa dos bispos, dos seus superiores e finalmente na pessoa do Papa.
Para Lúcia, o Papa – qualquer Papa – é sempre o Vigário de Cristo, o doce Cristo na terra, segundo a expressão de Catarina de Sena. Pelo Papa, Lúcia oferece toda a oração e os sacrifícios que pode.
- De que forma eu me sinto implicado na história da Igreja de Cristo? Lembro-me do Papa, rezo por ele? Procuro ser fiel ao que a Igreja vai indicando?
in Retiro Popular Quaresma 2017: “Eu nunca te deixarei”
Diocese Leiria-Fátima
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