Ressuscitou! Feliz Páscoa!

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo João
(Jo 20, 1-9)

“No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro”. Tudo começa no escuro, não apenas no sentido físico, mas também espiritualmente. “Não sem razão o evangelista diz: ‘quando ainda estava escuro’, designando, pelo estado do tempo, o estado da mente, na qual pairavam as trevas da dúvida. Por isso, diz o Sl 81, 5: ‘Não conheceram, nem entenderam: andam nas trevas'” [1]. Os Apóstolos, para se purificarem, tiveram que passar pela escuridão da fé. Durante toda a sua vida terrena, Nosso Senhor pregou, fez milagres e prodígios, tentando suscitar a fé no coração daqueles homens, mas esta era, antes da Paixão, uma fé muito incipiente, motivada por razões humanas. Mesmo depois, Nosso Senhor, caminhando com os discípulos de Emaús, repreende-os por serem “sem inteligência” e “lentos para crer” (Lc 24, 25).

De fato, na Paixão do Senhor, os discípulos caem, um a um. Judas o trai, Pedro o nega, os outros fogem covardemente. Aos pés da Cruz, alguns parecem permanecer – Maria Madalena e São João, por exemplo –, mas, quando a pedra rola, fechando o túmulo de Cristo, rola outra pedra a sepultar também a fé destes. Maria Madalena, exempli gratia, viu o sepulcro vazio e achou que ele tinha sido violado – algo muito comum na época, fazendo o Imperador Cláudio († 54 d.C.) emitir um decreto no qual condenava à pena capital os autores de tal crime. Ela amava o Senhor, mas seu amor ainda não estava baseado em uma fé sobrenatural. Então, ela “saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava”. Recebendo a notícia, também saíram a correr os dois discípulos. Aqui, porém, embora amorosa e devota, a sua corrida é desesperada e incrédula.

Chegando ao sepulcro, o discípulo amado se inclina para olhar dentro do túmulo, mas não entra. Pedro, chegando depois, entra. “Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou”. Embora tenha acreditado, a fé de João, assim como a dos demais discípulos, ainda dependia de sinais humanos. Tanto que, mesmo após a Ressurreição, eles se reuniram “com as portas fechadas, por medo dos judeus” (Jo 20, 19). A narrativa deste Domingo termina assim: “De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos”.

Segundo a Tradição da Igreja, a pedra do túmulo de Cristo não foi rolada para Jesus sair, mas para os discípulos entrarem. Comentam São João Crisóstomo e Santo Tomás de Aquino:

“O Senhor ressuscitou, jazendo a pedra no sepulcro fechado. Mas, como convinha que outros o comprovassem, o sepulcro foi aberto após a ressurreição, e assim se crê que aconteceu.”

“Como está dito em Mt 28, 2: ‘O anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, removeu a pedra’, de onde se entende que a pedra foi removida não antes de Cristo ressurgir, senão depois. Como Cristo saiu do útero intacto da Virgem não tendo ainda um corpo glorioso, não é surpreendente que, com corpo glorioso, tenha saído do sepulcro. Assim, a pedra foi removida para que, vendo que Cristo não estava no sepulcro, eles cressem mais facilmente em Sua ressurreição.”
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo João
(Jo 20, 1-9)

“No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro”. Tudo começa no escuro, não apenas no sentido físico, mas também espiritualmente. “Não sem razão o evangelista diz: ‘quando ainda estava escuro’, designando, pelo estado do tempo, o estado da mente, na qual pairavam as trevas da dúvida. Por isso, diz o Sl 81, 5: ‘Não conheceram, nem entenderam: andam nas trevas'” [1]. Os Apóstolos, para se purificarem, tiveram que passar pela escuridão da fé. Durante toda a sua vida terrena, Nosso Senhor pregou, fez milagres e prodígios, tentando suscitar a fé no coração daqueles homens, mas esta era, antes da Paixão, uma fé muito incipiente, motivada por razões humanas. Mesmo depois, Nosso Senhor, caminhando com os discípulos de Emaús, repreende-os por serem “sem inteligência” e “lentos para crer” (Lc 24, 25).

De fato, na Paixão do Senhor, os discípulos caem, um a um. Judas o trai, Pedro o nega, os outros fogem covardemente. Aos pés da Cruz, alguns parecem permanecer – Maria Madalena e São João, por exemplo –, mas, quando a pedra rola, fechando o túmulo de Cristo, rola outra pedra a sepultar também a fé destes. Maria Madalena, exempli gratia, viu o sepulcro vazio e achou que ele tinha sido violado – algo muito comum na época, fazendo o Imperador Cláudio († 54 d.C.) emitir um decreto no qual condenava à pena capital os autores de tal crime. Ela amava o Senhor, mas seu amor ainda não estava baseado em uma fé sobrenatural. Então, ela “saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava”. Recebendo a notícia, também saíram a correr os dois discípulos. Aqui, porém, embora amorosa e devota, a sua corrida é desesperada e incrédula.

Chegando ao sepulcro, o discípulo amado se inclina para olhar dentro do túmulo, mas não entra. Pedro, chegando depois, entra. “Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou”. Embora tenha acreditado, a fé de João, assim como a dos demais discípulos, ainda dependia de sinais humanos. Tanto que, mesmo após a Ressurreição, eles se reuniram “com as portas fechadas, por medo dos judeus” (Jo 20, 19). A narrativa deste Domingo termina assim: “De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos”.

Segundo a Tradição da Igreja, a pedra do túmulo de Cristo não foi rolada para Jesus sair, mas para os discípulos entrarem. Comentam São João Crisóstomo e Santo Tomás de Aquino:

“O Senhor ressuscitou, jazendo a pedra no sepulcro fechado. Mas, como convinha que outros o comprovassem, o sepulcro foi aberto após a ressurreição, e assim se crê que aconteceu.” [2]

“Como está dito em Mt 28, 2: ‘O anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, removeu a pedra’, de onde se entende que a pedra foi removida não antes de Cristo ressurgir, senão depois. Como Cristo saiu do útero intacto da Virgem não tendo ainda um corpo glorioso, não é surpreendente que, com corpo glorioso, tenha saído do sepulcro. Assim, a pedra foi removida para que, vendo que Cristo não estava no sepulcro, eles cressem mais facilmente em Sua ressurreição.” [3]
“As faixas de linho deitadas no chão e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte” – objeto da visão de Pedro – são, segundo o ensinamento de São João Crisóstomo [4], um sinal da ressurreição, pois, de fato, se tivessem levado o Seu corpo, não o teriam desnudado; se o tivessem roubado, os ladrões não se preocupariam em enrolar o sudário e colocá-lo em um lugar diferente das faixas, mas teriam tomado o corpo exatamente como se encontrava.

Mas, se a Ressurreição pedia a fé dos discípulos, porque Cristo demonstrou com provas que realmente tinha ressurgido dos mortos? Responde Santo Tomás de Aquino:

“A palavra prova tem dois significados. Às vezes, é chamada de prova qualquer razão que confirme o que era duvidoso. Às vezes, chama-se de prova qualquer sinal sensível que leve à demonstração de alguma verdade. É nesse sentido que também Aristóteles às vezes emprega o termo em suas obras. Tomando prova em seu primeiro sentido, Cristo não demonstrou sua ressurreição aos discípulos com provas, uma vez que essas provas argumentativas deveriam proceder segundo alguns princípios. E se eles não fossem do conhecimento dos discípulos, nada lhes poderia ser demonstrado, porque nada pode ser conhecido a partir do desconhecido. E se esses princípios lhes fossem conhecidos, não transcenderiam a razão humana, e não seriam, então, eficazes para basear a fé na ressurreição, a qual ultrapassa a razão humana, uma vez que os princípios devem ser do mesmo género, como diz o livro I dos Analíticos Posteriores. – Mas, ao dizer: ‘É preciso que se cumpra tudo o que foi escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”, provou-lhes sua ressurreição pela autoridade da sagrada Escritura, que é o fundamento da fé.

De outro lado, se tomarmos o termo na segunda acepção, dizemos que Cristo demonstrou com provas sua ressurreição, porquanto mostrou por meio de alguns sinais de grande evidência que realmente ressuscitara. Por isso, onde se lê: ‘Com muitas provas’, o texto grego, em vez de prova, usa ‘tekmerion’, que significa ‘sinal evidente capaz de provar’.

E Cristo mostrou aos discípulos esses sinais da ressurreição por dois motivos. Primeiro, porque o coração deles não estava preparado para aceitar facilmente a fé da ressurreição. Por isso, ele próprio diz, em Lc 24, 25: ‘Espíritos sem inteligência, corações tardos para crer’, e, em Mc 16, 14, se diz que Cristo ‘lhes censurou a incredulidade e a dureza de coração’. – Segundo, para que, por meio desses sinais que lhes foram mostrados, o testemunho deles fosse mais eficaz, conforme diz 1 Jo 1, 1-2: ‘O que vimos, o que ouvimos, e nossas mãos tocaram, disso damos testemunho’.”

Então, não existem provas apodíticas da ressurreição de Cristo, mas “sinais” que dão testemunho dessa verdade. O crente precisa, pois, dar um passo a mais, o passo da fé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel” (Jo 20, 27), diz o Senhor a São Tomé. Mesmo contemplando Jesus e tendo diante de si as Suas chagas, o apóstolo precisa fazer uma profissão de fé. “Dominus meus et Deus meus! – Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28), diz ele, em seguida. Tomé vê um homem ressurecto, mas crê em Deus que Se fez carne.

Assim, os sinais que os Apóstolos tiveram após a Ressurreição iniciaram a sua fé – diz o Evangelho, sobre o discípulo amado, que “ele viu, e acreditou” –, mas esses sinais, ainda que importantes e necessários, não eram absolutos. Por isso, narra o Evangelista que “eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos”. Os discípulos só chegaram a uma fé pura e realmente sobrenatural depois de Pentecostes, quando o Senhor já não estava mais entre eles, para que se cumprisse a bem-aventurança predita por Jesus: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20, 29).

Na verdade, todos os santos da Igreja precisaram – e precisam – purificar a sua fé, passando pelo que os autores espirituais chamam de “noite escura do espírito”. Nisto, a teologia de Santo Tomás de Aquino e a doutrina mística de São João da Cruz se encontram em plena sintonia. Todos os seguidores de Cristo, para chegar à perfeição, devem sair de uma fé baseada simplesmente em argumentos humanos – tradições familiares, milagres ou fundamentos filosóficos – para dar “um salto no escuro” e lançar-se nos braços de Deus. No caminho da santidade, é o próprio Senhor quem faz abalar-se a coerência entre a fé e a razão, estabelecendo que os justos vivam tão somente da pura fé, como diz São Paulo aos Romanos: “O justo viverá pela fé” (Rm 1, 17).

Santa Teresinha do Menino Jesus, por exemplo, após a sua primeira hemoptise, sinal de sua tuberculose, experimentou uma forte provação, a qual ela descreve com detalhes em sua autobiografia:

“…mas de repente os nevoeiros que me circundam se tornam mais espessos, penetram na minha alma e a envolvem de tal maneira que não me é mais possível encontrar nela a imagem tão doce de minha Pátria, tudo desapareceu!

(…)

Ah! que Jesus me perdoe se O afligi, mas Ele sabe bem que embora não tenha nenhum gozo da Fé, pelo menos procuro fazer as obras. Creio ter feito mais atos de fé desde um ano que durante toda a minha vida. A cada nova ocasião de combate, quando meus inimigos vêm provocar-me, comporto-me bravamente; sabendo que é covardia bater-se em duelo, viro as costas aos meus adversários sem me dignar olhá-los na cara, mas corro para meu Jesus, digo-Lhe estar pronta a derramar até a última gota de meu sangue para confessar que há um Céu.”

A beata Madre Teresa de Calcutá também passou por provações semelhantes, as quais ela mesma descreveu em seus diários. Embora os meios de comunicação tenham questionado a sua fé e até divulgado a hipótese de que ela fosse ateia, esta é uma experiência extraordinária por que passam os santos, até que a sua fé seja completamente moldada pela caridade sobrenatural. Depois de Pentecostes, de fato, os Apóstolos creram em Cristo com muito mais firmeza do que antes, sendo capazes de anunciar a Palavra até os confins do mundo e à custa de suas próprias vidas.

É, pois, verdade e fonte de grande consolação que a fé possa se purificar. Nesse caminho, a alma amante de Cristo vai se configurando a Ele, a ponto de não ser ela mesma a crer, mas o próprio Jesus nela (cf. Gl 2, 20). Peçamos a Deus que Ele nos conduza depressa à “noite escura”, até o dia em que veremos face a face o Seu rosto e não precisaremos mais crer, mas apenas amá-Lo, por toda a eternidade.

 

Fonte: padrepauloricardo.org