Reclusos peregrinam a Fátima para afirmar a dignidade de pessoas anónimas

A Pastoral Penitenciária de Portugal realiza hoje uma peregrinação ao Santuário de Fátima para afirmar a dignidade das “pessoas anónimas” e ajudar a sociedade a tomar consciência da realidade prisional.

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“A possibilidade de reunir alguns reclusos, suas famílias e agentes pastorais é muito importante para ajudar a despertar a sociedade para a realidade das prisões. São pessoas anónimas que estão privadas da liberdade, mas não da sua dignidade”, disse D. Joaquim Mendes, membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social e da Mobilidade Humana, onde se integra a Pastoral Penitenciária.

Para o bispo auxiliar de Lisboa, os estabelecimentos prisionais “são periferias” e é importante realizar esta peregrinação no contexto do Ano da Misericórdia.

A Pastoral Penitenciária de Portugal convidou reclusos, famílias, capelães, assistentes, voluntários para a primeira Peregrinação Nacional ao Santuário de Fátima para agradecer “a visita da imagem peregrina a alguns estabelecimentos prisionais”, refere o padre João Gonçalves, coordenador nacional da Pastoral Penitenciária.

Cerca de 100 pessoas inscreveram-se no programa proposto, mas a peregrinação é mais “abrangente e simbólica”.

“Não nos referimos ao número de presos que estão presentes mas ao simbolismo do ano da Misericórdia que vivemos. Estamos com todos os reclusos”, dá conta o responsável tendo presente os cerca de 14 mil reclusos que cumprem pena em Portugal.

“Fátima fala de oração e penitência. A penitenciária é um momento de forte sofrimento. Os reclusos sabem que os próprios pastorinhos estiveram presos algumas horas e rezaram com os presos. Este é um momento muito forte de eficácia e profundidade na mensagem de Fátima”.

José Bernardo, participante na peregrinação enquanto ex-recluso, traduz o agradecimento a quem o ajudou a “ultrapassar um acidente”.

“O convite foi-me feito por pessoas que me são muito importante e num momento muito difícil. Quero neste momento pedir perdão a algumas pessoas. Estou a recomeçar a minha vida. Nunca estive desintegrado da sociedade. Tive um acidente que pode acontecer a qualquer pessoa; por vezes não temos a maturidade para nos livrarmos de alguns acidentes, alguns provocados por terceiros”, lamenta.

Todos os sábados a religiosa teresiana Fátima Magalhães desloca-se ao estabelecimento prisional de Elvas onde aí desenvolve o projeto «Mateus, 25» de escuta e atendimento pessoal.

Em Fátima, a religiosa quer afirmar o trabalho “enriquecedor” que prossegue junto dos reclusos onde encontra “um Deus escondido e a querer crescer.”

“Não vamos à cadeia bater palmas ou dizer que fizeram bem. Vamos sublinhar que Deus não exclui ninguém da sua misericórdia e que Deus os espera e ama infinitamente. É uma mensagem de paz e de feliz notícia”.

D. Joaquim Mendes quis indicar aos presentes o rosto de “misericórdia e ternura de Deus que Nossa Senhora representa”.

“Nossa Senhora pede aos cristãos que rezem pela transformação do coração, pela conversão e abertura de coração. A mensagem de Fátima está intimamente ligada à misericórdia e mudança de coração”.

Fonte: Agência Ecclesia