Viver é sonhar, é ter esperança de que melhores dias virão, é acreditar que o amanhã é um novo tempo.
Quando caminhamos pelas pedras da vida, vamos dando conta que passamos por pedras polidas, outras mais duras, outras gastas pelo tempo, outras, ainda, cheias de arestas, algumas tapadas pelas ervas e outras cheias de buracos. Estas pedras são as diversas situações com que nos vamos deparando: um casamento de sonho que se desmorona e o sonho que construíram juntos é quebrado e desvanecido; a esposa que sempre foi fiel ao marido, deixou de pensar em si para pensar nele e na família, e descobre que ele tem uma amante; a mãe que dedicou os seus anos aos filhos, viveu em função dos sonhos dos filhos, amou-os, cuidou deles e agora cada um está no seu canto e ela sente-se tão só; um acidente que tirou o movimento das pernas e a vida já não é a mesma; uma situação financeira apertada que surgiu de repente e arrasou a família; o desentendimento continuo entre o casal, que parece que não consegue comunicar, chegar a um acordo e sentem-se esgotados; a morte de um ente querido, a ansiedade de estar em isolamento em casa sem saber quando esta pandemia vai acabar, como será a vida depois disto, entre tantas outras situações.
Todos nós vivemos obstáculos, dificuldades e sofrimentos em etapas diferentes da vida, o que muda é a forma como lidamos com eles. Isto é, perante a situação eu paro e tento pensar numa forma de sair dessa situação; caso a situação não possa ser mudada, eu tento adaptar-me a ela, ver alternativas à minha vida, encaro com optimismo, coragem; ou fico parado nos “porquês”, nos “mas”, nos “e se”, fico preso na negatividade do “não consigo viver assim”, “não sei fazer de outra forma” e bloqueio? Esta última forma de agir é o que leva as pessoas a entrarem numa depressão: vem o abatimento, tristeza profunda, desânimo, deixam de acreditar que é possível haver uma solução ou não conseguem adaptar-se à nova forma de vida. Estas pessoas deixam de ver a beleza da vida e perdem o sentido de viver. Mas o pior…. É que deixam de sonhar!
O sonho mantém o alento interior que nos aquece a alma e impulsiona a avançar. Ter sonhos é acreditar que posso ser feliz, que tenho ainda um “para quê” viver, tenho metas a alcançar. Ter sonhos faz crescer em nós forças sobrenaturais, que surgem de onde não esperávamos e nos levam a levantar em peso o obstáculo que se colocou à nossa frente e acreditar que vamos conseguir (mesmo partindo algum osso ou ficar cheio de dores musculares).
Sonhar é ter esperança no futuro e ansiar pela sua chegada. Como disse um colega meu, muito sábio e cheio de prática clínica: “Marta, as pessoas precisam ter saudades do futuro! Usamos tão mal esta palavra que é tão nossa”. Eu achei fantástico! É isso mesmo, precisamos ter saudades do que ainda não vivemos, exatamente porque ansiamos por vivê-lo.
Ter “saudades do futuro” é o mesmo que sonhar e ansiar pela sua chegada. Quantos sonhos fomos perdendo pelo caminho? Quantos sonhos deixei de lado com medo de não conseguir alcançar? Quantos sonhos pensei que já não seriam adequados para a minha idade? Quantos sonhos deixei de lado com a pandemia e o medo do futuro?
Vamos ter saudades do futuro e sonhar. Deixemo-nos ser crianças novamente, construir sonhos e esperar ansiosamente para que chegue esse dia.
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