Que terreno somos nós?

Neste 12 de julho, a Homilia da Celebração da Palavra presidida pelo recente nomeado Bispo D. Vitorino Soares, Bispo Auxiliar do Porto focou-se essencialmente nas questões que nos fazemos acerca do fim desta pandemia e também da necessidade de verificarmos como está o nosso coração, que tipo de terreno é e que frutos está a dar.

É com profunda gratidão que hoje, aqui em Fátima, me faço peregrino pela primeira vez como Bispo. Obrigado sr. Cardeal D. António Marto, amigo e sábio, pelo convite para presidir a esta peregrinação de 12 e 13 de Julho. Amigo, traduzido no sorriso fácil e gargalhada natural, que não esconde a ninguém; sábio na simplicidade e profundidade das palavras que inspira e no testemunho que cativa e arrasta…

Nesta noite, quero saudar todos vós, que vos fizestes peregrinos e viestes a este Santuário de Fátima, a casa da Mãe. Nesta hora e nestas circunstâncias da pandemia que vivemos, saudamos Maria, nossa Mãe e invocamos a Sua proteção e o seu aconchego maternal.

Pedimos a Nossa Senhora de Fátima, que esta peregrinação de Julho seja momento de graça e misericórdia para todos, de acordo com o tema proposto pelo Santuário para este ano…

Acabamos de escutar a Palavra de Deus.

A primeira leitura de Isaías, diz-nos que a Palavra de Deus é eficaz, fecunda, geradora de vida. À impaciência e dúvidas do povo, o profeta responde que a Palavra de Deus não deixará de ser eficaz.

Também nós hoje nos interrogamos, diante do contexto de pandemia que vivemos e que a todos nos afeta: situações traduzidas pelas incertezas, inseguranças, pela desconfiança, pelo desemprego, pelas dificuldades financeiras, pelo isolamento…

Também nos interrogamos, quando é que isto vai acabar, como será o futuro? O profeta utiliza o exemplo da “chuva e da neve”. “Assim como a chuva e a neve que descem do céu, fecundam a terra e multiplicam a vida nos campos”, assim a Palavra de Deus não deixará de gerar vida no povo de Deus e em cada um de nós.

No Evangelho escutamos a parábola do semeador, onde se descreve o processo desde a sementeira até à colheita, com os diferentes frutos provocados pela semente. O semeador é Cristo, graça e misericórdia são também os seus atributos. No dizer do papa Francisco “Jesus apresenta-se como alguém que não se impõe, mas que se propõe; alguém que nos atrai, não pela conquista, mas pela doação”. Jesus lança a semente, espalha com paciência e com generosidade a Sua Palavra, uma semente que pode dar frutos. Porém por mais poderosa que seja essa Palavra, não atua automaticamente. Só poderá dar frutos se a acolhermos.

Por isso a parábola diz respeito sobretudo a cada um de nós. Ela fala mais do terreno, do que do semeador. Esse terreno é o coração de cada um.

Que terreno somos nós? Que frutos estamos a dar? O importante é que a Palavra de Deus encontre um bom terreno, um bom coração. Não um coração insensível e indiferente. Não um coração inconstante e superficial. Não um coração preenchido apenas pelas coisas materiais, pelas riquezas.

Mas um coração bom, que dá bons frutos.

Que Maria, Nossa Senhora de Fátima limpe e purifique o nosso coração, de tudo aquilo que sufoca a Palavra. Ela que foi a mulher atenta da escuta da Palavra nos ajude a ter um coração semelhante ao seu coração imaculado, todo e por inteiro para Deus, para que a semente que é a Palavra de Deus também produza frutos na nossa vida “ora cem, ora sessenta, ora trinta por um”. E frutos, são boas ações, que sejam para benefício de todos e não apenas para benefício pessoal, porque cada um precisa do outro, “todos precisamos de todos” e todos precisamos de Jesus Cristo, o semeador que torna fecundo e bom o coração de cada um.

Nesta noite, agradeçamos a Maria, nossa Mãe, o estarmos juntos, o estarmos em sua casa, a sua ternura, o seu amor materno.

Nesta noite, confiemo-nos a Maria, nossa Mãe como verdadeiros filhos. Nesta noite, invoquemos Maria, nossa Mãe para que o nosso coração acolha a grande palavra que é o Seu Filho, Jesus; e interceda por cada um de nós, pelas nossas famílias e pelo mundo.