Reflita o sinal da cruz sob o ponto de vista histórico e teológico
É hábito de nós cristãos começarmos o nosso dia, nossas orações e afazeres com o sinal da cruz. Com certeza, você já fez esse sinal muitas vezes, mas, talvez, o faça sem saber o que está fazendo, ou ainda, nunca parou para pensar sobre seu real significado. Vejamos, então, do ponto de vista histórico e teológico, os verdadeiros significados do sinal da cruz.
A prática de fazer o sinal da cruz é vivida desde os primórdios da Igreja. Hoje, ela é vivida tanto na Igreja Romana quanto na Ortodoxa. O início de sua prática remonta a um padre da Igreja chamado Tertuliano, que viveu no terceiro século. Nasceu por volta de 160 d.C e morreu em 220 d.C. Em um de seus escritos, chamado ‘De Corona Militis’, encontramos claramente essa prática descrita por ele da seguinte maneira: “Quando nos pomos a caminhar, quando saímos e entramos, quando nos vestimos, lavamo-nos e iniciamos as refeições, quando vamos nos deitar, quando nos sentamos, nessas ocasiões e em todas as nossas demais atividades, persegnamo-nos a testa com o sinal da cruz.”
Outro testemunho do mesmo século é de Santo Hipólito de Roma. Ao falar sobre as práticas dos cristãos, exorta-os da seguinte maneiras: Durante a tentação, fazei piedosamente, na fronte, o sinal da cruz, pois este é o sinal da Paixão reconhecidamente provado contra o demônio, desde que feito com fé e não para vos exibir diante dos homens, servindo eficazmente como um escudo. O adversário, vendo quão grande é a força que sai do coração do homem que serve o Verbo (pois mostra o sinal interior do Verbo projetado no exterior), fugirá imediatamente, repelido pelo Espírito que está no homem. (Tradição dos Apóstolos,42).
Importância do sinal da cruz
Visto estes dois testemunhos acima citados, constatamos que o sinal da cruz teve sua difusão entre os cristãos no primórdio do cristianismo, a partir do século III. Passamos agora para o próximo passo de nossa reflexão, isto é, seus significados, em particular o teológico.
Sendo vários os significados do sinal da cruz, vale elencar os mais importantes. Quando traçamos o sinal da cruz sobre o nosso corpo, estamos afirmando pelo menos três verdades fundamentais de nossa fé: Deus, que é Uno e Trino; a Encarnação de Jesus e Sua Morte na Cruz.
Quando dizemos: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, neste momento professamos a fé na Santíssima Trindade. O sinal da cruz que fazemos, que começa na cabeça, depois desce para o estômago, logo em seguida eleva a mão para o ombro direito; depois, seguida também para o esquerdo, indica duas realidades. A primeira: quando fazemos o gesto, a começar na cabeça e descendo ao estômago, estamos declarando nossa fé na Encarnação de Jesus por meio do ventre de Maria Santíssima. Segunda: este mesmo sinal, se você observar, é feito em forma de cruz no nosso corpo, “assinala a marca de Cristo naquele que vai lhe pertencer e significa a graça da redenção que Cristo nos proporcionou por sua cruz”. (Catecismo, n.1235).
O que diz o Catecismo da Igreja Católica?
Diz ainda o Catecismo da Igreja Católica que, “quando o cristão começa seu dia, suas orações e suas ações com o sinal da cruz – “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”, ele dedica a jornada à glória de Deus e invoca a graça do Salvador, que lhe possibilita agir no Espírito como filho do Pai. O sinal da cruz nos fortifica nas tentações e nas dificuldades”. (Catecismo, n. 2157).
Existem ainda aqueles significados populares: a cruz na testa é para Deus nos livrar de todos os maus pensamentos. Na boca, é para nos livrar das más palavras. No peito, para Deus nos livrar das más ações. Todos esses significados têm sua validade, desde que compreendido dentro de seu contexto.
Professor Felipe Aquino, no livro sobre os sacramentos, apresenta o significado litúrgico do sinal da cruz. “A cruz na testa lembra que o Evangelho deve ser entendido, estudado, conhecido; a cruz nos lábios lembra que o Evangelho deve ser proclamado, anunciado (missão de todo cristão); e a cruz no peito, à altura do coração, indica-nos que o Evangelho, acima de tudo, deve ser vivido, pregado e testemunhado por todos os que acreditam na ressurreição de Cristo. Também o cristão, que for fazer a proclamação e leitura da Boa Nova, fazer a cruz na leitura do Evangelho a ser lido, indicando com isso que cada palavra pronunciada seja um despertar para cada cristão ser luz e sal para o mundo.
Em suma, o sinal da cruz jamais pode ser feito de maneira supersticiosa, pelo contrário, deve ser colocado em seu devido lugar a partir de seu significado teológico. Visto todos esses belíssimos significados do sinal da cruz, a partir de agora, com certeza, nós o faremos de maneira diferente, isto é, com mais fé e devoção.
- Primeiro dia do funeral marcado pela trasladação do corpo de Bento XVI para a Basílica de S. Pedro - 3 de Janeiro, 2023
- Legado teológico de Bento XVI está a ser traduzido para português - 3 de Janeiro, 2023
- Canonista explica protocolo do funeral de Bento XVI - 2 de Janeiro, 2023