A primeira edição crítica das “Memórias” da Irmã Lúcia, apresentada hoje em Fátima, leva os leitores ao encontro dos escritos originais da vidente, um percurso com novidades e “surpresas” para a curadora da obra.
“Até ao momento da vinda para Fátima desses originais não tínhamos ideia exatamente do que eles eram. Da quinta e da sexta memória, por exemplo, a Lúcia só entregou ao santuário fotocópias”, referiu Cristina Sobral, em entrevista à Agência ECCLESIA.
A docente e investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, curadora da obra, adianta que entre as novidades se conta a publicação inédita do texto de um questionário de 315 perguntas enviadas pelo Santuário de Fátima à religiosa e a divulgação da chamada “quinta memória” numa versão que “não estava publicada”, com “variantes”, a partir do manuscrito que estava no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra.
“Não quer dizer que sejam coisas de grande dimensão, que alterem a Mensagem de Fátima. Não vale a pena esperar isso, são pequenas coisas que podem ter imenso interesse para os estudiosos da escrita e para os estudiosos da cultura”, assinala.
Estes pormenores mostram o universo mais íntimo da vidente, dos seus tempos de criança no ambiente rural da Cova da Iria, no início do século XX.
“Sobretudo aquilo que nos mostra o universo infantil e rural da Lúcia, a sua linguagem da altura, a maneira como ela dizia as coisas, as banalizações que ela fazia”, explicou Cristina Sobral.
A edição crítica inclui a terceira parte do chamado terceiro segredo de Fátima, sem que tenha sido encontrado “absolutamente nada de novo” em relação ao que já foi publicado.
“Para querer ver ali qualquer coisa escondida é preciso muita imaginação”, sustenta Cristina Sobral, que teve o manuscrito original nas suas mãos, quando este veio do Vaticano.
A apresentação desta nova edição das “Memórias” da Irmã Lúcia, que reúne os seis escritos deixados pela vidente de Fátima, teve lugar durante o 24º Congresso Mariológico Mariano Internacional, que está a decorrer no Santuário.
Cristina Sobral aludiu a algumas expressões de oralidade que eram caraterísticas de Lúcia mas que “não estão nas outras edições porque foram normalizadas, corrigidas”.
“O facto de em determinado momento ela dizer ‘estou para aqui a falar sem rei nem roca’. A expressão é ‘sem rei nem roque’ mas ninguém sabe o que é o roque [movimento do xadrez] e ela evidentemente também não sabia”, exemplificou a investigadora.
Ao contrário das outras edições das “Memorias”, em que “muitas coisas de sintaxe, marcas do discurso oral, aspetos de expressividade do discurso da Lúcia desapareceram”, neste caso optou-se por seguir mais a estrutura dos manuscritos originais, corrigindo apenas “os erros que são lapsos da Lúcia, que ela própria teria corrigido, caso se tivesse apercebido deles”.
“Ela aliás corrigia imenso, os manuscritos estão cheios de borracha azul, isso é uma coisa engraçada, hoje em dia conservam-se no dorso do livro os bocados da borracha que ela usou”, ilustra Cristina Sobral.
Os primeiros quatro textos das Memórias foram escritos em Tuy entre 1935 e 1941 e foram publicados na íntegra pela primeira vez em 1973, mas parcialmente já tinham sido tornados públicos em 1938.
As duas últimas memórias são escritas entre 1989 e 1993 no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra.
“Do ponto de vista do conteúdo, não vejo diferença nenhuma entre as memórias do primeiro ciclo, as quatro primeiras, e as duas últimas”, sublinhou a investigadora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
A partir de 1976, a irmã Lúcia assistiu à publicação de todas as suas “Memórias”; atualmente, este livro vai na sua 17.ª edição.
Fonte: Agência Ecclesia
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