Bispo do Porto mostrava-se preocupado com «novas formas» de pobreza e defendeu reforço do poder local
O bispo do Porto, que faleceu ontem na Casa Episcopal da diocese, aos 69 anos, concedeu este sábado a que viria a ser a sua última entrevista, propondo um “caminho de serviço” da Igreja à sociedade.
“A ação sociocaritativa da Igreja é a capacidade de lermos a realidade e de escutarmos o mundo, também a disponibilidade para darmos resposta às novas formas de pobreza”, referia D. António Francisco dos Santos, que tinha assumido recentemente a presidência da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.
O bispo do Porto falou da necessidade de atenção aos mais pobres, às famílias e ao reforço do poder local.
“A Igreja tem de estar muito presente nesta vanguarda da Missão”, defendeu.
D. António Francisco dos Santos propunha a capacidade de conjugar esperança e realismo, para unir esforços na resolução dos problemas, sem o “idealismo de um otimismo fácil”
“Não podemos esquecer aqueles que mais precisam, os que mais sofrem, aqueles em que ninguém pensa”, sublinhava, elogiando a liderança do Papa Francisco neste campo.
“Quando temos vontade de fazer o bem e nos unimos para o fazer em conjunto, conseguimos dar respostas reais aos problemas reais”, acrescentou.
O bispo do Porto refletia sobre a necessidade de reforçar o poder autárquico, para “construir um Portugal melhor”.
“O serviço dos autarcas, quando realizado com tónica e dimensão de serviço – se há exceções, são exceções que confirmam a regra – revelam-nos que aqueles que servem a causa pública nas autarquias são aqueles que mais próximos de nós estão, que conhecem melhor a realidade, e que têm no horizonte o desejo do serviço do bem público”, precisava.
Neste sentido, apontava o dedo à “burocracia” e à lentidão da administração central, que atrasam soluções, o que “prejudica e torna difícil a vida das populações”, pedindo aos responsáveis nacionais que não se limitem a visitar as populações “extemporaneamente”.
“Devemos cada vez mais fazer uma grande reforma da administração central e da administração regional e local”, apelava.
Num dia que foi de festa para a Diocese do Porto, com mais de 30 mil pessoas em peregrinação ao Santuário de Fátima, o bispo não deixou de olhar para problemas como a falta de capacidade de “dar respostas” na manutenção dos trabalhos ou no aumento dos salários, sendo a Igreja Católica umas das “maiores empregadoras” da área do Porto.
“Há muito a fazer no interior da Igreja, no campo laboral, também”, admitiu, convidando a comunidade católica a “denunciar-se a si própria quando não é capaz de viver aquilo que a Doutrina Social da Igreja propõe e impõe”.
O responsável lamentava a falta de atenção para situações em que as famílias são “fragilizadas” na sua vida, pedindo uma maior “proximidade” por parte das comunidades católicas pela “família no seu todo”
Para o futuro, propunha capacidade de “diálogo, de abertura e de presença”, respeitando os avanços da Ciência e os “caminhos novos da Cultura”, sem abdicar de “valores que são sagrados e perenes”.
“Temos um longo percurso de 20 séculos que se abre aos tempos futuros”, indicava.
O falecido bispo era natural de Tendais, no Concelho de Cinfães (Diocese de Lamego) e foi ordenado padre em dezembro de 1972.
D. António Francisco dos Santos foi nomeado bispo do Porto em fevereiro de 2014, sucedendo a D. Manuel Clemente; foi também bispo de Aveiro e auxiliar na Arquidiocese de Braga.
Fonte: Agência Ecclesia
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