Por que os homens pensam mais em sexo que as mulheres?

Os homens pensam mais em sexo que as mulheres. Será?


É tido como senso comum pensar que sexo é um assunto mais presente no mundo masculino que no feminino, imaginar que os homens falam mais sobre o tema, que pensam mais nisso e, consequentemente, praticam-no mais. Há inclusive algo no imaginário coletivo que funciona como uma proteção desse comportamento entre os homens, afirmando que é da natureza deles precisar mais de sexo, que os hormónios e a biologia masculina estão mais voltados para a prática sexual e que isso deve ser reconhecido. Aliás, muitas mulheres também levantam essa bandeira em defesa da tal natureza masculina, justificando comportamentos inadequados, invasivos, abusivos e até traições.

A realidade é que os homens, por possuírem seu órgão sexual externo, são acostumados, desde cedo, a ver o próprio pénis e identificar que isso é parte da sua constituição natural. Quotidianamente, manipulam seu órgão no momento de urinar, acompanham seu desenvolvimento desde a infância, fazem brincadeiras de comparação de tamanhos com os amiguinhos e até competem para ver quem esguicha o xixi mais longe, como que numa disputa de competência e poder.

Diferença entre o feminino e o masculino
O universo feminino é completamente oposto, a começar pelo biotipo da mulher. Seu órgão genital é interno, não é necessário manipular-se para o momento de urinar, as meninas não costumam olhar para as vulvas umas das outras e, às vezes, a descoberta de algumas funcionalidades do seu sistema reprodutor acontece apenas quando ocorre a primeira menstruação. Essa descoberta vem acompanhada de cólicas e sangramentos mensais, que são sintomas geralmente desconfortáveis e restritivos.

Assim, se para os meninos os assuntos de ordem sexual eram tidos como interessantes e prazerosos, para as meninas a situação muda um pouco: dores menstruais e desconfortos com os absorventes, impossibilidade de aproveitar a piscina e inúmeros avisos na escola sobre os “riscos de gravidez” passam a fazer parte do universo rosa.

Existe também a questão de como são diferentes as manifestações de excitação para os meninos e as meninas. Para o homem, fica evidente a ereção quando algo o estimula sexualmente, passando a ser exposto e, consequentemente, passível de ser conversado entre os amigos. Para as mulheres, existe a lubrificação, que é interna; consequentemente, ninguém a vê. Percebe como a possibilidade de falar sobre sexo entre os homens é maior que entre as mulheres?

Diferenças biológicas
Dadas as diferenças biológicas, temos também muita interferência cultural na criação de meninas e meninos. Houve uma época em que as mães orientavam suas filhas a, após o banho, não passarem muito a toalha na vulva para não haver estimulação no local. Já na criação masculina havia a prática de pais que levavam os seus filhos para terem a primeira experiência sexual em prostíbulos, acreditando que, assim, fariam de seus filhos homens completos.

Ambos os comportamentos foram permeados por certa dose de medo e falta de informação, que acabavam por apresentar a sexualidade para meninas e meninos de maneira distorcida, superficial e maliciosa, ou até como sendo algo sujo, impuro, que não deveria ser relacionado, de forma alguma, com o prazer.

Com isso, a mulher passou por gerações sendo proibida de permitir-se a entrega e o envolvimento total na relação com o parceiro, crendo que sua função dentro do sexo era restritamente procriativa, e que era reservado apenas ao homem o benefício do prazer e satisfação no ato sexual.

Educação sexual
Com o passar do tempo, o acesso às informações ampliou-se, e assuntos antes tidos como tabus começaram a ser amplamente discutidos, como é o caso do sexo. Assim, referências ao sexo como sendo algo ruim, sujo, demoníaco ou pernicioso começam a mudar aos poucos, possibilitando tratar o sexo como algo bom, saudável, bonito e muito importante na vida de um casal.

Particularmente, acredito que esse processo de mudanças está ocorrendo aos poucos e alguns movimentos estão sendo vistos timidamente, pois vivemos ainda em uma sociedade pouco informada e um tanto machista. De qualquer forma, é de fundamental importância realizar uma educação sexual de qualidade para que mudanças estruturais sejam vistas em todos os âmbitos da sociedade.

A sexualidade na dimensão espiritual
Falando da dimensão espiritual especificamente, temos muitas referências sérias e confiáveis sobre o tema, lembrando que o sexo é algo constituído por Deus e deve ser visto em sua beleza e sacralidade. A questão do prazer no ato sexual é algo tão importante e especial, que o corpo feminino possui um órgão especificamente voltado para o prazer, que é o clitóris. Sim, a única função do clitóris é dar prazer à mulher, e isso deve ser visto com um olhar de beleza e respeito tanto ao corpo feminino como ao ato sexual em si.

É verdade que temos sido expostos a diversos tipos de banalização do corpo humano e do sexo, principalmente do corpo feminino, fazendo com que alguns olhares para o assunto sejam mesmo de julgamentos e restrições. Esse tipo de exposição acaba por reforçar a ideia de que homens pensam mais em sexo; portanto, associar o corpo feminino com a venda de algum produto fará com que o lucro seja maior. Entretanto, o mau uso de algo tão precioso, como vemos na grande mídia, não significa que seja a única forma de enxergar o assunto. Por isso é tão importante uma educação sexual de qualidade: somente com a informação é possível combater a ignorância e os comportamentos desrespeitosos para o ato sexual. É preciso preservar o corpo humano como sendo algo único, que merece ser honrado, protegido de olhares redutivos que enxergam um objeto na pele de um semelhante, entre outras questões como estupros, DSTs, violência doméstica etc.

Pensar sobre sexo é bom, é importante, mas precisa haver qualidade nesse pensamento, tanto para homens como para mulheres. Se a necessidade biológica é de ambos, a responsabilidade para tratar o assunto também é deles. Afinal, somos seres que precisam sentir plenitude em todos os aspectos da nossa vida; e se, por exemplo, pensamos o sexo apenas com a dimensão do corpo e do prazer, estamos agindo como os animais e reduzindo muito algo que é tão amplo, bonito e que merece ser pensado, discutido e praticado com respeito, reverência, seriedade, responsabilidade e, sim, com prazer, no mais amplo sentido da palavra.