PEREGRINAÇÃO INTERNACIONAL ANIVERSÁRIA 12 JUNHO | O Imaculado Coração de Maria

Homilia da Missa, 12 junho, por D. António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu

“Bendito sejais Senhor nosso Deus, criador do céu e da terra!”. Com estas palavras, quero, nesta noite de vigília, de oração, de Eucaristia e de silêncio, abrir o nosso coração pobre, pecador e frágil à grandeza e riqueza que nos vem do Coração materno de Maria.
Só imitando a vida e as virtudes de Maria podemos repetir com gratidão as palavras de louvor que nos vêm do livro de Judite e que Ozias proclama: “Bendita sejas minha Filha pelo Deus Altíssimo, mais do que todas as mulheres da terra. E bendito seja o Senhor nosso Deus, Criador do Céu e da terra”. É um hino que, neste lugar e nesta noite de luz, de oração e de louvor, nos leva a olhar para Maria, a Mãe de Jesus, como Aquela que nos abre a beleza e a riqueza do seu “Coração Imaculado”. Louvemos Maria nesta noite, servindo-nos das palavras da primeira leitura: “Tu és a glória de Jerusalém. Tu és alegria de Israel. Tu és a honra do nosso povo!”. Estas palavras, juntamente com as do salmo responsorial, ajudam-nos a olhar para Maria como a mulher do louvor: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu Espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. Este é também o nosso cântico do Magnificat, que nos leva nesta noite a cantar as maravilhas que Deus faz na sua Igreja, que se renova com Maria e com ela aprende a glorificar o Senhor e a cantar as suas misericórdias em favor do seu povo.

A vós nos confiamos, Mãe de Jesus, Virgem das mãos orantes, Senhora de Fátima vestida de branco, com um manto resplandecente de luz, que, nos caminhos escurecidos da vida, nos procuras, como fizeste com o teu filho Jesus, nas terras da palestina. Mãe, cuida de nós e liberta-nos do pecado e da morte espiritual! “Se a morte reinou pelo pecado de um só homem (…), a graça e o dom da justiça reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo” (1 Rom 5, 12. 17-19). O tema da graça de Deus, da vida nova e do pecado fizeram parte dos diálogos de Nossa Senhora com os pastorinhos. Só um verdadeiro caminho de conversão nos leva a uma vida nova, experiência da graça divina caminho de santidade e de renovação
interior.

O meu coração Imaculado será o teu refúgio. Nossa Senhora mostrou aos pastorinhos o seu Coração ferido e magoado pelos pecados dos homens e pelas infidelidades das nações. Pediu aos pastorinhos oração, penitência e sacrifícios pelos pecadores. Há muitas almas que vão para o inferno porque não há quem reze e se sacrifique por elas. As crianças acolheram com docilidade os pedidos da Senhora. De tudo ofereciam sacrifícios a Deus, mas sentiam o conforto e a compreensão da Mãe de Jesus que os animava e entusiasmava ao dom da fidelidade. Lembremos as palavras da Santa Jacinta, quando, na simplicidade da sua infância, dizia à Lúcia: “Gosto tanto de Nossa Senhora, do Imaculado Coração de Maria”. Na verdade, Maria mostrou-lhe o Seu Coração Imaculado e disse-lhe palavras de esperança e conforto: “O meu Coração Imaculado será o teu refúgio e o caminho que vos há de conduzir até Deus”. Esta manifestação é um ato de confiança e de esperança numa nova humanidade, na experiência de um novo céu e de uma nova terra, que encheu de alegria o coração de São Francisco Marto que à pergunta que Lúcia lhe fez sobre o que gostou mais: “Francisco, de que gostaste mais, foi do Anjo ou de Nossa Senhora?” Ele respondeu: “do que mais gostei foi da luz que Nossa Senhora colocou no nosso coração”. Essa luz era o próprio Deus. A experiência que cada um fez de Nossa Senhora é para nós motivo de busca. A mensagem de Fátima é uma mensagem de amor, de esperança e de paz. O amor é a força do acreditar, apesar da nossa condição de pecadores. Pecar é uma traição ao amor de Deus para connosco.

Nos tempos em que vivemos, as palavras de Nossa Senhora, dirigidas a Jesus no Evangelho, são importantes para tantos pais na relação com os seus filhos. Tantos filhos perdidos que continuam a ser procurados pelos seus pais no meio de dores e aflições. Imensos filhos perdidos em caminhos de miséria e de pecado, de degradação moral, de indiferença humana, de abandono da fé, de individualismo, de experiências de drogas e de isolamento. As palavras dos pais de Jesus que escutámos no Evangelho continuam atuais no nosso tempo e desafiam-nos também a deixarmos este lugar de Fátima procurando imitar Jesus que “crescia em sabedoria, estatura e em graça”.

Somos convidados a viver um tempo novo com Maria, a Estrela da Nova Evangelização, a Mãe de Cristo e da Igreja, a Mãe que acolhe a prece dos seus filhos. Nós que, nesta noite, imploramos e aclamamos a nossa querida Mãe, que nos mostrou o seu Coração ferido e magoado pelos pecados dos homens, somos chamados a ser bons samaritanos junto dos irmãos caídos à beira dos caminhos. A termos compaixão pelos que sofrem, aprendendo com os pastorinhos a fazer o bem para com o nosso próximo. Vejamos como eles sabiam partilhar a sua merenda, aproveitando essa ocasião para oferecerem sacrifícios pelos pecadores. Olhando para o nosso mundo esfacelado por tantas divisões, por tantas pessoas que continuam a abandonar os seus países, fazendo longos percursos humanos para fugirem à perseguição, à fome, à guerra e à falta de condições de vida, queremos olhar para eles como nossos irmãos, pedindo à Virgem Maria, a Senhora das mãos orantes, que cuide deles com um amor de Mãe carinhosa que sabe cuidar de nós neste vale de lágrimas.
Nesta noite, Mãe, contemplando a tua imagem coroada com o ouro e a prata, a arte e a filigrana, emoldurada de pedras preciosas que as mulheres de Portugal te ofereceram como sinal da sua fé e gratidão, no simbolismo da bala que atingiu, na Praça de São Pedro em Roma, o “Bispo vestido de Branco”, São João Paulo II, queremos, ó Mãe, como filhos, consagrar-nos ao teu amor, acreditando que no Céu continuas a cuidar de nós.
Ensina-nos o concílio Vaticano, quando fala de Nossa Senhora no Capítulo VIII da Lumen Gentium: “Com seu amor de mãe, cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam e se debatem entre perigos e angústias, até que sejam conduzidos à Pátria feliz. Por isso, a Santíssima Virgem é invocada na Igreja com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira” (LG 62). Somos felizes ao acreditar que, na glória do Pai, Maria continua a interceder pelos irmãos de Seu Filho, por todos aqueles que nesta noite depositamos no seu coração de Mãe. Como filhos, entregamos ao Seu Coração Imaculado a nossa vida, o futuro da Igreja e da humanidade em busca dos dons da salvação eterna. Amen!