Peregrinação de agosto de olhos postos nos migrantes é presidida pelo cardeal Jean-Claude Hollerich

Arcebispo do Luxemburgo presidiu a esta peregrinação em agosto de 2013, no primeiro ano do pontificado do Papa Francisco

A peregrinação aniversária de agosto, que assinala a quarta aparição de Nossa Senhora aos três videntes, a única fora da Cova da Iria, nos Valinhos, também conhecida como a `Peregrinação dos Emigrantes´, é presidida pelo arcebispo do Luxemburgo, o cardeal Jean-Claude Hollerich, que dirige atualmente a Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece).

Aos 61 anos de idade foi o primeiro luxemburguês a fazer parte do Colégio Cardinalício e recebeu a notícia em Portugal, quando se encontrava de férias. Mantém com a comunidade portuguesa uma relação de grande proximidade e não será a primeira vez que preside em Fátima a uma peregrinação aniversária. Em agosto de 2013, presidiu a esta mesma celebração no recinto de oração da Cova da Iria, tendo na ocasião escrito um texto para o jornal Voz da Fátima intitulado “Ser estrangeiro”.

No artigo publicado na edição de setembro, o arcebispo do Luxemburgo refletiu sobre a dupla condição do migrante, estrangeiro na terra de adoção , mas também `estrangeirado´ na terra onde nasceu.

“Queridos irmãos e irmãs, vós conheceis esta experiência de vida; é a vossa vida! Vós, os vossos pais, todos vós partistes de Portugal para dar uma vida melhor à vossa família, para poderdes ganhar a vossa vida. A emigração é uma experiência que nos muda sempre”, adiantava o prelado cujo enfoque das homilias se centrou na família, porventura o ente que mais sofre com a migração.

A peregrinação de agosto, desde 1973 é considerada como a `Peregrinação dos Emigrantes´ e, desde essa altura, a Igreja a partir de Fátima tem refletido sobre a condição do migrante.

A voz da Fátima e os Migrantes

A edição de setembro de 1973 do jornal Voz da Fátima, noticiava a opção da Igreja: “de há muitos anos que a peregrinação de Agosto era especialmente da diocese de Leiria. Mais recentemente, o fenómeno da migração fez com que nesta peregrinação participasse grande número de emigrantes, não só de diversas regiões da diocese mas também de vários pontos do pais. Este facto fez pensar aos responsáveis eclesiásticos em dedicar a peregrinação de Agosto aos emigrantes em gozo de férias nas diversas paróquias e reservar a peregrinação no Santuário da diocese de Leiria para outra época do ano. Certamente por esta razão, notou-se a presença de muitos milhares de emigrantes”.

Desde essa altura, a peregrinação de agosto passou a ser o tema da manchete da Voz da Fátima nos meses de setembro, abordando temas candentes relacionados com a emigração, nomeadamente a integração dos migrantes, o acolhimento ou o direito ao trabalho digno, centrando naturalmente a problemática nos três milhões de portugueses que na altura (1983) viviam fora do país, por variadas razões.

10 anos depois, em agosto de 1993, D. Teodoro Faria, bispo do Funchal e então Presidente da Comissão Episcopal para a Mobilidade Humana, presidiu à peregrinação de agosto e a Voz da Fátima titulava: “Peregrinação Nacional dos Emigrantes em Fátima, Igreja levanta a voz a favor dos emigrantes”, sublinhando que o prelado tinha proposto o reconhecimento de um estatuto especial para os migrantes nas sociedades de acolhimento. Depois de apontar os grupos de pessoas aos quais devemos estender a caridade cristã – “ emigrantes, refugiados, nómadas, e todas aquelas minorias que parecem perturbar a quietude e a ordem estabelecidas”-  o bispo do Funchal afirmou que “o preceito de caridade não tem em conta as antipatias pessoais: não distingue a cor, a raça, a nacionalidade, a religião, nem mesmo tem em consideração se a pessoa é boa ou má, benévola ou ingrata”. E, prosseguia: “muitas pessoas, mesmo cristãs, participam dos preconceitos, convicções e sentimentos hostis ao estrangeiro que invadem parte da comunidade europeia. Foram contaminadas pelo medo”.

Em 2003, o bispo francês de Créteil apelou à integração dos emigrantes. No seu entender, “esta mistura de raças, culturas e tradições cristãs é uma fonte de vitalidade incomparável e de muitas alegrias comuns”.

A inclusão e a fraternidade são, de resto dois temas da mensagem deste ano do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, que se assinala a 26 de setembro, mas que a Obra Católica Portuguesa para as Migrações (OCPM) recupera para a sua peregrinação anual a Fátima.

A Peregrinação Nacional dos Migrantes

A 49ª Semana Nacional de Migrações realiza-se de 8 a 15 de agosto, sob o tema “Rumo a um nós cada vez maior”, e tem na participação na Peregrinação Internacional Aniversária de agosto o seu coração.

“O Coração desta semana é a Peregrinação de 12 e 13 de agosto, que decorrerá com as condicionantes conhecidas, pelo segundo ano consecutivo não haverá vigília noturna. Os peregrinos terão acesso limitado, por isso acredito que muitos estarão unidos pelo coração e acompanharão pelos meios de comunicação social, com a mesma intensidade”, refere Eugénia Quaresma a presidente do organismo católico.

“É tempo de reconstruir a partir de um tempo forte de Espiritualidade como aquele que nos oferece este Santuário, altar do mundo, onde sentimos que temos Mãe a quem confiar as nossas angústias, chorar as nossas mágoas, retemperar as nossas energias, renovar a nossa esperança”, esclarece ainda.

Nos materiais divulgados para esta Semana Nacional encontra-se a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, na qual o Santo Padre desafia as comunidades católicas a ir “ao encontro das periferias existenciais”.

Num vídeo publicado para o efeito, afirma: “Hoje a Igreja é chamada a ir ao encontro das periferias existenciais, para curar os feridos, procurar os perdidos, sem preconceitos ou medo, sem proselitismo, para ampliar a sua tenda para acolher a todos”.

Com o tema ‘Rumo a um “nós” cada vez maior’, Francisco lembra que “estamos todos no mesmo barco e somos chamados a empenhar-nos para que não existam mais muros que nos separam, nem existam mais os outros, mas só um nós, do tamanho da humanidade inteira”.

Na Peregrinação de Agosto, a que acorrem milhares de emigrantes de férias em Portugal, existe ainda um ritual que este ano completará o seu 81º aniversário e que consiste na entrega de trigo a Nossa Senhora, no momento do ofertório da missa do dia 13 de agosto, uma prática iniciada pelos paroquianos de Leira, da Acção Católica.

Para esta peregrinação, ainda a decorrer em contexto de pandemia,  estão inscritos quatro grupos: dois de Espanha, um da Polónia e outro da Alemanha.

As regras de segurança mantém-se no Santuário de Fátima devendo ser observado o distanciamento físico entre peregrinos que não provenham do mesmo agregado familiar; o uso obrigatório da máscara e a frequente higienização das mãos. As entradas e saídas dos espaços estão assinaladas pelo que devem ser observadas as várias indicações sinaléticas.

A peregrinação inicia-se no dia 12 com a recitação do Rosário, às 21h30; segue-se a Procissão das Velas e depois a celebração da Palavra no altar do recinto. No dia 13, às 9h00, haverá de novo a oração do Rosário e às 10h00 a Missa, com a tradicional Palavra ao Doente que será proferida pela diretora da Obra Católica das Migrações, Eugénia Quaresma. A Peregrinação termina com a Procissão do Adeus.

Fonte: Santuário de Fátima