Bem, vou falar sobre o Amor!
Sobre o amor parece que todo mundo sabe um pouco, não é mesmo? Cada qual tem uma teoria. Uns dizem: “O amor é o sentimento mais profundo que existe”, outros ainda: “Por amor se faz loucuras”, “o amor é cego”, “o amor é trouxa”. O que se ouve é gente falando de amor.
E música, então? É o que há! Amor que começa e termina, amor que é para sempre ou que “seja eterno enquanto dure”, amor que trai, que abandona; amor que bate, que apanha, e por aí vai. Dizem: “Tudo se faz por amor!” Será? Será que é assim? É tão pequeno um amor que tem fim.
O amor de que fala a Bíblia possui muitos atributos
A Bíblia diz: “Deus é Amor” (1Jo 4,8). E ainda: “O Amor jamais acabará” (1Cor13,8a). E o Amor que quero falar é este, é neste que eu acredito. E é este Amor que entendo não como sentimento, mas como Alguém, como uma pessoa. Nós vamos falar d’Ele, do Amor.
São Paulo afirma: “O Amor é paciente, é bondoso. Não tem inveja. O Amor não é orgulhoso, não é arrogante nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor jamais acabará” (1Cor 13,4-8a).
O Amor é uma pessoa
Esse Amor, que é vivido na vida das pessoas comuns, entre pais e filhos, entre marido e mulher, sogra e genro, avô e neto, patrão e empregado, entre vizinhos, colegas de classe e de trabalho, entre amigos e irmãos, é desse amor que estamos falando. Esse amor é, essencialmente, diferente daquele apresentado nas telenovelas ou filmes. Muitas vezes, está impregnado nas nossas mentes como o modelo de amor verdadeiro.
Não! Não estou falando desse amor com “a” minúsculo das telenovelas. Que de tão pequeno não preenche nem o espaço destinado a ele. É tão fluido, tão líquido, que se esvai por entre os dedos. Esse amor é substantivo. Eu quero falar do Amor que é verbo. Sim! O Verbo encarnado no meio de nós, que veio nos ensinar que toda a Lei só tem sentido no Amor que supera toda a Lei, como vemos no relato do Bom Samaritano (Lc. 10,25-37). O amor vai além da obrigação, dá de si, do que é seu.
Amar comporta entrega
Como disse, estou falando de Alguém, de uma pessoa, e essa Pessoa ensina que o Amor é contrário ao egoísmo, porque ser egoista é fechar-se em si mesmo, por não ser capaz de abrir mão de si, de ter razão, dar opinião, ter ponto de vista, espaço, direito. Fala-se que o amor é contrário ao ódio, mas o ódio, sim, é sentimento, é controlável, passa. Egoísmo, não! Egoísmo é fechamento, barreiras, dificuldade, divisão, separação e, por fim, destruição.
Por isso, quero falar desse Amor nos relacionamentos. Do Amor que não se fecha, mas que se dá por inteiro. Esse Amor que estamos falando aqui, é do tipo que assume como sua a culpa de um outro, que morre para si, que dá a vida. O Amor que se deixa crucificar!
Quero falar do Amor que faz uma esposa desejar ardentemente uma simples massagem ou um pouco mais de descanso, mas que abre mão para que o marido vá ao futebol. E do marido que desiste do futebol para lavar a louça da esposa, que passou o dia trabalhando em casa e não deu conta de tudo. Só por Amor!
As diversas faces que o amor possui
Esse Amor que descobre os gostos do outro só para surpreender de vez em quando. Amor do pai pelo filho, que fica sem dinheiro o mês todinho para ter o gosto de dar aquele presente que o filho sonhou. Amor que precisa chamar a atenção do filho com mais firmeza e que, escondido, chora, porque não queria errar na dose.
Amor que diz ‘não’ quando é preciso, mesmo que doa. Amor que ajuda o colega nas suas dificuldades. Amor que chega antes e sai por último. Amor que abraça, que cura, perdoa, mas corrige, dá limites. É desse Amor que eu estou falando. Não que eu seja a melhor ou a superentendida no assunto! Estou falando para lembrar, para não o deixar esquecer nem me esquecer que o Amor é uma pessoa e tem um nome: Jesus.
O desafio de amar, o desafio de viver o amor
Para mim, não há outro significado, não há outro conceito. Viver esse Amor, todos os dias, é o grande desafio, porque o “amor genérico” é bem mais barato, custa quase nada, “vende sem receita”, é oferecido nos postes. Desse amor se aceita devolução: estragou? Troca! É fácil. E se ficar difícil, abandona, joga fora.
Amor de verdade é do Pai e do Filho, que derrama dons, Amor que transborda. Diz o Catecismo: “Deus foi o primeiro a amar” (CIC 2083). É desse que eu estou falando. É esse que venho nos recordar e propor como regra de vida.
Por ora, só lhe apresentei o Amor em teorias, em exemplos que podem ou não se concretizar nas nossas vidas. Mas o Amor que eu acredito não vive de teoria, o Amor é gesto, é Palavra, Ele não se esgota; e quanto mais se doa, mais cresce. Esse Amor, sendo Palavra, foi verbo, foi ação, mas não para em si mesmo. Esse Amor é modelo de vida. Ele ensina: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,12). Como dizia Chiara Lubich: “Nada que é feito com Amor é pequeno”. E como poderia se o Amor é infinito? Sim, Ele é o princípio e o fim de tudo (Ap 22,13).
As últimas consequências do amor
Não se trata “do quê” ou do tamanho do gesto que se faz, mas do “com quê”. Com que Amor estou fazendo isso ou aquilo? Dizia São João da Cruz: “Onde não existe amor, coloca amor e amor encontrarás”.
O Amor é o próprio sentido de todas as coisas. Ele é seta, indica a direção. O Amor não nos deixa perdidos. Ao contrário, ele vem ao nosso encontro, quer ficar conosco, habitar no meio de nós. Ele não tem limites, é capaz de tudo e vai até as últimas consequências para salvar o amado. Como estou falando de uma pessoa, posso dizer que, neste caso, o Amor é verbo, é sujeito e seu próprio substantivo, porque o Amor está cheio senão de amor.
O amor de Pai
Por isso, ao ler esse texto simples, mas literalmente cheio de amor, peço ao Senhor, o Deus de Amor, que derrame sobre ti um batismo de amor. Que o faça recordar o quanto és amado por Ele, e quantas pessoas existem neste mundo que o amam. Que te recorde não só o sentimento, mas a certeza de fé que o Amor é uma Pessoa e essa pessoa troca reinos por ti, deu a vida por ti, pagou por ti com Amor e por Amor um alto preço e te faça experimentar essa alegria que é própria daqueles que sabem que são amados: filhos amados. A carta de São João afirma: “Vede que imenso amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos tratados como filhos de Deus” (1Jo 3,1).
Que este Amor do Pai por ti cure você de toda falta de amor de pai, de mãe, família, relacionamento, que o Amor do Pai revele de tal modo o teu valor que nenhum outro amor te interesse tanto. E que a tua vida fique cheia, transbordante do desejo de ser também tu um sinal do Amor no mundo, na sua casa, no trabalho, na família, na sociedade. Amém.
Carla Picolotto
Missionária da Comunidade Canção Nova
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