Na tarde de sábado, 3 de junho, o Papa Francisco presidiu a Vigília ecumênica de Pentecostes no Circo Máximo, em Roma, no âmbito das celebrações do Jubileu de Ouro da Renovação Carismática Católica. Eis seu pronunciamento na íntegra:
“Queridos irmãos e irmãs, obrigado pelo testemunho que vocês dão hoje, aqui. Nos faz bem a todos, faz bem também a mim, a todos!
No primeiro capítulo do Livro dos Atos dos Apóstolos lemos: “E comendo com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem o cumprimento da promessa de seu Pai, que ouvistes, disse ele, da minha boca; porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui há poucos dias.”
“Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” Este é o texto, a passagem do Livro dos Atos.
Hoje estamos aqui como em um Cenáculo a céu aberto, porque não temos medo: a céu aberto e também com o coração aberto à promessa do Pai. Estamos reunidos “todos nós crentes”. Todos aqueles que professam que “Jesus é o Senhor”. “Jesus é o Senhor”.
Muitos vieram de diversas partes do mundo e o Espírito Santo nos reuniu para estabelecer ligações de amizade fraterna que nos encorajam no caminho rumo à unidade, a unidade para a missão, não para estar parados, não! Para a missão, para proclamar que Jesus é o Senhor: “Jesus é o Senhor”; para anunciar juntos o amor do Pai por todos os seus filhos! Para anunciar a Boa Nova a todos os povos! Para demonstrar que a paz é possível, mas não é tão fácil demonstrar isto no mundo de hoje que a paz é possível, mas em nome de Jesus podemos demonstrar com o nosso testemunho que a paz é possível! Mas é possível se nós estamos em paz entre nós; mas se nós aguçamos as diferenças, estamos em guerra entre nós, não podemos anunciar a paz. A paz é possível a partir da nossa confissão que Jesus é o Senhor e da nossa evangelização por este caminho. É possível. Mesmo demonstrando que temos diferenças: mas isto é óbvio! Temos diferenças, mas que desejamos estar em diversidade reconciliada. Eis, esta palavra, não a esqueçam e digam ela a todos: “diversidade reconciliada”. E esta palavra não é minha, não é minha. É de um irmão luterano. “Diversidade reconciliada”.
E agora estamos aqui e somos muitos! Nos reunimos para rezar juntos, para pedir a vinda do Espírito Santo sobre cada um de nós para sair nas ruas da cidade e do mundo e proclamar o senhorio de Jesus Cristo.
O Livro dos Atos afirma: “”Partos, medos, elamitas; os que habitam a Macedônia, a Judéia, a Capadócia, o Ponto, a Ásia, a Frígia, a Panfília, o Egito e as províncias da Líbia próximas a Cirene; peregrinos romanos, judeus ou prosélitos, cretenses e árabes; ouvimo-los publicar em nossas línguas as maravilhas de Deus!” (At 2,9-11). Falar a mesma língua…escutar, entender – entender! – que existem diferenças, mas o Espírito Santo que nos faz entender a mensagem da ressurreição de Jesus na nossa própria língua.
Estamos reunidos aqui, fiéis provenientes de 120 países do mundo, para celebrar a soberana obra do Espírito Santo na Igreja, que começou há 50 anos e deu início…a esta instituição? Não. A esta organização? A uma corrente de graça, à corrente de graça da Renovação Carismática Católica. Obra que nasce…católica? Não. Nasce ecumênica! Nasce ecumênica porque é o Espírito Santo que cria a unidade e é o mesmo Espírito Santo que dá a inspiração para que fosse assim! É importante ler as obras do Cardeal Suenens sobre isto: é muito importante!
A vinda do Espírito Santo transforma homens fechados por causa do medo em corajosos testemunhos de Jesus. Pedro, que havia renegado Jesus três vezes, repleto da força do Espírito Santo proclama: “Que toda a casa de Israel saiba, portanto, com a maior certeza de que este Jesus, que vós crucificastes, Deus o constituiu Senhor e Cristo.” (At 2,36). E esta é a profissão de fé de cada cristão! Deus constituiu Senhor Cristo, aquele Jesus que vocês crucificaram ou que foi crucificado: estão de acordo com esta profissão de fé? (respondem: sim!) É a nossa, todos, todos, será a mesma!
A Palavra segue dizendo: “Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um”. Vendiam: ajudavam os pobres; realmente havia alguns espertos – pensemos em Ananias e Safira; mas sempre existem. Mas todos os fiéis, a maioria, se ajudavam. “Unidos de coração frequentavam todos os dias o templo. Partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e cativando a simpatia de todo o povo. E o Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam a caminho da salvação.”
A comunidade que crescia, e havia o espírito que inspirava. Gosto tanto de pensar no Apóstolo Felipe, quando o Anjo disse a ele: “Segue pelo caminho de casa e encontre aquele prosélito, ministro da economia da Rainha da Eritréia – ou da Etiópia – Candace; havia um prosélito e lia Isaías. E explicou a Palavra a ele, proclamou Jesus e ele se converteu. E em um determinado momento… “mas, tem água: quero ser batizado”. Era o Espírito Santo que impelia Felipe a ir lá e foi desde o início o Espírito a impelir todos os fiéis a proclamar o Senhor…..
Escolhemos nos reunir aqui, neste lugar, – o disse o Pastor Traettino – porque aqui, durante as perseguições, foram martirizados cristãos, para o divertimento daqueles que assistiam.
Hoje existem mais mártires. Cristãos! Aqueles que matam os cristãos, antes de mata-los, não perguntam a eles: “Mas, tu és ortodoxo? Tu és católico? Tu és evangélico? Tu és luterano? Tu és calvinista?”. Não! “Tu és cristão?”, e degolam imediatamente. Hoje existem mais mártires do que nos primeiros tempos. E este é o ecumenismo de sangue: nos une o testemunho de nossos mártires hoje.
Em diversos lugares do mundo o sangue cristãos é derramado! Hoje é mais urgente do que nunca a unidade dos cristãos, unidos por obra do Espírito Santo, na oração e na ação pelos mais fracos. Caminhar juntos, trabalhar juntos. Nos amar-nos. Nos amar-nos. E juntos, tentar explicar as diferenças, colocar-se de acordo, mas em caminho: isto é verdade. Porque o Espírito nos quer em caminho.
50 anos de Renovação Carismática Católica. Uma corrente de graça do Espírito! Por que corrente de graça? Porque não tem nem fundador, nem estatutos, nem órgãos de governo. Claramente nesta corrente nasceram múltiplas expressões que, certo, são obras humanas inspiradas pelo Espírito, com vários carismas, e todas a serviço da Igreja. Mas não se pode colocar diques na corrente, nem se pode fechar o Espírito Santo em uma gaiola!
Passaram-se 50 anos. Quando se chega a esta idade, as forças começam a decair: a metade da vida…Na minha terra dizemos: “el…(expressão em espanhol), as rugas tornam-se mais profundas – a menos que tu te maquies, mas existem rugas – os cabelos grisalhos aumentam e se começa a esquecer algumas coisas…
50 anos é um momento da vida apropriado para parar e fazer uma reflexão. É o momento da reflexão: a metade da vida. E eu diria a vocês: é o momento para seguir em frente com mais força, deixando para trás a poeira do tempo que deixamos acumular, agradecendo por aquilo que recebemos e enfrentando o novo com confiança na ação do Espírito Santo”
O Pentecostes faz nascer a Igreja. O Espírito Santo, a promessa do Pai anunciada por Jesus Cristo, é Ele que faz a Igreja: a esposa do Apocalipse, uma única esposa – disse o Pastor Traettino. O Senhor tem uma esposa!
O dom mais precioso que todos recebemos é o Batismo. E agora o Espírito nos conduz no caminho da conversão que atravessa todo o mundo cristão e que é um motivo a mais para que a Renovação Carismática Católica seja um lugar privilegiado para percorrer o caminho rumo à unidade!
Esta corrente de graça é para toda a Igreja, não somente para alguns, e ninguém de nós é o “dono” e todos os outros servos! Não! Todos somos servos desta corrente de graça.
Junto a esta experiência, vocês recordam continuamente à Igreja o poder da oração de louvor. Louvor que é a oração de reconhecimento e ação de graças pelo amor gratuito de Deus. Pode acontecer que este modo de rezar não agrade a alguém, mas é certo que se insere plenamente na tradição bíblica. Os Salmos, por exemplo: Davi que dançava diante da Arca da Aliança, cheio de júbilo… E por favor, não caiamos – por favor – no comportamento de nos tornar cristãos com o complexo de Mico, que se envergonhava de louvar o Senhor na pessoa de Davi.
Júbilo, alegria, fruto da mesma ação do Espírito Santo! O cristão experimenta a alegria em seu coração ou há algo que não funciona. A alegria do anúncio da Boa Nova do Evangelho!
Jesus na Sinagoga de Nazaré lê a passagem de Isaías: “O espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção; enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade; proclamar um ano de graças da parte do Senhor”. O alegre anúncio: não esquecer isto. O alegre anúncio: a núncio cristão sempre é alegre.
O terceiro documento de Malines, “Renovação Carismática e Serviço ao Homem”, escrito pelo Cardeal Suenens e por Dom Helder Câmara, é claro: renovação carismática e serviço ao homem.
Batismo no Espírito Santo, louvor, serviço ao homem. As três coisas estão indissoluvelmente unidas: Batismo no Espírito santo, louvor – oração de louvor – serviço ao homem. Estão unidas. Posso louvar de forma profunda, mas se não ajudo os mais necessitados não basta. “Nenhum entre eles tinha necessidade” (At 4,34), dizia o Livro dos Atos.
Não seremos julgados pelo nosso louvor, mas por aquilo que fizemos por Jesus: “Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Responderá o Rei: – Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.” (Mt 25,39-40).
Queridas irmãs, queridos irmãos, desejo a vocês um tempo de reflexão, de memória das origens; um tempo para deixar para trás todas as coisas juntadas pelo próprio “eu”, e transformá-las em escuta e acolhida jubilosa da ação do Espírito Santo, que sopra onde e como quer!
Agradeço a Fraternidade Católica e a ICCRS pela organização deste Jubileu de Ouro, por esta Vigília. E agradeço a cada um dos voluntários que tornaram possível a sua realização, muitos dos quais se encontram aqui. Quis saudar os membros do staff do Escritório quando cheguei, porque sei que trabalharam muito! E não a pagamento, hein! Trabalharam muito! A maioria são jovens de diversos continentes! Que o Senhor os abençoe muito!
Agradeço em particular pelo fato que o pedido que fiz a vocês há dois anos para dar à Renovação Carismática Mundial um único serviço internacional baseado aqui tenha começado a concretizar-se nos Atos Constitucionais deste novo único serviço. É o primeiro passo, e a este se seguirão outros, porém logo a unidade, obra do Espírito Santo, será uma realidade. “Eu faço novas todas as coisas”, diz o Senhor (Ap 21,5).
Obrigado, Renovação Carismática Católica, por aquilo que vocês deram à Igreja nestes 50 anos! A Igreja conta com vocês, com a vossa fidelidade à Palavra, a vossa disponibilidade ao serviço e no testemunho de vidas transformadas pelo Espírito Santo!
Compartilhar com todos na Igreja o Batismo no Espírito Santo, louvar o Senhor sem parar, caminhar juntos com cristãos de diversas Igrejas e comunidades cristãs na oração e na ação pelos mais necessitados. Servir os mais pobres e os enfermos, isto espera de vocês a Igreja e o Papa!”
Fonte: news.va
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