A comunidade internacional está chocada com a situação na Bielorrússia, marcada por protestos reprimidos violentamente e sanções. Esta situação foi agravada porque o país foi duramente atingido pela crise da COVID-19. Nas circunstâncias actuais de incerteza e tensão, também a minoria católica está a sofrer as consequências das medidas repressivas. O caso do Arcebispo de Minsk, D. Tadeusz Kondrusiewicz, atraiu a atenção internacional quando durante alguns meses foi impedido de regressar à Bielorrússia depois de ter criticado a liderança política do país.
A Fundação Pontifícia Internacional Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) conversou com o presidente da Conferência Episcopal da Bielorrússia, D. Aleh Butkevich, sobre o trabalho da Igreja que, apesar das dificuldades, continua a servir a população e sobre como a situação actual oferece uma boa oportunidade para o diálogo ecuménico. O bispo está à frente da Diocese de Vitebsk, no norte da Bielorrússia, desde 2014. A entrevista foi conduzida por Maria Lozano.
Fundação AIS: A Bielorrússia está a atravessar uma crise sem precedentes. Como é que a Igreja procura estar ao lado do povo neste momento?
Diante dos processos em curso na sociedade, a Igreja deve reagir e não pode ficar indiferente – afinal, a maioria das pessoas envolvidas nesses processos também são membros da Igreja. Por isso, a Igreja tenta chegar aos seus corações apelando para que trabalhem pela paz e pela reconciliação, bem como iniciar um diálogo que resolva os problemas. Oferecemos todas as formas de assistência possíveis: apoio espiritual, psicológico e, por vezes, também material, para quem se encontra em situações particularmente difíceis.
O trabalho da Igreja está a ser obstruído?
Em princípio, a situação de crise não dificultou nem limitou gravemente o serviço da Igreja, excepto as restrições à difusão das celebrações litúrgicas e, em alguns casos, de um maior controle oficial das actividades de alguns padres e paróquias.
Como se sentem os fiéis em relação à situação actual?
A situação actual criou uma motivação adicional para intensificar a oração e, muitas vezes, reconsiderar os pontos de vista sobre o relacionamento com Deus e com os outros. Em geral, essas situações frequentemente conduzem ao aprofundamento da fé.
Qual foi o impacto da pandemia COVID-19 na Bielorrússia e o que a Igreja fez para aliviar as consequências?
Como em qualquer outra parte do mundo, a pandemia COVID-19 afectou negativamente a vida pública e a situação económica na Bielorrússia. A Igreja foi uma das primeiras instituições a reagir ao início da pandemia. Tomamos precauções e montamos postos de desinfecção nas igrejas, implementamos a obrigatoriedade do uso de máscaras durante a Missa e aderimos a práticas de distanciamento social. Posteriormente, foram organizados projectos para ajudar as organizações médicas a adquirirem os equipamentos de protecção e prevenção necessários. Além disso, aumentamos o número de transmissões online das celebrações litúrgicas. A Fundação AIS ajudou-nos imediatamente a implementar estas medidas.
A maioria dos habitantes da Bielorrússia pertence à Igreja Ortodoxa. Como descreveria o relacionamento entre as Igrejas? Existe um ecumenismo consolidado, também em relação às questões sociais?
As relações com a Igreja Ortodoxa são pacíficas, mas também com representantes de outras confissões e religiões. Na maioria dos casos, especialmente ao nível das relações pessoais, como no interior das famílias de confissões mistas, diria que são amigáveis. As diferenças entre as confissões ou religiões praticamente desaparecem quando se trata de salvar pessoas. Portanto, desse ponto de vista, a pandemia pode ser vista, em certa medida, como um factor que une mais do que divide as pessoas.
Muitos padres católicos na Bielorrússia vêm do exterior, por exemplo, da Polónia. Isso constitui algum problema, por exemplo, na obtenção de vistos? Existem barreiras linguísticas nas paróquias?
A maior parte dos nossos sacerdotes já são da Bielorrússia; mas ainda estamos longe de poder dispensar a ajuda de padres estrangeiros. Estamos especialmente gratos aos padres polacos pelo seu trabalho abnegado no nosso país durante muitos anos. De facto o seu trabalho é dificultado porque têm que solicitar periodicamente – uma vez por ano ou mesmo a cada seis meses – uma autorização para realizar o seu trabalho pastoral. Existe sempre a possibilidade destas licenças serem negadas sem nenhum motivo e sem ser dada nenhuma explicação. Quanto à questão da língua, não há problema. Não existem barreiras linguísticas com o clero estrangeiro.
Como pode a Igreja Católica universal expressar a sua solidariedade para com o povo da Bielorrússia?
A Igreja Católica já apoia a Bielorrússia, principalmente com as orações de muitas ordens religiosas, congregações, paróquias e muitas pessoas a nível individual. Acima de tudo, agradecemos a oração e a lembrança do Papa Francisco, que está preocupado com o que está a acontecer no nosso país. Esta comunhão espiritual é um apoio essencial para nós na situação actual. A representação da Santa Sé na Bielorrússia está a tentar, por via diplomática, ajudar a população nestas circunstâncias difíceis a conseguir uma solução pacífica para a crise do nosso país e a influenciar positivamente a comunidade internacional.
Gostaria de deixar alguma mensagem aos benfeitores da Fundação AIS?
Antes de mais nada, gostaria de manifestar a todos os benfeitores da AIS um profundo agradecimento pelo seu apoio ao longo de muitos anos, tanto na restauração de edifícios religiosos como na ajuda às paróquias e congregações religiosas para a realização do seu trabalho. Sem essa ajuda no âmbito pastoral e social, não estaríamos onde estamos hoje. Da nossa parte, asseguramos-vos a nossa contínua oração para pedir a Deus que retribua a vossa bondade e abertura de coração..
Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal
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