Francisco defende, em entrevista, que dinheiro das armas sirva para «salvar vidas»
O Papa Francisco defende, numa entrevista divulgada hoje pelo Vaticano, que a pandemia vai deixar marcas permanentes na sociedade, afirmando que “o mundo nunca mais será o mesmo”.
“Dor e sombras derrubaram as portas das nossas casas, invadiram os nossos pensamentos, atacaram os nossos sonhos e programas. E, assim, hoje ninguém se pode dar ao luxo de sentir-se confortável. O mundo nunca mais será o mesmo”, refere, numa conversa com o vaticanista italiano Domenico Agasso.
A entrevista vai dar origem ao livro ‘Deus e o mundo que virá’ (Edizioni Piemme-LEV), que chega às bancas italianas esta terça-feira.
Nas passagens da conversa divulgadas hoje pelo portal ‘Vatican News’, Francisco sublinha que a crise mostra a necessidade de usar o dinheiro da indústria do armamento para salvar vidas.
“Não podemos suportar que continuem a ser fabricadas e traficadas armas, gastando um capital enorme que deveria ser usado para curar pessoas, salvar vidas. Já não é possível fingir que não se criou um círculo vicioso dramático entre a violência armada, a pobreza e a exploração insensata e indiferente do meio ambiente”, sustenta.
O Papa reforça o seu apelo em favor de uma fraternidade universal, que una os seres humanos perante os desafios que os ameaçam, globalmente, considerando que a pandemia é “um sinal de alarme sobre o qual o homem é forçado a refletir”.
“O caminho para a salvação da humanidade passa por pensar um novo modelo de desenvolvimento, que considere indiscutível a convivência entre os povos, em harmonia com a criação”, aponta.
Como escreveu na encíclica ‘Laudato Si’ (2015), Francisco propõe uma existência “mais austera”, por entender que esta “possibilitaria uma distribuição justa de recursos”.
A conversa aborda temas ligados à economia e finanças, com críticas à “mentalidade especulativa dominante”.
“No estado em que se encontra a humanidade, torna-se escandaloso continuar a financiar indústrias que não contribuem para a inclusão dos excluídos e a promoção dos últimos, e que penalizam o bem comum poluindo a criação. Estes são os quatro critérios para escolher que empresas apoiar: inclusão dos excluídos, promoção dos últimos, bem comum e cuidado com a criação ”.
O Papa admite que a recuperação pós-Covid “pesa muito” sobre os responsáveis políticos, pedindo que esse esforço seja assumido com honestidade e visão de longo prazo.
“Se aproveitarmos esta prova como oportunidade, podemos preparar o amanhã sob a bandeira da fraternidade humana, à qual não há alternativa, porque sem uma visão geral não haverá futuro para ninguém”, aponta.
Francisco manifesta-se contra a discriminação das mulheres e pede atenção particular às novas gerações, que pagam o preso da cise “económica, laboral, sanitária e moral”.
“Mesmo que a noite pareça não ter fim, não devemos desanimar”, conclui.
Fonte: Agência Ecclesia
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