Homilia, na íntegra, da Missa do dia 15 de dezembro das Exéquias de Padre Jonas Abib, presidida por padre Wedson Duarte
Meus irmãos, minhas irmãs, nós temos vivido este tempo forte da Páscoa, da passagem do nosso pai fundador, Padre Jonas Abib. Dentro deste período, a Liturgia nos convida a viver também o Advento. E, domingo passado, nós celebrávamos o terceiro domingo do Advento, o domingo da alegria. “Alegrai-vos!”: palavra de ordem. E Padre Jonas viveu a sua Páscoa dentro desta terceira semana do Advento, que nos chama exatamente para nos alegrar.
O Evangelho, que nós escutamos hoje, é o início do sermão da montanha, em que Jesus nos fala a respeito das bem-aventuranças. E o que são as bem-aventuranças? Quem é o bem-aventurado? É aquele que é alegre, é aquele que se alegra. Porém, nos parece até um pouco contraditório, porque as bem-aventuranças nos apresentam que os pobres serão os bem-aventurados, os aflitos, os que têm fome, os que têm sede, os perseguidos. Como, então, esses podem se alegrar?
Então, nós entendemos que não há contradição aqui, porque as bem-aventuranças nos conduzem a uma alegria, que não é uma alegria deste mundo, não é uma alegria que nós vamos encontrar aqui. Mas é uma alegria na eternidade. O Evangelho nos fala: “Alegrai-vos e exultai porque será grande a vossa recompensa nos Céus!”.
O caminho de santidade, que Deus nos chama a viver, é onde Ele nos plantou
Os bem-aventurados são aqueles que aguardam esta alegria na eternidade e não aqui. Por isso, aqui, neste mundo, nesta terra, nesta realidade passageira, em que somos peregrinos, podemos ser bem-aventurados; diante da pobreza, da aflição, da fome, da sede, da perseguição e da dor.
Contemplar essas bem-aventuranças precisa incutir em cada um de nós o desejo pela eternidade. Precisa fazer com que cada um de nós nos desprendamos cada vez mais das realidades passageiras e tenhamos como foco, na nossa vida, a vida é eterna, a eternidade junto de Deus. O bem-aventurado está disposto a sofrer todas as consequências que forem necessárias para alcançar a eternidade, para contemplar a face de Deus.
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Padre Jonas era apaixonado por Jesus
E quando nós falamos de busca pela eternidade, de busca pelo céu, de santidade, não tem como falarmos dessas realidades e não lembrarmos de Padre Jonas. Ele foi este homem apaixonado por Jesus, apaixonado pela causa de Jesus; ele tinha como finalidade da sua vida este encontro com Cristo, a vida eterna.
Sabemos que o Padre Jonas sempre pregou a segunda vinda de Cristo; e podemos dizer, sem medo, que foi o maior profeta do Brasil, que anunciava, com vigor e com coragem, a vinda do Senhor. E, quando Padre Jonas anunciava esta vinda do Senhor, não é a vinda pela vinda, mas é por aquilo que a vinda de Cristo causaria em nós, que é exatamente este encontro com Deus. A vida dele ansiava por este encontro, e ele tanto anunciava esta vinda.
Preparar um povo bem disposto para a vinda de Cristo é preparar um povo que vai se encontrar com o Senhor, que vai contemplar esta bem-aventurança, lá na eternidade, é dar esperança para o povo que sofre, que passa pela perseguição, pobreza, aflição; é pregar o batismo do Espírito Santo, onde nos conduz à experiência do Espírito Santo.
Comigo foi assim, e eu não tenho dúvida de que com cada um de vocês também. Depois do batismo no Espírito Santo, o que o nosso coração mais desejava senão ser de Deus? Nos encontrarmos com Deus? Tudo isso que nós vemos que o Padre Jonas tanto anunciava e pregava é reflexo do desejo do coração dele, de ser cada vez mais de Deus, de pertencer a Deus, de ser este bem-aventurado e, mesmo diante das dificuldades das provações, ser este bem-aventurado.
A espiritualidade que Deus o chamou a viver
Meus irmãos, eu tive uma graça muito grande, na minha vida, de viver um período com Padre Jonas, de testemunhar que essa sede do Padre por Deus, pela eternidade, se passava no ordinário da vida dele, no dia a dia. Não havia nada de extraordinário na vida do Padre Jonas, e as pessoas que conviviam e que conheciam ele, há muito mais tempo, podem testemunhar isso. Ele buscava a Deus, desejava constantemente, era apaixonado por Jesus. Vivendo tudo isso no ordinário da vida, na vivência e nas práticas do carisma Canção Nova, que Deus inspirou a ele, na espiritualidade que Deus o chamou a viver. E era ali que ele ia buscando alimentar cada vez mais esse desejo do coração dele.
Recordo-me que, quando o Padre, primeiro período que ficou no hospital, sem forças, enfermo, não conseguiu mais fazer o estudo bíblico, ou seja, estudar a Bíblia. Mas, quando ele voltou a fazer o estudo bíblico, por ter melhorado da saúde um pouco, aquele dia foi festa para ele. A todo mundo que chegava ele falava: “Hoje eu retomei o meu estudo bíblico! Hoje eu retomei o estudo da palavra!”. Coisa simples, nada de extraordinário, acessível a todos nós, mas que ele vivia com fidelidade, com amor, com dedicação. E essa foi a via, irmãos, e eu não tenho dúvida, para que o Padre Jonas alcançasse a santidade, no ordinário, no dia a dia, nas pequenas coisas, o Padre era fiel e perseverante.
O Padre Jonas é este modelo de santidade no dia a dia. Ele me ensinou ainda que esta santidade ou o caminho para alcançá-la está em viver com dedicação, fidelidade, amor, entrega e doação às realidades próprias do lugar onde Deus me plantou. Nós, Canção Nova, não temos outro caminho de santidade senão a vivência do nosso carisma, foi isso que o nosso pai fundador viveu. Nada mais além disso. A vivência do nosso carisma. Podemos admirar, e devemos estudar outras espiritualidades, nos enriquecer delas, mas também olhar o exemplo dele e ver o que o levou à santidade de vida foi a fidelidade ao chamado que Deus fez a ele.
O caminho de santidade que Deus nos chama a viver é onde Ele nos plantou, é na realidade que você se encontra. Casado é na vida de matrimônio; celibatário é como um celibatário; sacerdote de alguma congregação é vivendo aquilo que Deus deu a ele para viver, no dia a dia. Não podemos fugir disso!
Continuar o legado de Padre Jonas
E como o Padre era fiel e buscava com o ardor viver, realidades que, talvez, nós olhamos e falamos: “São tão simples!”. Rezar o terço, estudar a palavra de Deus, mas com que amor ele vivia tudo isso?
E é bonito ver também que o Padre não tinha somente para ele este desejo do encontro com Deus. Sim, era latente, pois qualquer pessoa que passava um instante diante dele, percebia o quanto ele desejava, queria estar com Deus, o quanto ele era apaixonado pelo Senhor. O quanto o Padre Jonas não perdia tempo de levar outras pessoas a este encontro com o Senhor. E toda obra Canção Nova acredito ser fruto deste anseio e desejo dele, de fazer com que os outros também, assim como ele, desejasse o céu, a eternidade.
Eu me recordo que quando o Padre chegou no hospital, que estava na UTI, havia ali as enfermeiras auxiliares que cuidavam, e havia a enfermeira que era responsável. E ela falou para a gente que havia alguma coisa diferente naquele homem. Uma mulher que não tinha noção nenhuma de Igreja, tanto que eu falei, na época para ela, que era seminarista, e ela: “Mas o que é ser seminarista?”; ela não tinha noção nenhuma, mas dizia: “Tem alguma coisa diferente nesse homem”. Ela não sabia que era Padre; e nós fomos falando que ele era o Padre Jonas, o fundador de uma comunidade, e ela foi se interessando por aquilo.
E, quando o Padre Jonas foi sair da UTI para semi-intensiva, tinha um fardo de água Canção Nova, e ele pediu para entregar uma garrafa de água para essa enfermeira e para as outras que estavam ali, como pretexto; e, depois, eu entendi, pois quando elas pegaram a água, agradeceram; e o Padre Jonas falou na UTI: “Eu vou abençoar a água para vocês!”. E aquela bênção de água se tornou um clamor no Espírito Santo, pela vida daquelas enfermeiras, e elas fizeram ali, na UTI, uma experiência com Deus.
Isso é o Padre Jonas, que não perde tempo para conduzir quem for necessário ao encontro com o Senhor. Para mim, fica uma responsabilidade enorme, como Canção Nova, como filho do Padre Jonas, de continuar esse legado, de levar à frente, de fazer com que outras pessoas, nessa mesma ousadia dele, se encontrem com Deus.
Peçamos, irmãos, que este tempo que nós temos vivido, não passe em vão na nossa vida. Digo para nós, Canção Nova, mas digo para todos aqueles que são filhos do Padre Jonas, de uma forma ou de outra, que fizeram uma experiência com ele: não deixe que este tempo forte, que estamos vivendo, passe em branco em sua vida. Precisamos ser melhores, precisamos desejar mais o céu, precisamos estar cada vez mais ligados às realidades eternas, para que aquilo que é passageiro deixe de ter significado para nós.
Que o Senhor nos dê esta graça e nos ajude, assim como o Padre Jonas, a trilharmos, onde Deus nos plantou, no dia a dia, esse caminho de busca de santidade. Louvado seja, nosso Senhor Jesus Cristo!
Transcrição e adaptação: Melody Santos
Assista à Santa Missa de Corpo Presente do Monsenhor Jonas Abib – Padre Wedson Duarte
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