Órgão da Basílica de Nossa Senhora do Rosário volta a ganhar voz

As mãos do músico francês Olivier Latry, organista titular da catedral de Notre Dame de Paris, devolveram este domingo a “voz” ao órgão da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, depois de um prolongado silêncio.

O concerto do organista francês integra a estreia mundial da peça Hû yeshûphekâ rô’sh, do compositor português João Pedro Oliveira, baseada na primeira profecia sobre Maria e é o ponto alto da celebração de inauguração deste instrumento, o maior do género em Portugal, que foi presidida pelo Bispo de Leiria Fátima.

O reitor do Santuário de Fátima salientou a importância deste instrumento que «volta a marcar este espaço tão significativo não apenas do ponto de vista visual, mas sobretudo do ponto de vista musical».

«A motivação primordial para a sua recuperação não foi de ordem patrimonial, mas celebrativa: devolver às celebrações que têm lugar nesta Basílica a beleza e a imponência do órgão de tubos, instrumento musical tradicional da liturgia romana» afirmou o Pe. Carlos Cabecinhas esta tarde nas suas palavras de boas vindas a todos os presentes.

«Foi desejo do Santuário que num momento tão significativo como é a celebração do Centenário das Aparições esta Basílica pudesse contar de novo com o som do seu grandioso órgão», destacou o Reitor.

Segundo o reitor, o culto e a cultura podem conviver no mesmo espaço, e assim «este órgão fica para a posteridade como marca da celebração do Centenário das Aparições de Fátima».

Nesta recuperação «moveu-nos também o desejo de podermos oferecer aos peregrinos que nos visitam momentos de fruição estética, através da música do órgão, com concertos e recitais» pois «um santuário cristão é, além de um lugar de culto, um centro de cultura”, disse ainda.

Durante o ritual de bênção, D. António Marto, bispo da diocese de Leiria-Fátima, afirmou que o reestruturado instrumento «vai contribuir para o enriquecimento da liturgia».

O prelado lembrou, citando Bento XVI, a importância deste instrumento – «o rei dos instrumentos musicais» -, porque «retoma todos os sons da criação e dá ressonância à plenitude dos sentimentos humanos, desde a alegria à tristeza, desde o louvor até à lamentação» o que nos remete de algum modo para «a imensidade e a magnificência de Deus».

A propósito das potencialidades deste instrumento, e da necessidade dos tubos e dos registos deverem formar uma unidade afinada, D. António Marto apelou aos peregrinos de Fátima que quiseram marcar presença neste momento celebrativo do Santuário, que «esta é uma imagem da comunidade na Igreja».

«Como no órgão uma mão perita deve sempre conduzir as desarmonias à reta consonância, assim também na Igreja devemos encontrar, na variedade dos dons e dos carismas, mediante a comunhão na fé, o acorde no louvor de Deus e no amor fraterno» afirmou.

«Quanto mais, através da Liturgia, nos deixarmos transformar em Cristo, tanto mais seremos capazes também de transformar o mundo, irradiando a bondade, a misericórdia e o amor de Cristo pelos homens».

Na Bíblia são muitas as passagens dos Salmos em que se convida a louvar a Deus com o canto e os instrumentos. O Salmo 150 fala de trombetas e flautas, de harpas e cítaras, de cravos e tímpanos, reconheceu por seu lado o compositor da peça que foi estreada hoje.

João Pedro Oliveira diz que este “louvar a Deus” através da “música” foi a sua principal preocupação.

“Todos estes instrumentos musicais são chamados a dar a sua contribuição ao louvor de Deus  e foi isso que eu procurei fazer através do orgão”, disse ainda.

Já para o organista titular deste órgão, João Santos, depois de quatro anos de trabalhos intensos, este foi o culminar de um processo que se transformou numa “oportunidade para devolver a esta magnifica Basílica o instrumento que sempre mereceu, apostando numa renovação sonora e estética, bem como na durabilidade e fiabilidade do sistema de funcionamento, que nos permitirá, assim o esperamos, ter um instrumento para muitas décadas de serviço e de cultura”.

Construído em 1951, pela empresa italiana Fratelli Ruffatti, é o maior instrumento do género em Portugal, com 90 registos e cerca de 6.500 tubos.

A reestruturação foi levada a cabo pela empresa italiana Mascioni Organi, que conservou uma parte considerável da tubaria original mas acrescentou alguns registos com o intuito de conferir ao instrumento uma sonoridade homogénea e moderna.

A consola de cinco teclados e pedaleira foi restaurada e modernizada. O tubo maior, de madeira, tem cerca de 12 metros de altura e 50 centímetros de largura e os tubos de metal, da fachada, têm cerca de oito metros de altura.

A parte frontal deste instrumento foi redesenhada pela arquiteta Joana Delgado, autora do projeto de reformulação do presbitério da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, e conta com uma intervenção artística do escultor português Bruno Marques, autor do crucifixo, bem como das obras de arte que materializam os lugares litúrgicos do presbitério da Basílica. Para a restante caixa foi proposto um revestimento em madeira cuidadosamente desenhado em total articulação com os organeiros da Mascioni Organi. Os eco-órgãos, instalados nas galerias, foram também objeto de um trabalho conjunto na definição estética da solução.

O concerto inaugural foi o primeiro de um ciclo de seis concertos para órgão que se realizam até outubro, no âmbito das comemorações que assinalam o Centenário das Aparições de Nossa Senhora de Fátima, com um repertório criado em diversas épocas, regiões geográficas, estilos e atitudes composicionais variadas. Música alemã, música francesa, música sacra, música contemporânea e hinos marianos aludem a um período de tempo centenário e permitem uma perspetiva abrangente das capacidades expressivas do novo órgão.

O próximo concerto, a 8 de maio, terá como intérprete António Esteireiro que percorrerá a Música alemã dos séculos XIX e XX, incluindo alguns dos grandes clássicos do órgão deste período, e as Ave-Maria de Max Reger e Karg-Elert.

A 5 de junho António Mota apresentará um programa de cem anos de música contemporânea, incluindo a Suite Mariale de Maleingreau.

A 10 de julho, Felipe Veríssimo interpretará um repertório retratando cem anos de música sacra, incluindo a Sinfonia da Paixão de Marcel Dupré, obra emblemática do início do século XX.

A 14 de agosto, Giampaolo Di Rosa fará Improvisações sobre melodias e hinos ligados à tradição de Fátima, que se tornaram parte da tradição litúrgica e popular e são conhecidas pelo público e fiéis, compostos e cantados durante os últimos cem anos. E, a 9 de outubro, João Santos (organista titular do Santuário de Fátima) interpretará cem anos de música francesa, de César Franck a Messiaen, incluindo vários excertos dos 15 Versets sur les Vêpres du commun des fêtes de la Sainte Vierge.

Fonte: fatima.pt