Se você tivesse um grande tesouro, e ele estivesse sob o risco de ser roubado, o que você faria?
Começo esse texto chamando a atenção do leitor para que ele não confunda castidade com celibato. Esse é a continência sexual vivida pela causa do Reino de Deus. Já castidade é uma virtude que pode ser vivida em qualquer estado de vida, ou seja, como solteiro, casado e, inclusive, celibatário, religioso e padre.
Esclarecido isso, entramos na questão. Se você tivesse um grande tesouro, e ele estivesse sob o risco de ser roubado, o que você faria? Com certeza, você o protegeria da melhor maneira possível. Aliás, hoje em dia, os bancos existem para isso. E qual é seu maior tesouro? É a capacidade de amar, ou seja, o dom de dar e receber amor. Essa é a grandeza suprema do ser humano. A liberdade tem seu sentido mais profundo quando somos capazes de exercer esse dom do amor.
“A castidade é a energia espiritual que sabe defender o amor dos perigos do egoísmo e da agressividade, sabe promovê-lo para a sua mais plena realização” 1. A castidade, então, é a proteção, a defesa de nosso maior tesouro: o amor. Assim, a virtude da castidade não pode ser “entendida como uma virtude repressiva, mas, pelo contrário, como a transparência e, ao mesmo tempo, a guarda de um dom recebido, precioso e rico, o dom do amor, em vista do dom de si que se realiza na vocação específica de cada um” 2.
A capacidade de amar do ser humano vem do fato de Deus nos ter feito à Sua imagem e semelhança. “‘Deus é amor’ (1Jo 4,8) e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem, Ele inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser humano”. Assim, o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, é “capaz de um tipo de amor superior: não o amor da concupiscência, que vê só objetos com que satisfazer os próprios apetites, mas o amor de amizade e oblatividade, capaz de reconhecer e amar as pessoas por si mesmas”4.
Essa capacidade de amar se manifesta em nossa vida através da nossa sexualidade e afetividade. Contudo, pelo pecado original, nossa capacidade de amar ficou deformada pelo egoísmo e pela busca de satisfação própria (prazer), por um amor desordenado e irracional por si mesmo. Essas marcas nos impedem de viver o amor livre e puro. É justamente aí que entra a castidade: ela nos educa e liberta, devolvendo-nos a capacidade de amar livremente a Deus e aos homens com toda plenitude do nosso ser. Ordena toda a dinâmica da nossa afetividade e sexualidade para Deus, limpando-as dos desvios e da desordem do pecado (amor centrado em si mesmo: egoísmo e busca da própria satisfação – prazer) para que possamos viver o amor na sua dimensão mais pura e sublime que é a caridade: ofertar-se inteiramente para o bem do outro.
Referências Bibliográficas
1- São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, n. 33
2- Conselho Pontifício para a Família, Sexualidade Humana: Verdade e Significado, n. 4.
3- São João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris Consortio, n. 11
4- Conselho Pontifício para a Família, Sexualidade Humana: Verdade e Significado, n. 9.
André Botelho
É casado e pai de três filhos. Com formação em Teologia e Filosofia Tomista, Andrade é fundador e moderador geral da comunidade católica Pantokrator, à qual se dedica integralmente.
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Contato: http://facebook.com/andreluisbotelhodeandrade
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