“O mundo tem sede, o mundo precisa de mais amor, o mundo tem sede de amor, paz e justiça!”

Na vigília da Peregrinação Internacional Aniversária de Agosto, que é dedicada aos emigrantes que neste mês de verão vêm a Fátima, presidiu à Celebração da Palavra o Arcebispo do Luxemburgo, o cardeal Jean-Claude Hollerich, que dirige atualmente a Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (Comece).

 

 

Para viver, todos nós precisamos de água. O calor do Verão não se suporta sem água. A agricultura sem água não produz nada. A indústria sem água não funciona. Sem água, nós não somos nada.

Para nós cristãos, a água lembra-nos, também, o nosso batismo. Esta água lava-nos das nossas faltas, por esta água a graça de Deus entra nos nossos corações. Sem a água do baptismo, nós não somos nada. Não esqueçamos que a fonte desta água é, como nos mostra o Evangelho, o Corpo de Jesus na cruz: o Seu coração trespassado.

Caros emigrantes, caros refugiados, peregrinos de Fátima: cada um de nós tem as suas pequenas cruzes. Por vezes é o trabalho que já não nos satisfaz, é a dureza de um mundo onde somos sempre considerados como estrangeiros.

Por vezes, pode ser o caso de ter um parente doente, idoso ou que está a morrer, em Portugal, e nós não podemos ir, nem estar presente.

Por vezes, é a incompreensão dos nossos filhos que ignoram as suas origens e os valores cristãos da cultura e história de Portugal: valores que foram o nosso guia, a nossa bússola por terras estrangeiras da emigração.

Por vezes, é a doença que bate à porta das nossas casas e das nossas famílias.

Sim, então nós temos necessidade da água da consolação. Em muitas das igrejas que frequentamos há habitualmente uma imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

As numerosas velas que ardem diante da imagem de Nossa Senhora são as testemunhas das nossas orações. São também o sinal da consolação de Jesus que Nossa Senhora nos traz. Nossa Senhora mostra-nos o corpo do Seu filho na cruz. Nossa Senhora mostra-nos
o coração de Jesus do qual brota a água e o sangue.

O carácter de Maria é semelhante ao carácter de muitas mulheres portuguesas, cabo verdianas e brasileiras que eu conheço no Luxemburgo. Como Maria são mulheres fortes. Como Maria une a igreja primitiva, assim as mulheres portuguesas mantêm a sua família unida. Elas fazem-no pelo seu trabalho. Elas querem assegurar um futuro para os seus filhos. A noite, cansadas, ocupam-se ainda da casa e cozinham alimentos que alegram a alma e o corpo da sua família. Por vezes, como Maria, elas têm o coração amargurado e triste, mas não o mostram para não espalharem desolação e preocupação. Querem garantir a união, desejam caminhar “rumo a um nós cada vez maior”, como o afirma o Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado deste ano.

Estou certo de que é ao pé de Jesus e de Maria que estas mulheres portuguesas encontram
a sua força e a sua alegria.

De facto, elas nos mostram o que é ser cristão…beber nas fontes da salvação, saborear já aqui as alegrias da eternidade. Elas sabem que esta água fresca que Deus nos oferece, deve ser partilhada com outros. Caras mulheres, peregrinas de Fátima que aqui estais com vossas famílias: muito obrigado pelo vosso magnífico testemunho!

Partilhar a água, partilhar a graça, é um grande desafio…é necessário criar canais de irrigação, é necessário projetar os terrenos…a mão-de-obra precisa de visão, precisa de criatividade. Como cristãos, nós não somos passivos neste mundo. O mundo está-nos confiado pelo Deus Criador, nós devemos fazê-lo frutificar…isso pode tornar-se num compromisso para com a ecologia, o compromisso por um mundo mais justo, por um mundo mais fraterno, em vista de “um nós cada vez maior”. Os grandes compromissos serão válidos se mostrarem os seus frutos de paz, justiça e defesa do bem-comum, na vida concreta do dia-a-dia.

Queridas irmãs, queridos irmãos:
O mundo tem sede, o mundo precisa de mais de amor, o mundo tem sede de amor, paz e justiça! Não sejamos apenas daqueles que consomem a água que Deus nos oferece para uso próprio; procuremos ajudar Deus, para que a nossa vida sirva para partilhar esta água com os outros, os que têm fome e sede de justiça das bem-aventuranças.

Permitam-me citar o Papa Francisco na sua Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado: “A todos os homens e mulheres da terra, apelo a caminharem juntos rumo a um nós cada vez maior, a recomporem a família humana, afim de construirmos em conjunto o nosso futuro de justiça e paz, tendo o cuidado de ninguém ficar excluído”.

A fraternidade universal começa nas nossas famílias: quer em Portugal, quer nos países da Europa e do Mundo onde a procura de uma vida melhor vos levou.

Rezemos a Nossa Senhora do Rosário de Fátima para que Deus transforme os nossos desertos.

Rezemos a Nossa Senhora do Rosário de Fátima para que, dos nossos lamentos e das nossas feridas, possa brotar a água da vida.

Queridas irmãs, queridos irmãos migrantes e refugiados: deixemos que Deus transforme os nossos desertos em terrenos cultivados porque irrigados pela beleza e bondade do Deus de Jesus Cristo, nosso Senhor e nossa Água Viva.

Amen!