O caminho do Papa é um processo com muitos riscos

Fundador da Comunidade de Santo Egídio analisa atual pontificado

Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio, afirmou hoje, em Lisboa, que o caminho proposto pelo Papa Francisco não é um “plano de reforma”, mas um “processo com muitos riscos”

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Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio.

“O caminho proposto pelo Papa Bergoglio, a partir das periferias, não é um plano de reforma, mas um processo com muitos riscos, que tem grandes perspetivas”, afirmou antigo ministro do governo italiano (2011 a 2013) numa conferência promovida pela Universidade Católica Portuguesa.

Numa comunicação intitulada “Periferias. Crise e novidade para a Igreja no Pontificado do Papa Francisco”, Andrea Riccardi sustentou que o antigo cardeal argentino deu início a um “cristianismo de povo” e a uma “Igreja que não pretende fechar-se em pequenas comunidades restritas”, perdendo a “dimensão popular”.

O fundador da Comunidade de Santo Egídio considera que o Papa “descartou a hipótese” de um catolicismo minoritário, “se calhar de ‘puros e duros’”, circunscritos a um “território” e escolheu “uma Igreja de povo”, com “fronteiras externas não marcadas e com uma forte dinâmica ‘missionária’”.

“Geometrias, planos pastorais, racionalizações estão longes da escolha de Bergoglio”, defendeu o historiador.

Para Andre Riccardi, o Papa “deu início a um processo de renovação da Igreja no mundo global e urbano”, considerando-o “conversão pastoral”, que vai levar a “um contacto mais direto entre a vida religiosa e as pessoas”.

“O Papa não propõe um projeto pastoral, mas tende a evocar entre os bispos, sacerdotes e fiéis uma paixão criativa com especial atenção para os mundos periféricos”, sublinhou.

O historiador acrescentou que Francisco sabe “pela história pessoal” que o “futuro da Igreja joga-se nas periferias”, porque aí “se joga o futuro da humanidade”, onde se encontra o “sentido da qualidade de vida de amanhã”.

Para Andrea Riccardi, é “ilusório um catolicismo instalado no centro político-económico-cultural-mediático, que pense influenciar as multidões periféricas, impondo valores e comportamentos”.

O fundador da comunidade de Santo Egídio recordou que a Igreja sonhada pelo Papa Francisco “não parte do centro para as periferias”, mas é lá que se deve “regenerar”.

O historiador defendeu também que o Papa pensa numa Igreja “ao lado da vida das pessoas”, que olha “com interesse” para “as formas fluídas do movimento neo-evangélico”.

“A Igreja Católica do século XXI é fortemente desafiada mesmo no coração das periferias que, muitas vezes, na ausência de redes políticas e sociais, são lugares de presenças religiosas alternativas ao catolicismo”, recordou.

Andrea Riccardi acrescentou que, para o Papa, as periferias são “as das grandes cidades” e também “os mundos humanamente periféricos, marcados pela dor, pela marginalização e pela pobreza, independentemente da sua localização geográfica”.

A conferência do fundador da Comunidade de Santo Egídio iniciou com a apresentação de Andrea Riccardi pela reitora da Universidade Católica Portuguesa, Maria da Glória Garcia, e foi encerrada por D. Manuel Clemente, que referiu que “a periferia é a marca evangélica das coisas”.

Fonte: Agência Ecclesia