Todos os povos e países têm as suas marcas identitárias e distintivas que os tornam únicos e com características que unificam as suas sociedades. Portugal, não é exceção. Mesmo sendo uma democracia pluralista que proclama a liberdade de consciência e de credo, respeitando todas as religiões, Portugal é um país de matriz cristã, profundamente mariano.
Se por um lado, muitos dos nossos compatriotas são uma espécie de «catolaicos», um híbrido de católicos e laicos, caracterizados por participar em momentos chave da vida humana e social nas celebrações religiosas, como batizados, casamentos e funerais; por realizarem peregrinações a pé a diversos santuários e incorporarem procissões carregando andores e bandeiras. Ao mesmo tempo não se comprometem com as comunidades cristãs da sua localidade, nem assumem funções públicas nas paróquias, olhando de soslaio para tudo o que a Igreja institucional diz ou faz na pessoa dos seus membros mais ativos.
Temos de ser sinceros e reconhecer que, desde os alvores da nacionalidade, Portugal, é conhecido como a Terra de Santa Maria. Vê-se isso pela toponímia das freguesias e localidades; pela dedicação de quase todas as catedrais a Nossa Senhora; pela frequência do nome «Maria» ou «Miriam» e outros títulos marianos; pela construção de inúmeros santuários que são verdadeiros polos congregadores dos portugueses, como o Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, o Santuário Nacional de Vila Viçosa e o Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, entre muitos outros de norte a sul.
O próprio Papa São João Paulo II, na sua primeira visita a Portugal, de 12 a 15 de maio de 1982, quis demonstrar esta característica específica do povo português: a sua grande devoção mariana. Por esta razão, o Papa visitou o Santuário de Fátima, local que, com as suas aparições e mensagem, marca profundamente o século XX do catolicismo em Portugal. Nossa Senhora, segundo as Memórias da Irmã Lúcia, terá dito na aparição de 13 de julho de 1917 que: «Em Portugal, se manterá sempre o dogma da Fé…».
O passo seguinte daquela visita apostólica foi o Santuário de Vila Viçosa, o Solar da Padroeira, onde está a imagem da Imaculada Conceição que o Condestável D. Nuno Álvares Pereira terá adquirido em Inglaterra no século XIV e que foi coroada como Padroeira e Rainha de Portugal, por D. João IV, em 25 de março de 1646, agradecendo a independência de Portugal.
De Vila Viçosa, o Papa dirigiu-se para a Universidade de Coimbra, uma das mais antigas da Europa, onde os lentes e professores, tinham de fazer o juramento de crer e defender o dogma da Imaculada Conceição. Não esqueçamos que o dogma só foi definido pelo Papa Pio IX no século XIX.
O destino, depois da cidade dos doutores, foi a cidade dos Arcebispos – Braga. Aqui visitou o Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, dedicado à Imaculada Conceição, para celebrar a proclamação do dogma da Concepção Virginal de Maria. Um verdadeiro ex libris da capital do Minho.
A sua viagem terminou, na cidade da Virgem, o Porto, onde ele enalteceu a enorme devoção mariana do povo português, dizendo: «A Portugal, a Virgem Maria reservou um modo de tratar de singular predileção, que é título de honra e, ao mesmo tempo, particular motivo de firme coerência na fidelidade ao Evangelho. Todos os fiéis devem ter uma consciência viva disto e empenhar-se em cultivar aqueles valores humanos e cristãos que tornaram grande esta Nação. Nestes dias pude verificar pessoalmente os tesouros de bondade, de cordialidade e de fé que distinguem este povo forte e amável. Em particular, em Fátima, aos pés de Maria, senti vibrar à minha volta a alma de toda a Nação.»
Celebramos, no dia 8 de dezembro, um dos feriados nacionais e religiosos, dedicado à Imaculada Conceição. Os santuários marianos de norte a sul, enchem-se de peregrinos e fiéis. Até há pouco tempo, este era o dia da Mãe. Foi uma pena termos cedido ao oportunismo e mercantilismo e transferido a evocação do dia da Mãe para maio. Porque não voltar a repor a ordem das coisas: se o Dia do Pai é o dia de São José, a 19 de março; o Dia da Mãe deveria voltar a ser o dia de Nossa Senhora da Conceição, a 8 de dezembro.
Se calhar também era altura de equacionar a elevação do 13 de maio a feriado nacional, pois se há data que é comemorada por milhões de portugueses, em Portugal e na diáspora, é o dia de Nossa Senhora de Fátima. Se os feriados valessem pela forma como são comemorados, mais de metade seria suprimida, pois ninguém ou quase ninguém os celebra e comemora. E este move multidões.
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