Novos Tempos | A unidade dos cristãos é uma utopia?

Neste ano de 2025, completam-se 1700 anos após a realização do primeiro concílio ecuménico. O concílio ecuménico é uma reunião de todos os bispos cristãos e que, apenas, se reuniu vinte e uma vezes, em 2000 anos de História do Cristianismo.

O primeiro concílio ecuménico realizou-se em Niceia da Bitínia (atual İznik, província de Bursa, na Turquia), no ano 325 d.C. Foi convocado e presidido pelo imperador romano Constantino I, aquele imperador que, através da promulgação do Édito de Milão, em 313 d.C. deu a liberdade religiosa aos cristãos, após séculos de perseguições.

Finalmente, todos os bispos do mundo habitado (a palavra ecuménico deriva do grego “οἰκουμένη”, “oikomene» que significa literalmente “o mundo habitado”) reuniram-se para tratar de assuntos doutrinais e disciplinares da Igreja. Terão estado presentes entre 250 a 320 bispos. Quem era o Papa, bispo de Roma, neste período, era São Silvestre I, o primeiro Papa que não foi martirizado até essa data e tão conhecido pelas corridas do final de ano e de Ano Novo.

Uma das principais questões tratadas foi a questão da Trindade (Um só Deus em três pessoas iguais e distintas) e a condenação do arianismo, doutrina declarada errada, herética, defendida pelo bispo Ário, que negava a divindade de Jesus. Célebre ficou, também, a correção física que São Nicolau (aquele que inspirou a história do Pai Natal) fez a Ário, pois não tolerou ofensas a Deus.

Foi deste concílio que saiu a primeira parte de uma Fórmula de Fé, o Credo, que todos os domingos e dias santos é professado por milhões de cristãos, sejam eles católicos romanos, ortodoxos, anglicanos ou protestantes. Neste Credo está resumida a Fé cristã, ou seja, aquilo que em que os cristãos acreditam. Seria completado, anos mais tarde no concílio de I de Constantinopla.

Se a maioria absoluta dos cristãos professa o credo niceno e aceita o concílio de Niceia, porque permanecem divididos. Se acreditam no mesmo, o que os impede de se reunirem no mesmo lugar? Estas são questões complexas de responder, mas que sempre me intrigaram e inquietaram.

Quando já adulto entrei numa igreja protestante, na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que se celebra de 18 a 25 de janeiro, anualmente, para participar num encontro de oração, ao ver na parede, em azulejo, o texto do Credo de Niceia e do outro lado a oração do Pai Nosso, fiquei a pensar nas causas que levam os cristãos a estarem separados, apesar de ser muito mais e maior aquilo que os une.

O ano de 2025 seria uma boa oportunidade para relançar o movimento ecuménico com gestos e atos de perdão e reconciliação, orações em comum e estudos teológicos) para que o Cristianismo volte a ser uma só Família.

Que a Oração de Jesus, no Jardim das Oliveiras, antes da sua paixão e morte seja uma realidade e que as palavras do capítulo 17 do Evangelho segundo S. João sejam uma verdade: «Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, e por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade.
Não rogo só por eles, mas também por aqueles que hão-de crer em mim, por meio da sua palavra, para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste. Eu dei-lhes a glória que Tu me deste, de modo que sejam um, como Nós somos Um. Eu neles e Tu em mim, para que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça que Tu me enviaste e que os amaste a eles como a mim.»
Que todos os cristãos sejam uma só Igreja, uma só comunidade.

 

Novos Tempos | A amnésia coletiva

Sérgio Carvalho
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