Cardeal presidiu a cerimónia simbólica do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, marcada pela pandemia
O cardeal D. José Tolentino Mendonça, presidente das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, defendeu hoje no Mosteiro dos Jerónimos a um pacto entre gerações, para a construção de uma nova sociedade.
“Precisamos de uma visão mais inclusiva do contributo das várias gerações”, referiu o biblista e arquivista da Santa Sé, na cerimónia simbólica que assinalou este ano o 10 de Junho, com limitações impostas por causa da pandemia de Covid-19.
O cardeal madeirense assinalou que a “tempestade” provocada pela crise sanitária obriga todos, como comunidade, “a refletir sobre a situação dos idosos em Portugal e nesta Europa da qual somos parte”.
Para o responsável, os idosos são as “principais vítimas da pandemia”, do ponto de vista da saúde e socialmente, “mais sós, mais pobres, remetidos muitas vezes para precários contextos de institucionalização”.
“Temos de rejeitar firmemente a tese de que uma esperança de vida mais breve determina uma diminuição intrínseco. A vida é um valor sem variações”, acrescentou.
O cardeal madeirense convidou a aprofundar o contributo dos mais velhos, convidando-os a assumir-se como “mediadores de vida” para as novas gerações.
A intervenção evocou ainda a geração com menos de 35 anos, atingida em pouco tempo por uma segunda crise que coloca em causa os seus projetos de “autonomia social e de formação de família”, e a importância de promover políticas de “integração.
D. José Tolentino Mendonça destacou o sentido da pertença a uma nação e sustentou que o amor a um país exige “não só a admiração e o orgulho, mas também a compaixão”, como “exercício efetivo de fraternidade”.
Apresentando-se como representante da “comunidade de concidadãos”, incluindo as “extensas redes” da diáspora, o cardeal sustentou que “cada português é uma expressão de Portugal e é chamado a sentir-se responsável por ele”.
“Portugal é uma viagem que fazemos juntos há quase nove séculos”, procurando criar “uma comunidade aberta e justa”, acrescentou.
A intervenção apontou ainda à figura de Camões e o “extraordinário mapa mental do Portugal do seu tempo” que deixou n’Os Lusíadas.
“Camões desconfinou Portugal”, sustentou o presidente das Comemorações.
“A quem tivesse dúvidas sobre o papel central da cultura, das artes ou do pensamento na construção de um país, bastaria pensar nisso: Camões desconfinou Portugal no século XVI e continua a ser, para a nossa época, um preclaro mestre na arte do desconfinamento”.
Para D. José Tolentino Mendonça, desconfinar não é “simplesmente voltar a ocupar o espaço, mas é poder, sim, habitá-lo plenamente”.
O discurso comemorativo desejou que cada um se sinta “protagonista de um projeto mais amplo e em construção”, que diz respeito a todos.
Citando a estância 79 do Canto VI d’Os Lusíadas, o cardeal advertiu que “não há super-países, como não existem super-homens”.
“Celebrar o Dia de Portugal significa, portanto, redescobrir e reforçar o pacto comunitário que é a nossa raiz”, apontou o arquivista e biblista da Santa Sé.
O colaborador do Papa citou os alertas de Francisco para denunciar a “cultura da indiferença e do descarte” e alertar para a necessidade de promover as “periferias”.
Foto: Agência Ecclesia
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