Neste final de semana ocorrem comemorações que tocam de perto o coração
Santo Antônio é celebrado com manifestações religiosas e festas populares típicas do mês de junho. Pela sua fama de “casamenteiro”, a véspera de sua festa é dia dos namorados. E o Calendário litúrgico traz a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, para o qual se votaram os santos, homens e mulheres que aceitaram o desafio da vivência do amor que brota do mistério de amor do Divino Coração, que assumiu e elevou à máxima dignidade as realidades humanas.
Desejo mais uma vez fazer propaganda do namoro e do noivado, como passos em preparação ao Matrimônio, que é a forma cristã de viver o casamento. A pressa com que se estabelecem tantas vezes os vínculos, por isso mesmo volúveis, não respeita a necessidade de amadurecimento do amor. Quando a expressão e a realidade do “ficar” dos adolescentes, jovens e até adultos se espalha, como vemos em nosso tempo, a consequência é a fragilidade da família. Basta verificar a quantidade de crianças que são geradas sem o necessário sustento de um relacionamento equilibrado sólido e duradouro entre homem e mulher, capaz de oferecer as condições indispensáveis ao crescimento sadio da personalidade. Que o digam tantos avós que assumem a função de pais, mães e provedores. Sem estes verdadeiros heróis e heroínas o quadro seria ainda mais perturbador.
Namoro é tempo de conhecimento, valorização da diversidade dos gêneros, aprendizado do diálogo e da capacidade de escolha e, devo dizer com toda força, não é tempo de iniciação sexual precoce e irresponsável. Se tal posição é considerada por muitos como conservadora, ela o é por convicção pessoal e pela constatação dos dramas em que resultaram as facilitações irresponsáveis que nossa geração tem cultivado.
Noivado! Quando presido uma bênção de noivado, costumo dizer que esta é a festa da palavra dada, para que noivo e noiva exercitem a confiança mútua. Recentemente o Papa Francisco incluiu em suas catequeses sobre a família um oportuno ensinamento sobre esta etapa na preparação do matrimônio, no qual veio em relevo justamente o tema na confiança, do qual considerei oportuno transcrever em grande parte, por ocasião do Dia dos Namorados e a Festa de Santo Antônio.
Diz o Papa, em sua já proverbial capacidade de ir com clareza aos pontos essenciais: “O noivado é o tempo durante o qual os dois estão chamados a fazer um bom trabalho sobre o amor, um trabalho profundo, participado e partilhado. Descobrindo-se pouco e pouco reciprocamente: ou seja, o homem ‘aprende’ a mulher aprendendo esta mulher, a sua noiva; e a mulher ‘aprende’ o homem aprendendo este homem, o seu noivo. Não subestimemos a importância desta aprendizagem: é um compromisso bom, e o próprio amor o exige, porque não é apenas uma felicidade despreocupada, uma emoção encantada.
A narração bíblica fala da criação inteira como de um bom trabalho de amor de Deus; o livro do Gênesis diz que ‘Deus viu o que fizera, e era coisa muito boa’ (Gn 1, 31). Só no final, Deus ‘repousou’. Compreendemos assim que o amor de Deus, que deu origem ao mundo, não foi uma decisão extemporânea. Não! Foi um trabalho bom. O amor de Deus criou as condições concretas de uma aliança irrevogável, sólida, destinada a durar. A aliança de amor entre o homem e a mulher, aliança para a vida, não se improvisa, não se faz de um dia para outro. Não há o matrimônio rápido: é preciso trabalhar sobre o amor, é necessário caminhar. A aliança do amor do homem e da mulher aprende-se e aperfeiçoa-se. Permiti que eu diga que é uma aliança artesanal. Fazer de duas vidas uma só, é quase um milagre, um milagre da liberdade e do coração, confiado à fé”.
E o Papa entra em detalhes que podem ser libertadores para muitos casais de noivos: “As nossas coordenadas sentimentais entraram um pouco em confusão. Quem pretende tudo e imediatamente, depois também cede sobre tudo — e já — na primeira dificuldade ou na primeira ocasião. Não há esperança para a confiança e a fidelidade da doação de si, se prevalece o hábito de consumir o amor como uma espécie de integrador do bem-estar psicofísico. Não é isto o amor! O noivado focaliza a vontade de preservar juntos algo que nunca deverá ser comprado ou vendido, atraiçoado ou abandonado, por mais aliciadora que seja a oferta”.
E Papa Francisco abre uma meditação profunda, à disposição de quem tem vocação ao matrimônio: “Também Deus, quando fala da aliança com o seu povo, algumas vezes fá-lo em termos de noivado. No Livro de Jeremias, ao falar ao povo que se tinha afastado dele, recorda-lhe quando o povo era a ‘noiva’ de Deus e diz assim: ‘Lembro-me da tua afeição quando eras jovem, de teu amor de noivado’ (2, 2). E Deus fez este percurso de noivado; depois faz também uma promessa no Livro do Profeta Oseias: ‘Então te desposarei para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com misericórdia e amor’ (2, 21-22).
É um longo caminho o que o Senhor faz com o seu povo neste percurso de noivado. No final Deus desposa o seu povo em Jesus Cristo: em Jesus desposa a Igreja. O Povo de Deus é a esposa de Jesus. Mas quanto caminho a ser feito!” Este é o noivado com que a Igreja sonha e quer anunciar!
Enfim, o Casamento, Sacramento do Matrimônio na visão do Papa e da Igreja: “A Igreja, na sua sabedoria, conserva a distinção entre ser noivos e ser esposos — não é o mesmo — precisamente em vista da delicadeza e da profundidade desta verificação. Estejamos atentos a não desprezar com superficialidade este ensinamento sábio, que se nutre também da experiência do amor conjugal felizmente vivido. Os símbolos fortes do corpo possuem as chaves da alma: não podemos tratar os vínculos da carne com superficialidade, sem causar ao espírito alguma ferida perene (1 Cor 6, 15-20). Sem dúvida, a cultura e a sociedade de hoje tornaram-se bastante indiferentes à delicadeza e à seriedade desta passagem. E por outro lado, não se pode dizer que sejam generosas com os jovens que estão seriamente intencionados a constituir uma família e a ter filhos! Ao contrário, muitas vezes levantam numerosos impedimentos, mentais e práticos. O noivado é um percurso de vida que deve amadurecer como a fruta, é um caminho, até ao momento que se torna matrimônio”.
E chegamos com o Papa Francisco até aos Cursos de Noivos! “Os cursos pré-matrimoniais são uma expressão especial da preparação. E nós vemos tantos casais, que talvez chegam ao curso um pouco contra a vontade, ‘Mas estes padres obrigam-nos a fazer um curso! Mas por que? Nós sabemos!’… e vão contra a vontade. Mas depois ficam contentes e agradecem, porque com efeito encontraram ali a ocasião — muitas vezes única, para refletir sobre a sua experiência em termos não banais. Sim, muitos casais estão juntos há muito tempo, talvez até na intimidade, por vezes convivendo, mas não se conhecem de verdade. Parece estranho, mas a experiência demonstra que é assim. Por isso deve ser reavaliado o noivado como tempo de conhecimento recíproco e de partilha de um projeto. O caminho de preparação para o matrimônio deve ser organizado nesta perspectiva, servindo-se também do testemunho simples mas intenso de casais cristãos.”
Aos namorados, aos noivos e aos casados chegue o abraço amigo e a bênção da Igreja, para que busquem no Coração de Jesus a fonte do amor verdadeiro. E que encontrem em Santo Antônio a intercessão e os ensinamentos que os ajudem a realizar esta magnífica vocação do matrimônio.
Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém – PA.
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