Monsenhor Jonas Abib: 81 anos de uma vida dedicada à evangelização

Quem é Jonas Abib?
“Um pobre homem, mas grande em Deus, realmente um pobre homem, mas graças a Deus, grande e rico em Deus”

Eu nasci em Elias Fausto, uma cidade pequena, mas, com dois anos de idade fui para São Paulo (SP). Tenho quatro irmãs e um irmão. A melhor “construção” do meu pai sou eu e meus irmãos. Fui à capital paulista porque quase perdi a visão, e seria necessário uma cirurgia. Meu avô emprestou dinheiro ao meu pai para que fosse possível fazê-la. Meu pai trabalhava como pedreiro para que pudesse ter uma renda maior mensalmente e pagar os “olhos” do menino.

Todos dizem que tenho os olhos muito expressivos. Eu devo esses olhos, em primeiro lugar a Deus, e a honradez do meu pai. Papai teve que “dar um duro” como pedreiro para ganhar a vida.

Família de Monsenhor Jonas
Jonas ainda menino
Jonas ainda criança no seminário
Primeira comunhão de Jonas Abib
Jonas Abib no seminário
Jonas Abib no seminário
Ordenação sacerdotal

No meu tempo de menino eu juntava lata, vidro e vendia no ferro velho. Como meu pai dava um duro, eu não achava justo gastar o dinheiro dele. Então, ia ganhar meu dinheiro.

De 1940 a 1942, minha família morou na periferia de São Paulo. Fiz escola profissional em artes gráficas e estava aprendendo uma profissão. Estudei artes gráficas na Escola Profissional dos Salesianos. Depois fui para o seminário.

 

Sacerdote
“Minha vocação se alicerça na firmeza e honradez do meu pai. Se houve alguém que viveu antes de mim e melhor do que eu o ‘aguenta firme, meu filho’ é meu pai”

Desde que eu me conheço por gente, eu queria ser padre. Aos sete anos, quando a superiora geral de uma congregação foi até minha sala de aula ela fez a clássica pergunta “o que você quer ser quando crescer?”. Quando chegou a minha vez eu disse que queria ser padre.

Ela perguntou o porquê e eu dei uma resposta. Depois no refeitório, a irmã chamou todas as outras irmãs e disse: “cuide desse menino porque não é pelo fato dele ter dito que quer ser padre. Isso muitos meninos dizem, mas a resposta que ele deu indica que é mais do que ele poderia responder, é muito criança para dar essa resposta.”  As irmãs me contaram isso nas vésperas da minha ordenação.

No dia 3 de setembro de 1949, eu partia para ingressar em um seminário salesiano em Lavrinhas (SP).

Estava inteiramente decidido, mas não foi fácil deixar minha casa, meu pai, minha mãe, meu irmão e principalmente a primeira das minhas irmãs, que na época tinha apenas um ano de idade.

Fundador
“A Canção Nova tem a graça da escolha de Deus. Fomos escolhidos e enviados por Deus para formar um povo”

Eu era padre bem novo, começando apenas com missa para jovens, com um pequeno grupo de jovens. Estava viajando de Lorena (SP) para Queluz (SP) em 1977. Durante a viagem, Deus tocou no meu coração de maneira inusitada para fazer uma proposta aos jovens para que deixassem a casa, o trabalho, os estudos e até mesmo o namoro para viverem em comunidade.

Eu tinha quase a certeza de que ninguém toparia, mas, ao mesmo tempo eu tinha a certeza de que haveriam jovens que iriam acolher. Porém, fiquei surpreso quando grande parte dos jovens levantaram a mão.

Para mim é um encanto, uma turma aceitou e começamos com 12 pessoas no ano de 1978. A Comunidade Canção Nova nasceu de um documento que o Papa Paulo VI escreveu: Evangelii Nuntiandi.

 

Pregador
“Não sou eu quem faço, quem faz é Deus. A pregação quem faz sou eu, mas é Deus quem toca as pessoas”

Eu fico impressionado de ver como as pessoas são tocadas por “aquilo que falo e por aquilo que faço”. Elas não teriam de serem tocadas por aquilo que eu falo; porque quando vejo minhas pregações, elas são muito simples. Eu vejo pregadores muito maiores do que eu, muito melhores na maneira de se portar como pregadores. Mas, não posso negar que as pessoas são tocadas. Aí está a minha gratidão para com Deus.

Aí está o bonito, Deus está sempre à frente, Ele me usa como um lápis; pega e escreve do jeito que Ele quer. Faz rabiscos quando quer fazer rabiscos, faz desenhos quando quer fazer desenhos, Ele faz obras de arte quando quer fazer. O lápis sou eu, mas o artista é Deus.

 

Músico
“Eu não tenho uma grande voz, mas minha voz é bem identificada. Tenho uma voz curtinha, rouquinha, mas eu uso bem o meu instrumento”

Quando eu tinha entre doze e treze anos, na Festa de Santa Cecília, a padroeira da música, fiz um pedido na hora da benção do Santíssimo com simplicidade de criança: “Senhor, se a música for importante para mim, quando eu for padre, abra as portas para que eu aprenda”. Houve uma resposta imediata. Naqueles dias vieram perguntar-nos quem gostaria de aprender instrumentos de música. Havia uma banda no seminário e fui aprender requinta – um instrumento bem semelhante à clarineta: o instrumento mais agudo da banda. E Já comecei tocando.

A primeira música que Deus me deu a graça de compor foi uma música de louvor “O céu, a terra e o mar”.

O legado

Eu recebi de Deus um carisma, pois carisma se recebe, ninguém produz carisma. Eu recebi esse carisma, o chamado carisma Canção Nova que é o produtor de tudo isso. Então, o meu legado é o carisma Canção Nova. O que eu quero é que os meus o vivam; quanto mais o viverem mais a Canção Nova será produtiva; mais ela haverá de realizar a sua missão, mais e mais almas atingirá. Tudo se resume no carisma, o legado que eu deixo para a Canção Nova. Um dia vou morrer, espero passar dos 100, mas não sei se passo, de qualquer jeito, o legado que deixo agora à Canção Cova é o carisma; e quando morrer é, também, o carisma.

“Ainda não cheguei ao fim da minha missão, mas já recebi o cêntuplo. Sempre me pergunto: ‘Quem sou eu para receber tudo isso?’”