É impressionante a capacidade que o ser humano tem de, em certas situações, tecer julgamentos ancorados apenas na aparência e, assim, destituídos de inteireza. Temos a esquizofrênica tendência a, muitas vezes, definir e conceituar a realidade a partir daquilo que nos sinalizam as aparências, estacionando, dessa forma, na exterioridade e não conhecendo as pessoas em seu íntimo e intenções profundas.
Quem julga a partir de aparências correrá o sério risco de cometer inúmeras injustiças, oprimindo aqueles que, porventura, não se encaixem em seus embalsamados padrões de perfeição.
Quem é, realmente, maduro não toma decisões a partir de simpatias ou antipatias, nem motivado por aparências. Estas – simpatias e antipatias – são realidades comuns a todo processo relacional, contudo, elas não podem se estabelecer como parâmetro para decisões e julgamentos acerca de pessoas.
Muitas vezes, quem não se aliena para nos agradar/bajular ao máximo grau, acaba sendo descartado por nossa carente e imatura maneira de absorver a vida e as pessoas.
As pessoas são muito mais do que imaginamos que sejam, e não temos o direito de as aprisionar na impressão que delas tivemos.
Não julguemos pela aparência, mas façamos uma experiência madura com o outro
Vivemos em uma sociedade que nos ensina a desconfiar constantemente de todos e a nunca acreditar em ninguém. Entretanto, faz-se necessário acreditar nas pessoas sem exigir que sejam o que queremos, e tendo a caridade de as deixar apenas acontecer.
Precisamos acreditar que todo ser humano quer, verdadeiramente, acertar em sua história. Ninguém erra porque quer, ninguém elege a infelicidade como projeto de vida. Todo ser humano quer ser feliz na vida, mesmo quando busca isso sem o devido êxito. Por isso, é necessário sermos mais misericordiosos com nossos semelhantes buscando enxergar além das aparências.
É preciso buscar fazer uma experiência com cada pessoa, antes de a aprisionar em um rótulo infeliz.
É salutar e sinal de humanidade se prender mais ao que as pessoas têm de bom, sem as querer transformar em meras “cópias” daquilo que acreditamos ser o correto.
O combustível para a maturidade e o crescimento de alguém é ser acreditado, mesmo quando a sua aparência e o que ela manifesta não agrada tanto.
Lutemos para nos desprendermos das armadilhas da imagem, e busquemos ver o coração das pessoas, pois todos têm o direito de tentar; e isso mesmo quando o fruto da tentativa for o erro.
A fragilidade que Jesus mais condenou em Seu tempo não foi tanto o assassinato nem o adultério, mas a hipocrisia. Ele bem conhecia a precariedade de nosso olhar e de nossa compreensão, por isso mesmo nos ensinou como agir diante daqueles que, na aparência, não nos agradarem nem nos bajularem o bastante: “Eu não te condeno. Vá…” (cf. Jo 8,11b).
O Homem de Nazaré sempre acreditou no homem e sempre deu a este uma nova chance para acontecer, mesmo sabendo quem de fato ele é. Aprendamos, pois, com o Seu sublime exemplo.
Equipe de colunistas do formação
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