Uma queixa tem sido constante nos últimos tempos: a dificuldade de concentração entre os adolescentes. Aqui, reside uma interpretação que precisa ser bem avaliada, pois nem sempre a queixa de dificuldade de concentração tem uma causa única ou pode ser um diagnóstico, por exemplo, de Transtorno de Déficit de Atenção, como muitas vezes é divulgado.
Um aspecto importante a ser levado em consideração é: quando falamos em concentração, temos de compreender que ela é a capacidade de manter o foco de atenção nos estímulos do meio ambiente. Quando este ambiente muda, também muda o foco de atenção.
Já a atenção é uma capacidade neurológica, uma função cognitiva complexa que nos permite, porexemplo, estarmos concentrados numa leitura, falar com alguém num ambiente cheio de ruídos e nãoperder o foco, assistir a um filme e conseguir compreender sua mensagem, realizar um trabalho de forma direcionada.
Muitas vezes, há uma queixa de memória do tipo “puxa, eu não consigo ‘guardar’ nada na cabeça”, “esqueço de tudo facilmente”. A memória está intimamente ligada com a capacidade de atenção. Ou seja, se a atenção está falha, logo, teremos dificuldade em memorizar algo.
Memória é o mecanismo que nos permite reter algo e, num tempo breve ou longo, resgatar esse conteúdo, o que chamamos de evocação.
Termos técnicos à parte, é importante compreender que a capacidade para manter a concentração é limitada e depende de fatores como interesse por um assunto, disponibilidade para o tema, depressão, ansiedade, questões emocionais familiares, dificuldade para dormir ou um ciclo de sono alterado, carência vitamínica, anemias e outras patologias.
Quando temos problemas de natureza simples, a nossa capacidade de solução de problemas mais complexos acaba por ser alterada.
Para manter a atenção, vários fatores são importantes, como ânimo, interesse e até dificuldades específicas.
Todo mundo tem algum tipo de dificuldade de atenção, porém, o que faz isso se tornar um problema é o quanto ele afeta nossas atividades
Ao notar essa dificuldade, é muito importante observar o comportamento do jovem e seus hábitos, pois, por exemplo, noites em claro, excesso de estímulos, uso de drogas, enfim, tudo isso pode contribuir para tais dificuldades. É importante que situações emocionais, além de doenças tais como anemia, ansiedade, depressão, disfunções na tireoide, sejam investigadas.
Questões familiares, brigas, desentendimentos entre amigos, namoros rompidos, um bullying na escola e aspectos relacionados à vida familiar e social do jovem também podem contribuir, e a abertura da família ao diálogo e a compreender a vida do jovem também se faz importante.
Outro ponto importante é observar como anda a organização das tarefas e rotinas deste jovem, porque a sobrecarga e a desorganização podem colaborar com a falta de concentração. Ajustar horários, melhorar a alimentação, usar melhor o tempo; tudo isso pode colaborar com a melhora da concentração.
Quanto aos estudos, é importante tirar de perto aquilo que pode desviar a atenção. Jogar, ver TV, usar o celular, ouvir músicas e estudar ao mesmo tempo mostra que uma dessas atividades não será realizada com sucesso.
É importante, no entanto, fazer uma observação dos aspectos sugeridos antes de imaginar uma doença como o TDAH, por exemplo. Não devemos ignorar os sinais quando existem prejuízos na vida de um jovem, mas podemos o ajudar a partir da compreensão desses sinais e sintomas buscando dar suporte ao seu filho.
Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.
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