Já não sou bébé, sou mais crescido!

Na semana passada vimos as duas primeiras fases do desenvolvimento psicoafetivo. Iremos abordar agora as outras duas.

Estádio fálico (3 e 4 anos): iniciam-se as descobertas e curiosidade sexual, onde se olham e percebem como diferentes uns dos outros. O banho torna-se o lugar da descoberta, por excelência e a criança começa por verbalizar “eu tenho um pipi e o João?” Constata-se a diferença dos dois sexos e as suas diferenças associadas. Começa a ter “consciência de si”, portanto uma imagem de si e surge a vergonha no contacto com outros. Em simultâneo, procura afirmar-se perante o outro e obter reconhecimento. Surge, ainda, a oposição, palhaçadas e disparates. Posteriormente, com o domínio motor desenvolvido, a criança deixa-se admirar, amar e seduzir os que a rodeiam. Estudos recentes, na área da inteligência emocional, revelam que nestas idades já se percebe a empatia, isto é, a criança socorre o seu amiguinho triste e tenta animá-lo.

imagem | freepik

Por volta dos 5/6 anos surge o complexo edipiano, isto é, o rapaz que vai investir na sua relação com a mãe, procurando obter o seu amor e estima; o pai torna-se “rival”, mas em simultâneo a imitar, pois é ele o seu ideal.

A rapariga aproxima-se do pai e investe na relação com ele, afastando-se da mãe, mas cheia de ambivalência e culpa, pois é da mãe que continua a receber o carinho e alimento.

A partir dos 6 anos, a criança desloca a sua atenção e investe nas suas aquisições cognitivas e aprendizagens escolares, sendo que amadurece muito a sua vertente social e moral (veremos melhor esta vertente noutro artigo deste mês).

Período de latência e adolescência: grande progresso na socialização e intelecto. A criança descentra-se, consegue coordenar diversas perspetivas e prever as suas consequências. Volta-se para dentro de si, no sentido de compreender os seus sentimentos e emoções.

Perante isto compreendemos a complexidade do nosso ser. Só deixei aqui espelhado um cheirinho de cada fase. Com isto, gostaria de deixar para reflexão que a nossa complexidade interior, social, cultural, parental leva-nos a nem sempre sentir, viver, as situações da mesma forma e isso é que traz as diferenças entre nós e mesmo entre irmãos, pois os pais não são exatamente os mesmos, com as mesmas reações, nem as criança as mesmas, com as mesmas perceções. Todos nós carregamos desarmonia e imaturidade.

A desarmonia, por exemplo, no desenvolvimento da autonomia afetiva e independência corporal (a passagem do aleitamento à alimentação pode não ter corrido de forma harmoniosa, podem ter surgido conflitos, dificuldades, medos que marcaram o bebé ou controlo dos esfíncteres com algum percalço). Tudo vai depender de como foi percecionado pela criança.

A imaturidade afetiva ou emocional remete para dificuldades no controlo das emoções, a sua intensidade, labilidade, intolerância à frustração, dependência afetiva, a necessidade de segurança.

Como foram estas fases da sua vida? Que traumas? Que vivências? Que emoções marcam? Que conquistas?

No próximo artigo vamos ver como se constrói a nossa identidade e o nosso desenvolvimento psicossocial.