Libanesa a residir em Fátima desde 2000, a Irmã Glória Maalouf, que vai ler a súplica em árabe na Oração dos Fiéis da Missa do dia 13 de maio, irradia uma alegria e animação que contagia quem fala com ela, sem suspeitar que teve uma vida cheia de perigos, fugas e privações, ela própria migrante e refugiada.
Nascida no meio de uma família cristã no Líbano, deixou o país quando rebentou a guerra civil em 1975 e acompanhou os pais que encontraram refúgio no Kuwait.
“Ali vivia num mundo muçulmano, com muitas restrições, divisões que não entendia, e acabei por me afastar de Deus. Correspondeu a um período em que, jovem adolescente, vivi uma fase de rebeldia contra a religião, contra Deus”, conta a Irmã Glória.
Uma oportunidade de emprego no Iraque levou a família a mudar-se mais uma vez. Nesta altura, começou a interessar-se por Filosofia e aproximou-se mais da religião e de Deus, fazendo uma caminhada.
Até que veio a Guerra no Golfo e aí a vida da família voltou a mudar completamente: “De repente, ficámos sem nada. Sem trabalho, sem dinheiro, em perigo constante, em fuga”.
“E fugimos para o deserto. Foi aqui no deserto que tive a primeira sensação de que a minha vida interior precisava de mudar: atrás de mim, deixei tudo e não havia nada. À minha frente não havia nada. Por isso, rezei e decidi que era mesmo Deus que tinha de procurar, era a Deus que me tinha de agarrar”, contou, com um sorriso largo.
“E foi assim. Os meus pais decidiram emigrar para o Canadá e eu decidi emigrar para Jesus”, remata, com uma gargalhada.
A Irmã Glória entrou na Congregação das Servas do Coração Imaculado de Maria, em Itália. E foi aí que foi convidada a abrir a casa da sua ordem em Fátima, em 2000.
“Fui mesmo a primeira das irmãs a chegar a Fátima. Para mim era tudo novo. Não conhecia Fátima, não conhecia nada das Aparições, não conhecia a Mensagem de Nossa Senhora”, explicou.
“Estudei, li e fiquei apaixonada por Maria, pela Mensagem. Ainda hoje estou apaixonada”, diz, a rir.
O seu passado de refugiada e migrante é algo muito especial para a Irmã Glória, que vai rezar na Missa do dia 13 de maio a súplica em língua árabe precisamente pelos refugiados e migrantes: “Pelos Migrantes, pelos pobres e refugiados, para que por intercessão de Maria, que conhece as suas dores, se sintam acolhidos por todos os que lhes oferecem dignidade e razões de esperança”.
No seu trabalho em Fátima, a Irmã Glória gere a rede de lojas do Santuário. Além disso, contata diariamente com os peregrinos que chegam à Capelinha das Aparições.
O fato de ser libanesa, hoje com dupla nacionalidade, e de falar árabe permitiu evitar situações embaraçosas.
“Um dia, ao passar pela Capelinha, vi que a oração estava a ser liderada em língua árabe por mulheres vestidas com o chador (vestes que cobrem todo o corpo, exceto a cara). Aproximei-me e verifiquei que rezavam a Fátima, mas não a Nossa Senhora e sim a Fátima, a filha do profeta”, referiu.
“Avisei as autoridades do Santuário para o que estava a acontecer e desde então passou a haver mais cuidado na autorização de orações em língua árabe” indicou.
Ainda hoje diz encontrar junto da Capelinha das Aparições muitos muçulmanos que rezam a Fátima.
“Falo com eles e penso: Deus e Nossa Senhora sabem o que fazem. Se Nossa Senhora, na sua mensagem falou a todos, porque não a eles? Ela lá sabe”, acrescentou.
Há uns anos encontrou em Fátima um sheik muçulmano com quem falou durante algum tempo.
“Falei-lhe das Aparições de Nossa Senhora, falei sobre os Pastorinhos e sobre a Mensagem. No final, ofereci-lhe as Memórias da Irmã Lúcia em língua árabe, cuja tradução tinha feito, e um terço. Meses depois, ele voltou e trouxe-me um livro de orações a Fátima, filha do profeta, e um terço muçulmano”, contou.
“Se calhar estava a tentar-me converter e eu estava a tentar convertê-lo!”, concluiu, com mais uma gargalhada.
Fonte: www.papa2017.fatima.pt
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