Inácio de Azevedo e companheiros, mártires por amor

A maior prova de amor: dar a vida

Inácio de Azevedo nasceu no Porto, numa família ilustre. Teve uma educação esmerada, tal como se previa para um descendente de famílias nobres. Ainda que aos 18 anos já fosse administrador dos bens familiares, decidiu-se pela vida religiosa e, em 1548, entra para a Companhia de Jesus, sendo ordenado padre em 1553.

Rapidamente se revelou um excelente religioso: as suas austeridades tiveram de ser refreadas pelo seu provincial, o padre Simão Rodriguez. Tendo em conta as suas capacidades, foram-lhe atribuídas várias funções, sucessivamente. Em 1565, Francisco Borja confiou-lhe a inspeção das missões das Índias e do Brasil: este trabalho demorou três anos. No seu relatório final, Inácio de Azevedo pedia reforços, para que a evangelização continuasse. A evangelização do Brasil só tinha 16 anos, no entanto, os Jesuítas já se tinham estabelecido em sete tribos do interior e no litoral já tinham seminários e escolas. Foi-lhe autorizado que recrutasse elementos em Portugal e Espanha e os chefiasse.

A 5 de junho de 1670, depois de alguns meses de preparativos, partiram para o Brasil 40 missionários, no navio mercante São Tiago, entre eles o próprio padre Inácio de Azevedo. Foram mais 30 companheiros num barco de guerra da esquadra que o governador do Brasil capitaneava.

Alguns dias depois, entre a Grande Canária e Las Palmas, a nau foi alcançada pelo corsário francês Jacques Sourie, que partira de La Rochelle para capturar os jesuítas. Depois de uma luta feroz, o São Tiago foi dominado pelos calvinistas; Sourie declarou salvar a vida de todos os sobreviventes com exceção dos jesuítas; estes foram então friamente degolados.

Assim morreu Inácio de Azevedo e os seus companheiros: nove eram espanhóis, os demais eram portugueses.

A partir do primeiro relato do martírio destes homens, a hagiografia salienta o facto de Inácio de Azevedo ter sido a primeira pessoa, a quem foi concedida autorização papal para transportar consigo uma cópia da imagem da Madonna di San Luca. Esta imagem era, naquela época, considerada uma imagem com carácter divino e com capacidades taumatúrgicas. Pensava-se que a essa imagem fosse um retrato de Nossa Senhora feito por  São Lucas ao vivo.

Até ao século XVIII acreditava-se que a imagem da Madonna di S. Luca,  presente na atual Catedral e antiga Igreja do Colégio Jesuíta de Salvador da Bahia, era a mesma imagem que Inácio de Azevedo teria nas mãos quando foi martirizado. Segundo alguns autores seiscentistas e setecentistas, esta imagem tinha ainda vestígios do sangue dos dedos do bem aventurado Inácio, pois segundo a tradição, os piratas foram incapazes de a tirar das mãos do cadáver. Na versão mais difundida desta tradição, o corpo do padre Inácio de Azevedo ficou à deriva segurando a imagem até que o seu braço direito a colocou suavemente nas mãos dum homem católico, que seguia numa outra nau. Na ilha da Madeira, este homem teria entregue a imagem aos jesuítas que a fizeram chegar ao colégio da Bahia.

Entre a tradição e a verdade histórica, sabemos que Inácio de Azevedo e os seus companheiros receberam a palma do martírio tal como tantos outros seus contemporârios, antepassados ou vindouros.

Que a vida e a morte destes mártires nos apontem o caminho de santidade: só por Deus!