Igreja: Do carnaval às cinzas, uma história ligada pela lua

O dia de carnaval, que se celebra na terça-feira, está ligado ao início do tempo da Quaresma, com as Cinzas, em datas determinadas pela Páscoa.

Participantes do Cortejo Medieval Carnavalesco desfilam nas ruas em Sanguedo, Santa Maria da Feira, 11 de fevereiro de 2018. JOSÉ COELHO/LUSA

A maior festa cristã, que evoca a Ressurreição de Jesus, é celebrada no domingo após a primeira lua cheia que se segue ao equinócio da primavera, no hemisfério norte.

Perante práticas pré-cristãs, a Igreja Católica viria a promover alterações que permitissem ligar o período carnavalesco com a Quaresma.

Uma prática penitencial preparatória da Páscoa, com jejum, começou a definir-se a partir de meados do século II; por volta do século IV, o período quaresmal caracterizava-se como tempo de penitência e renovação interior para toda a Igreja, por meio do jejum e da abstinência.

Tertuliano, São Cipriano, São Clemente de Alexandria e o Papa Inocêncio II contestaram fortemente o carnaval, mas no ano 590 a Igreja Católica aprova que se realizem festejos que consistiam em desfiles e espetáculos de caráter cómico.

No séc. XV, o Papa Paulo II contribuiu para a evolução do carnaval, imprimindo uma mudança estética ao introduzir o baile de máscaras, quando permitiu que, em frente ao seu palácio, se realizasse o carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, corridas de corcundas, lançamento de ovos, água e farinha e outras manifestações populares.

Sobre a origem da palavra carnaval não há unanimidade entre os estudiosos, mas as hipóteses “carne vale” (adeus carne) ou de “carne levamen” (supressão da carne) remetem para o início do período da Quaresma.

A própria designação de entrudo, ainda muito utilizada, vem do latim ‘introitus’ e apresenta o significado de dar entrada, começo, em relação a um novo tempo litúrgico.

Os católicos de todo o mundo começam na quarta-feira a viver o tempo da Quaresma, com a celebração das Cinzas, que são impostas sobre a sua cabeça durante a Missa.

Este é um período de 40 dias, excetuando os domingos, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão.

A Quarta-feira de Cinzas é, juntamente com a Sexta-feira Santa, um dos únicos dias de jejum e abstinência obrigatórios – e este ano, nem a coincidência com o ‘Dia dos Namorados’ leva a dispensar este preceito.

O jejum é a forma de penitência que consiste na privação de alimentos; a abstinência, por sua vez, consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre.

A sua concretização na disciplina tradicional da Igreja era a abstenção de carne, particularmente nas sextas-feiras da Quaresma, mas pode ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas, com um caráter penitencial.

Nos primeiros séculos, apenas cumpriam o rito da imposição da cinza os grupos de penitentes ou pecadores que queriam receber a reconciliação no final da Quaresma, na Quinta-feira Santa.

A partir do século XI, o Papa Urbano II estendeu este rito a todos os cristãos no princípio da Quaresma.

Na Liturgia, este tempo é marcado por paramentos e vestes roxas, pela omissão do ‘Glória’ e do ‘Aleluia’ na celebração da Missa.

Fonte: Agência Ecclesia