Homilia 13 de Julho | 2016

Também hoje é possível sermos “assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” (At 2, 42). Por isso aqui estamos com Maria, ela que está presente como esteve com os apóstolos no dia de Pentecostes!

Escutámos no Evangelho as palavras do Senhor: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que acredita em Mim não fique nas trevas” (Jo 12, 46).

Que a luz de Cristo ilumine a nossa mente, tão dispersa e fragmentada. Precisamos que a luz da fé, ilumine o nosso pensamento, para que nos salve da descrença, da indiferença religiosa, da tentativa de construirmos a vida sem Deus. Luz que nos liberte da idolatria do nosso eu, do dinheiro, do sucesso, ou do prazer. Luz que nos cure da superstição, hoje tão difusa e que leva à ilusão da procura de resolver os problemas de forma mágica, sem esforço, sem mudança de vida e sem conversão verdadeira ao Evangelho.

Que a luz de Cristo ilumine o nosso coração, tão ferido, dividido e insatisfeito. Ilumine os sentimentos, os afetos, as decisões e intenções mais profundas.

Que a luz da fé purifique o coração e a nossa memória, nos reconcilie connosco próprios, com os nossos limites, com os outros e com Deus. Que esta luz nos abra ao amor verdadeiro, fiel, puro e casto. Que esta luz nos liberte da impaciência, da frustração, da solidão, da desolação, do desespero e sempre nos reconcilie com a vida!

Que a luz de Cristo ilumine o nosso olhar e o nosso agir e no dê um olhar fraterno e mãos para repartir. A fé é como “um caminho do olhar, em que os olhos se habituam a ver em profundidade” (Papa Francisco, Lumen Fidei, 30). Mais ainda, a verdadeira fé, “não só olha para Jesus, mas olha a partir de Jesus, e com os seus olhos. A fé é uma participação no Seu modo de ver” (LF 18).

E o que é que vê e como nos vê Jesus? Vê o coração e não as aparências. Vê com o coração. Jesus vê-nos com olhar de misericórdia, ternura e perdão!

Esforcemo-nos por ver o coração, por ver com o coração, para que não nos deixemos cegar pelos nossos interesses e não fechemos os olhos àqueles que precisam da nossa ajuda material, espiritual, ou da nossa presença!

“Que é o homem, para que te recordes dele, ou o filho do homem para que cuides dele? Fizeste-o por um pouco inferior aos anjos, coroaste-o de honra e de glória, submeteste tudo aos seus pés” (Hb 2, 6-7) – Palavras que escutámos na segunda Leitura da Carta dos Hebreus.

A revelação cristã projeta uma nova luz sobre a identidade, sobre a vocação e sobre o destino último da pessoa humana. Toda a pessoa é por Deus criada, amada e salva em Jesus Cristo, e realiza-se tecendo multíplices relações de amor, de justiça e de solidariedade com as outras pessoas, na medida em que desenvolve a sua multiforme atividade no mundo. O agir humano, quando tende a promover a dignidade e a vocação integral da pessoa, a qualidade das suas condições de existência, o encontro e a solidariedade dos povos e das nações, é conforme ao desígnio de Deus, que nunca deixa de mostrar o Seu amor e a Sua Providência para com Seus filhos.

Uma vez que no rosto de cada homem resplandece algo da glória de Deus, a dignidade de cada homem diante de Deus é o fundamento da dignidade do homem perante os outros homens. Este é o fundamento último da radical igualdade e fraternidade entre os homens independentemente da sua nação, sexo, origem, cultura, classe ou religião.

São sábias as palavras do Papa Francisco na Alegria do Evangelho: “O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem”. (EG 2)

No centro de todas as aparições marianas, entre as quais a de Fátima, é constante a solicitude de Maria, por guiar a Humanidade, nos caminhos da Paz, mostrando-lhe os meios de a alcançar. Continuam, infelizmente, atuais as palavras de S. João Paulo II: “A mensagem de Fátima destina-se de modo particular aos homens do nosso século, marcado pelas guerras, pelo ódio, pela violação dos direitos fundamentais do homem, pelo enorme sofrimento de homens e nações e por fim, pela luta contra Deus até à negação da sua existência!

Nesta peregrinação, procuramos rezar, especialmente, pela Paz na Síria. Um conflito que coloca aquele povo martirizado a tentar sobreviver sob as bombas destrutivas e mortíferas.  Os mortos são muitos milhares! São seis milhões de deslocados internamente, 5 milhões de refugiados, muitos deles mortos nas águas do mediterrâneo. Unimos o nosso coração e nossa oração à do Santo Padre, pedindo a Nossa Senhora o fim da guerra na Síria.

Procuremos também colaborar com a Cáritas e outras organizações, para que se possa minimizar o drama deste povo sofredor. Pois, como afirma o Papa Francisco: “Não falta dinheiro para as armas, mas falta para tudo o resto!”.

A Virgem Maria está diante de nós, como Rainha da Paz e da Vida. Unidos a Maria, trabalhemos pela reconciliação e pela paz, com coragem, com a confiança que brota da fé de que o mal não prevalecerá.

Maria, nossa mãe e mãe da Igreja sede para os enfermos: Senhora da Saúde; para os tristes: Senhora da Alegria; para os desesperados: Senhora da Esperança; para os que estão na escuridão: Senhora da Luz; para os pecadores: Senhora da Graça; para os que são vítimas da guerra e da violência: Senhora de Fátima e Senhora da Paz!

+Nuno Almeida, Bispo Auxiliar de Braga