HOMILIA 13 AGOSTO | “Os governos e as autoridades políticas têm o dever moral de abrir a inteligência e o coração à situação dos migrantes e refugiados.”

Nesta peregrinação aniversária de 13 de agosto, particularmente dedicada aos Migrantes e Refugiados, D. Arlindo Gomes Furtado, Bispo de Santiago, Cabo Verde, referiu “a todos nós que experimentamos a presença de Cristo, que faz caminho connosco, Deus dirige-nos a sua mensagem, a sua Palavra que é luz, que é alimento, que é vida.”

“Neste texto de Deuteronómio Deus dirige-se primariamente ao seu povo de Israel, que fez a experiência do exílio no Egipto e experimentou essa condição. Hoje são 65 milhões de refugiados no mundo, o maior número de sempre, infelizmente num cenário de política antimigratória em vários países, que não nos deixa indiferentes.”

“Ainda hoje no nosso tempo, em pleno séc. XXI quando o Papa Francisco fala dos quatro verbos: “acolher, proteger, promover e integrar”, ele interpela vivamente a consciência de todos, não deixando ninguém indiferente, pois ontem como hoje, se trata de uma realidade humana que nos espicaça em carne viva. Por isso, é urgentíssimo que as consciências se despertem e produzam ações concretas em favor dos refugiados, a começar pela ação de ACOLHER, acolher o irmão nalgum ponto da Tera, que é, afinal, pertença de Deus. Os governos e as autoridades políticas dos Estados Unidos e da Europa, por um lado, e dos países de onde partem esses irmãos, por outro lado, têm o dever moral de abrir a inteligência e o coração e de se unir em vista duma solução duradoira e pacífica para os gravíssimos problemas dos migrantes em geral e dos refugiados em especial.”

“A 2ª leitura da nossa celebração, tirada da carta aos Hebreus, nos reenvia aos aspetos essenciais da nossa condição comum e do nosso destino final: todos somos feitos da mesma substância, qualquer que seja o nosso estatuto social. Tendo consciência disso, a solidariedade deve ser algo de espontâneo e efetivo entre os homens.”

“Caros peregrinos, entre os 65 milhões de refugiados no mundo, mais de metade são crianças. Entre elas, a maior parte não vai à escola. Dentre os 65 milhões, mais de 30 milhões ficam deslocados por mais de 10 anos, sem possibilidades de trabalho. Podemos concluir que faz toda a diferença JESUS ser acolhido e servido nestes milhões de «irmãos mais pequeninos» espalhados pelo mundo. Algo deve mudar. “Mas que posso eu fazer?”, pode cada um
perguntar-se.”

“No Evangelho de hoje, S. Mateus apresenta-nos Jesus Menino, Maria e José, a Sagrada Família, na estrada da migração, em viagem de ida ao Egito e do regresso. O perigo de morte ameaça a vida do Menino. O Providência divina indica a solução e aponta o destino. José e Maria disponibilizam-se a colaborar e põem-se a caminho.”

“É por isso que, firme na sua relação interpessoal com Jesus, alimentado pela Palavra da vida, pelo sacramentos e pela oração diária, o migrante deve promover uma fé criativa e transformadora, enfrentando e superando desafios, assumindo-se como discípulo missionário de Cristo, integrando-se progressivamente na Igreja local da sua residência como pedra viva da Igreja do Senhor, nossa casa comum. Neste contexto, faço um forte apelo aos Migrantes de nunca negligenciarem a transmissão da fé cristã aos próprios filhos, como a melhor herança.
Trata-se da fé da Igreja de Jesus Cristo, que faz de todos membros de uma só comunidade. Uma comunidade de fé, chamada a ser «fermento de humanização» através dos valores cristãos num mundo globalizado, desafiado hoje a encontrar soluções globais para crises globais, como é o da migração e dos refugiados. Tais soluções são possíveis. Basta ver o exemplo do Uganda, em África, que acolheu e deu oportunidade de trabalho a milhares de refugiados, que ganharam autoestima e agora cuidam de si mesmos, sem depender de ajudas externas. Sim, é necessário e possível acolher, promover e integrar os migrantes e refugiados.”