“Hoje, estamos a iniciar a peregrinação mais difícil e interpeladora deste Santuário”

Na conferência de imprensa que antecipou a Peregrinação Internacional Aniversária de Maio, o cardeal D. António Marto apresentou a fraternidade como resposta ao medo gerado pela pandemia.

“Pelo contexto da pandemia da Covid-19 esta é a peregrinação mais difícil deste Santuário e, porventura, a mais interpeladora. Mas o vazio que os olhos alcançam nunca esteve tão preenchido: O Santuário de Fátima, hoje e amanhã, é do tamanho do mundo”, começou por dizer o cardeal D. António Marto aos jornalistas, na habitual conferência de imprensa que antecipa as celebrações da Peregrinação Internacional Aniversária de Maio.

foto | Canção Nova Portugal by Jorge Silva

No encontro com os jornalistas, que decorreu no espaço aberto da Colunata, o bispo de Leiria-Fátima mostrou-se optimista em relação à participação espiritual de muitos peregrinos nas celebrações que hoje marcam o arranque da Peregrinação que assinala a primeira Aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos na Cova da Iria.

“Quando anunciei a suspensão da Peregrinação nos termos habituais, sem a presença física dos peregrinos, acrescentei estaríamos aqui espiritualmente todos unidos, como Igreja, com Maria e, segundo os ecos que me têm chegado, muita gente estará unida espiritualmente às celebrações”, disse o prelado.

Ao estabelecer “alguma semelhança” entre a pandemia atual e a que o mundo viveu há cem anos, o cardeal português enumerou as “características devastadoras e desastrosas” geradas por ambas: “mortes; doentes; desamparados; abandonados e gente possuída pelo medo, angústia, incerteza e insegurança face ao futuro”, ao projetar dias difíceis gerados por uma “pandemia que não é apenas um fenómeno biológico, mas tem repercussões e consequências graves em todos os âmbitos da vida: pessoal; familiar; educativo; laboral; económico-financeiro”.

Na análise ao contexto atual de crise mundial, o prelado apresentou a fraternidade, pela responsabilidade e solidariedade, como resposta ao medo.

“Nós, cristãos, percebemos uma coisa que está no centro do anúncio do Evangelho: a salvação chega-nos pelo outro, pelo seu comportamento, pelo seu respeito e pela sua responsabilidade. Por isso, temos de ultrapassar aquela atitude espontânea do medo, diante das ameaças que estão à nossa frente, e assumir exigências que se põem diante dos nossos olhos… Todos somos interdependentes e esta interdependência tem de se traduzir na responsabilidade e na solidariedade.”

Concretamente em relação às consequências sociais e económicas que advêm da pandemia, o cardeal D. António Marto sublinhou a “exigência de uma novo impulso de solidariedade e responsabilidade centrado na dignidade humana”.

Ao exprimir a sua proximidade com as vítimas da pandemia, o bispo de Leiria-Fátima lembrou a mensagem de confiança e esperança trazida por Nossa Senhora, durante as Aparições de Fátima e afirmou que a pandemia não exige apenas uma terapia física, mas também espiritual.

“Unimo-nos à dor das vítimas diretas e indiretas e queremos que sintam que não estão sós. Recordo a comunicação de confiança que Nossa Senhora trouxe aos Pastorinhos para um mundo que, então, vivia também em condições dramáticas: ‘Eu nunca vos deixarei… O meu Imaculado Coração será o vosso refúgio e o caminho que vos conduzirá até Deus’.”

D. António Marto realçou ainda o papel de responsabilidade que a Igreja em Portugal assumiu no contexto atual de pandemia, que demonstrou “grande preocupação com a saúde pública, procurando evitar o contágio do vírus, tomando todas as precauções, chegando à suspensão das celebrações comunitárias”.

“Mesmo depois desta fase de desconfinamento, não quer dizer que a pandemia já está vencida”, alertou o prelado, ao assumir a continuação das “precauções necessárias”, por parte da Igreja, em articulação com as autoridades governamentais e da saúde, para evitar o contágio.

O cardeal D. António Marto lembrou ainda a comemoração, no passado dia 8 de maio, do final da II Grande Guerra Mundial na Europa; e, no dia 9, a comemoração da declaração de Schuman, que marca a origem da fundação da União Europeia, perspetivando estes momentos como uma “interpelação para a Europa continuar unida e solidária, para fazer face às consequências da pandemia atual”.

No final, o bispo de Leiria-Fátima evocou o Papa São João Paulo II, na comemoração do seu nascimento.

“Foi o Papa de Fátima e da Europa, porque foi um lutador pela queda dos muros que dividiam o continente, convidando-a a respirar com os dois pulmões: do ocidente e do oriente, convergindo na cooperação comum.”

Fonte: Santuário de Fátima