A morte e o sofrimento entraram no mundo por inveja do diabo
Fui procurado por uma mulher que dizia, cheia de raiva e revolta contra Deus: “Como pode ser bom esse seu Deus, se me deixa perecer a vida inteira? Tenho um pai com uma doença mental progressiva e degenerativa, gasto a minha vida em seus cuidados, trocando fraldas, sendo mordida e caindo por não suportar seu peso. Tenho mais de 50 anos e não pude me casar, pois não há quem cuide dele, e não tenho coragem de abandoná-lo”.
Foi como um raio a palavra que me veio à boca: ”A morte, os males e o sofrimento entraram no mundo por inveja do diabo”. Interessante o que aconteceu em seguida: a mulher se sacudia toda, como num imenso calafrio, e já não se lembrava dos primeiros minutos de nossa conversa.
Rezei por ela. Falei-lhe do grande amor que o Senhor lhe tinha e de como Deus cuidava dela. Agora, já há alguns anos que esta mulher vive para Deus. Tornou-se até difícil acreditar que aquelas palavras de ódio que ouvi saíram de sua boca.
Deus quer o seu bem
Quantas pessoas, neste mundo, vivem tristes, amarguradas e revoltadas, pensando que foi Deus quem lançou sobre elas este ou aquele mal (ou enfermidade)?
É clara a Palavra de Deus quando diz: “Ora, Deus criou o homem para a imortalidade, e o fez à imagem da sua própria natureza. É por inveja do demónio que a morte entrou no mundo, e os que pertencem ao demónio prova-la-ão”. (Sb 2,23-24)
A maneira da Sagrada Escritura denunciar que pertencermos ao demónio é entrando no pecado e nos afastando de Deus. Pelo pecado, o diabo adquire um certo domínio sobre o homem, embora este continue livre. O pecado original causa ‘a servidão debaixo do poder daquele que tinha o império da morte, isto é, do diabo’.
Deus não castiga
Uma das artimanhas do maligno é fazer-nos pensar que Deus nos castiga, que tira de nós as pessoas que amamos, que semeou no mundo o sofrimento e que tolhe a nossa liberdade, proibindo-nos uma série de coisas. Mas quem poderia negar que grande parte dos males que sofremos são consequências de nossas escolhas (fumo, bebida, drogas, prostituição, desordens etc.) ou consequência da escolha de outros sobre a nossa vida (estupros, assassinatos, corrupção, guerras, mentiras, negligências), ou até mesmo fruto da mentalidade de um mundo que excluiu Deus (onde a família é vista como ultrapassada; o adultério, o aborto e a promiscuidade são tidos como coisas naturais, enquanto são uma degradação da natureza).
Deus não é o culpado, como incita o demónio. Certamente, o homem tem uma parcela de culpa indiscutível, mas o Apocalipse nos mostra o instigador: “O céu, alegrai-vos! Mas terra e mar, cuidado!, pois o demónio desceu a vós com grande furor e ira”. O maligno se obstina na destruição daqueles que Deus ama, com toda sorte de males. O que Ele poderá fazer por nós, se com nossas atitudes recusamos Sua proteção?
O problema é que nos afastamos de Deus. A boa notícia é que podemos voltar para junto d’Ele e nos entregarmos à Sua proteção e ao Seu amor.
Volte para Deus
Entrevistei um homem que dizia: “Feliz a bala que me pôs nesta cadeira de rodas! A minha vida não era vida, era só aparência. Quando a bala me atingiu, não perdi apenas os movimentos, também o emprego, todos os amigos, a noiva com a qual tinha casamento marcado e tudo o que eu chamava de vida”. Ele concluía dizendo: “Hoje, sou casado com alguém que me ama como eu sou. Tenho amigos que se preocupam comigo e não com os bens e posses que tenho. A bala me tirou as pernas, mas me devolveu o sentido da vida!”.
Sinto uma alegria quando encontro pelo caminho pessoas assim, que tiram os olhos das desgraças e os elevam para Deus. Não se trata de otimismo barato, mas de viver da fé: “Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus”.
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