Alexandre Marto é gestor hoteleiro, desempenhou vários cargos em instituições públicas de promoção e desenvolvimento turístico e é o entrevistado do PODCAST #fatimanoseculoXXI, de maio
Fátima está no coração das pessoas e, no caso de Portugal, entranhada no ADN do povo português, mas o Santuário só se diz com peregrinos. Por isso, assinalar maio com o Santuário vazio “é triste e doloroso”, afirmou ao PODCAST#fatimanoseculoXXI Alexandre Marto, gestor hoteleiro da marca Fatima Hotels, mesmo no coração da Cova da Iria.
Numa leitura crente da atualidade, quase dois meses depois de a cidade de Fátima ter praticamente paralisado a sua atividade principal, na sequência da suspensão das celebrações religiosas comunitárias com presença de fiéis, decretada pela Igreja Portuguesa, desde o dia 14 de março, o gestor lembra que a “situação é insustentável” do ponto de vista económico, mas “sobretudo no sentido espiritual.”
“Há milhões de pessoas que nos contactam. Vivemos quase numa situação de prisão ao contrário: as pessoas querem vir e não podem”, refere com a voz conformada.
“O Santuário de Fátima e a Igreja, em geral, estão a ter uma atitude corretíssima, fechando-se um pouco e encontrando novas formas de comunicar e de se manterem próximos dos seus peregrinos, através dos meios digitais. Este é o único caminho e terá muita força para manter a ligação, mas terá de recomeçar a fazer o que sempre fez”, isto é, a “receber, a acolher peregrinos”.
“Um santuário sem peregrinos não faz sentido, sobretudo em Fátima: é inevitável abri-lo até para dar este alimento às pessoas”, refere ao sublinhar a coincidência entre o início do Santuário, a doença e a morte de Santa Jacinta e os dias de hoje.
“Hoje vemos o hospital D. Estefânia, onde esteve internada a pequena Jacinta, sozinha, em 1920. Vemos, dizia, o Hospital a ser notícia por acolher doentes num contexto que nos faz recuar cem anos. Apesar de a humanidade ter avançado, de ter tido várias revoluções tecnológicas, no essencial, continua a ser a mesma humanidade: a ter sede, a ter anseios, e entre eles está a necessidade de termos lugares onde possamos encontrar resposta para estes anseios, lugares como Fátima. Precisamos de Fátima”, conclui.
Num contexto particularmente difícil para todos, Alexandre Marto recorda, por contraste com a atualidade, a grande festa nacional, e no Santuário em particular, que foram as visitas dos Papas à Cova da Iria, justamente nos meses de maio.
“Foram momentos extraordinários para Fátima e para o país. Mais do que um momento de oração ou de fé, que se sente sempre em Fátima, o que recordo é a festa, a alegria e o sentimento de paz”, refere ao destacar que estes “são os dois grandes pilares da interpretação da mensagem de Fátima”, depois desta pandemia.
“Fátima continua a ser no coração das pessoas uma referência e, portanto, julgo que as pessoas vão regressar a Fátima, vão voltar a dormir em Fátima e creio mesmo que Fátima será uma peça fundamental para o crescimento do turismo em Portugal”, afirma.
“Este núcleo, no centro do país é muito forte; à volta de Fátima existem coisas muito importantes, mas não há nada que supere Fátima. Falamos de uma diferença de centenas de milhares de visitas para milhões e, por isso, sem Fátima e sem o Santuário o turismo no centro não seria o mesmo”.
“Não sou daqueles que acha que o mundo vai sofrer imenso – vai mudar com certeza –, mas os sonhos, as ambições das pessoas, a sua vontade não mudará estruturalmente… a natureza humana é o que é ”, assinala.
“Esta paragem será apenas mais uma lição. Um dia será feito o balanço histórico de tudo o que está a acontecer e a ser decidido pelo governo, pelas famílias, pelas empresas, mas a natureza humana será a mesma: as pessoas vão querer viajar, vão querer rezar, vão querer ir a lugares sagrados e ver novas coisas. Isto é verdade para os portugueses e para qualquer ser humano”, afirma Alexandre Marto.
“Por conseguinte, Fátima dentro deste enquadramento da curiosidade, da fé e dentro da sua singularidade é um ativo muito importante para o turismo nacional e internacional. Já era e vai continuar a ser”, sublinha ainda.
“Fátima vai ter um papel essencial para reerguer Portugal. Diria até que Fátima mais do que um lugar de cura vai ser um lugar de agradecimento”.
“Numa primeira fase veremos um crescimento dos números do turismo no sentido técnico do excursionismo, isto é, as pessoas visitarão Fátima, mas regressarão a casa no mesmo dia e não pernoitarão em Fátima”.
“O impacto financeiro desta crise nos rendimentos familiares; o receio das pessoas em ficar fora de casa, até por motivos sanitários, e o facto de haver constrangimentos à mobilidade por parte dos grupos internacionais, que eram o grosso dos peregrinos que pernoitavam em Fátima, pode comprometer a recuperação imediata, mas penso que daqui a dois anos haverá uma nova normalidade e os menos afetados vão voltar a ser turistas e virão a Fátima”, esclarece.
“Fátima vai recuperar os milhões a que nos tem habituado, embora não vá ser uma coisa imediata”, afirma.
Fátima é um “fenómeno espiritual e de fé”. “Se há alguma coisa boa em tudo isto é que, neste momento, há milhões de pessoas que tiveram de fazer uma pausa nas suas vidas e foram obrigadas a pensar. Não sendo um otimista em relação ao que se passa no mundo”, que do ponto de vista económico será “aterrador”, esta crise “recentra-nos” numa questão sobre “o que andamos cá a fazer e qual o sentido de tudo isto”, diz Alexandre Marto.
“Essas duas reflexões vão desembocar numa resposta espiritual que a ciência nunca conseguiu dar e Fátima será essa resposta e creio que muitos, ainda que não sejam católicos, até virão a Fátima em busca dessa resposta”.
Quanto ao papel do Santuário “é o fundamental, e o que está à volta é perfeitamente acessório. Este é o momento histórico em que as pessoas, os estados, as instituições terão de escolher o caminho futuro”, refere.
“Estamos a viver uma guerra contra o inimigo comum que é uma doença. Não sei o que virá a acontecer, mas temos uma oportunidade única de, pela primeira vez, colocarmos todos a cooperarem, e eu não vejo outro caminho, embora tema, pelos sinais políticos que nos são dados, que isso possa não acontecer. Tenho medo de que os equilíbrios políticos se possam desenvolver no sentido errado havendo o risco de um desmoronamento da ordem política e social mundial tal como a conhecemos”, afirma.
A Igreja “tenha um papel essencial na moderação e controle dessas tendências, contrabalançando-as com uma visão universalista e, mais uma vez, para a Igreja Católica, Fátima é o principal altifalante, não só no país, mas em todo o mundo e tem um papel fundamental para contrabalançar estas visões”, afirmou ainda.
O PODCAST #fatimanoseculoXXI por ser ouvido AQUI .
Fonte: Santuário de Fátima
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