D. José Ornelas, novo líder dos bispos portugueses, fala sobre o papel do Santuário na Igreja em Portugal e da atualidade da mensagem de Fátima, numa leitura a partir de Maria como arquétipo de uma Igreja em saída, disponível para a construção de uma nova Humanidade.
Fátima “é incontornável” na realidade “não só da Igreja mas do país” (Portugal), e o que quer que se pense deste lugar, deste acontecimento e desta mensagem estará sempre presente na vida do país seja para crentes seja para não crentes, afirma D. José Ornelas, bispo de Setúbal e, desde dia 16 de junho, o novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
“É inevitável o confronto com Fátima no caminho da fé de milhares e milhares de cristãos”, afirma o bispo de Setúbal para quem a crítica “à volta de Fátima” se traduz muitas vezes num questionamento sobre “se há fé ou não há fé nas pessoas que aqui vêm”.
“A situação das pessoas que dizem ‘vou a Fátima mas não vou à Igreja’ tem de ser desmontada e estudada como todas as questões religiosas. Na verdade, Fátima chama e isso diz muito da sede de espiritualidade que existe no mundo de hoje e do que esta dimensão materna da Igreja continua a ser como um apelo à humanização da Humanidade que transparece ao longo do Evangelho, no qual Maria é um ícone presente, desafiador e inspirador da Humanidade”, afirma D. José Ornelas.
“Há cem anos, quando Maria se apresentou aos Pastorinhos fê-lo numa época difícil, num contexto de pandemia, que até vitimou dois deles. Hoje, Maria continua a revelar-se novamente como modelo”, acrescenta ao sublinhar que “desde o tempo de Jesus que Ela surge como a nova Humanidade”.
“Ela é a primeira, a mulher da coragem, da nova Humanidade, que reinventa a sua agenda e o seu projeto, deixando-se guiar por Deus e pelo espírito, reinventando o caminho da vida. Ela percebe que algo de novo está a nascer; Ela não sabe o que é mas dedica-se a todo este projeto que desafia toda a vida”, refere e acrescenta: “é um tempo novo que Ela não consegue entender mas que grava no seu coração e é obrigada a discernir”.
“Atualmente não vivemos de modo diferente; há cem anos os Pastorinhos não viveram de um modo diferente… quando foram chamados a viver e a construir uma nova Humanidade disseram sim sem reservas, de forma discreta e humilde”.
“Isto não é uma questão piedosa; é o arquétipo da Igreja”, esclarece ao adiantar que, “quando olhamos para este tempo, com a Igreja com tantos constrangimentos mas a fazer o que deve – respeitar a vida –, estamos a contribuir para algo de novo, que já não é idêntico a ontem”.
“Durante este tempo, a Igreja não fechou portas. Deixamos de ter celebrações com fiéis não por comodismo ou por medo mas por respeito pela vida. Fizemos o que tínhamos de fazer para agora criarmos um mundo novo”, reforçou.
O prelado ressalva, no entanto, que este tempo novo exige dos cristãos, como há cem anos, uma atitude de compromisso que não pode assentar “nem no comodismo nem no medo”.
D. José Ornelas fala do papel dos jovens na Igreja e não deixa de fazer uma comparação entre os jovens de hoje e os Pastorinhos, recuperando uma expressão evangélica: “Nesta pandemia os jovens estiveram na linha da frente nas paróquias, arranjando a forma de transmitir a Eucaristia, fazendo cabazes para levar aos mais necessitados, dando de comer a quem tinha fome. Como no Evangelho, que nos lembra como os pequeninos foram os mais puros de coração, ou como em Fátima com os Pastorinhos, que se entregaram sem reservas. Esta Igreja não é uma Igreja acomodada nem com medo; é uma Igreja que se abre numa nova comunhão de afetos e partilhas”, sublinha.
“Volto a Maria: uma mulher jovem e forte, que teve de defender o seu bebé contra perseguidores, contra preconceitos… Uma mãe que O viu rasgar mundos e que ficou perplexa com as opções do Filho, como hoje ficamos e ficam tantas mães, que não entendem as opções que os filhos tomam. É essa mulher que importa sublinhar: que não percebe mas, confiante, está disposta a mudar paradigmas”, referiu.
“Esta é a Igreja que queremos; é o arquétipo que nos pode salvar! O mundo precisa desta chave de interpretação sempre renovada”, e Fátima “lembra-nos isto todos os dias”.
No Podcast, o novo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa fala ainda da Jornada Mundial da Juventude de 2023, em Lisboa; do papel dos jovens na Igreja e no mundo; da necessidade de criação de uma comunidade intergeracional em que todos possam ser protagonistas e de como bate o seu coração de sacerdote dehoniano, centrado em Cristo, por Maria, numa perspetiva mais intimista.
Fonte: Santuário de Fátima
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