Vai arrancar sexta-feira, dia 20 de Novembro, o processo de beatificação e de canonização de dois missionários jesuítas assassinados durante a guerra civil que fustigou Moçambique durante 16 anos.
Os dois sacerdotes, o português Sílvio Alves Moreira, e o moçambicano João de Deus foram mortos num cenário de muita violência na noite de 30 de Outubro de 1985, na localidade de Champutera, Diocese de Tete.
O Bispo, D. Diamantino Antunes, contextualiza para a Fundação AIS o incidente que agora vai ser estudado em toda a profundidade por uma equipa nomeada pelo prelado. “Tudo Aconteceu da seguinte maneira: um grupo de homens armados naquela noite invadiram a casa onde residiam, arrastaram-nos para fora, levaram-nos para um lugar isolado, apertado e, com grande violência, mataram-nos a tiro e também usando armas brancas.”
Para o Bispo de Tete, não restam muitas dúvidas de que “a razão pela qual foram mortos tem a ver com a sua acção pastoral” e isso irá agora ser avaliado com base na recolha de documentos e testemunhos. Diz ainda o prelado que ambos os sacerdotes jesuítas “eram pastores muito empenhados na defesa dos direitos humanos, da população e do anúncio do Evangelho no contexto muito difícil da revolução moçambicana de cariz marxista-leninista, e também no contexto da guerra civil”.
O facto de o país africano estar mergulhado numa guerra civil que opunha partidários do movimento Renamo e o exército, ajuda a qualificar o ataque aos dois missionários “Eles foram de facto homens de paz, de justiça e através das sua acção, da sua palavra, denunciavam os males da guerra e por isso pagaram o preço da sua ousadia e da sua coragem. Foram mortos de modo violento por razões que têm a ver com o seu agir pastoral. Há razões de fé, há razões também de justiça e de defesa da noção da paz”, explica D. Diamantino Antunes.
Para que o processo de beatificação e de canonização tenha início foi também muito importante a fama de martírio que os dois missionários granjearam ao longo do tempo junto do povo moçambicano. “De facto, após a sua morte foi crescendo, ao longo dos anos, a convicção de que são mártires, mártires da fé, mártires da esperança, e mártires da paz, porque optaram por ficar junto do povo num momento bastante difícil, quando lhes tinha sido proposto sair, ir para um sitio mais seguro, mas eles responderam que o pastor, que o bom pastor não abandona as suas ovelhas no perigo”, diz o Bispo de Tete à Fundação AIS.
A fama de martírio de que fala D. Diamantino Antunes é particularmente sentida entre a comunidade cristã local. Para eles, mas também para aqueles que já ouviram falar do testemunho dos dois jesuítas, “há a convicção de que são mártires da fé”. “E isso é muito importante para se iniciar um processo”, acrescenta o prelado. “Se não houver fama de martírio e de santidade, uma causa de beatificação e de canonização não tem pés para andar. As provas que temos, os testemunhos que estamos a recolher e sobretudo a fama de martírio são a garantia de que é uma causa que terá muitas probabilidades de chegar a bom porto.”
Departamento de Informação da Fundação AIS | ACN Portugal
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