Precisamos pensar sobre a realidade da morte
Caro internauta, tendo em vista a aproximação do dia 2 de novembro, momento em que a IgrejaCatólica celebra o dia dos fiéis defuntos, proponho-me a apresentar quatro breves artigos, cujo tema pode gerar certa rejeição na maioria das pessoas: a morte. Contudo, trata-se de um tema bastante relevante, uma vez que a morte perpassa a existência de todos os seres humanos, mais ainda, de todos os seres vivos.
Embora se tenha consciência da importância desse assunto, quero lançar alguns questionamentos bastante provocadores: você tem o costume de falar sobre a morte nas rodas de amigos? Qual a família, à mesa de jantar, discute esse tipo de assunto tão inquietante? Você já parou para imaginar como seria o dia da sua morte? Aqueles momentos finais, derradeiros, os últimos minutos? Quais seriam os seus pensamentos? Como você gostaria que esse momento transcorresse? Já imaginou quem estaria ao seu lado?
Sei que essas perguntas causam tensão e até rejeição. Entretanto, em última análise, todas essas perguntas não são as mais importantes. Existe, porém, outro questionamento mais relevante, e eu gostaria de apresentá-lo a você; antes, no entanto, quero fazer a narrativa de um pequeno testemunho.
Breve testemunho
Certa vez, fui convidado para falar sobre a morte num Grupo Jovens Sarados. Lembro-me de que, no início da minha colocação, fiz uma rápida dinâmica com os jovens para quebrar o gelo. Simulei, com tecidos, duas portas, uma ao lado da outra. Na primeira, havia uma placa com os seguintes dizeres: “Entre para aprender a morrer”. A placa da segunda porta propunha outra coisa: “Entre e descubra uma forma de viver mais”.
Disse aos jovens que aquela dinâmica não se tratava de uma simples brincadeira, e fiz o apelo para que eles fossem bem honestos, examinassem a consciência e escolhessem uma das portas para entrar. Um a um eles foram se levantando e fazendo a sua escolha. Faço com você a mesma dinâmica. Qual porta você escolheria, a que propõe ensinar a morrer ou a que propõe apresentar uma maneira de viver mais?
Não sei qual porta você escolheria, mas aqueles jovens de quem falei, anteriormente, surpreenderam-me quando me dei conta de que a grande maioria deles estava escolhendo passar pela primeira porta, justamente a que propunha ensinar a morrer. Confesso que fiquei enormemente surpreso. Dali em diante, eu me tranquilizei. Percebi que eles estavam dispostos a ouvir o que eu tinha para falar. A atitude deles reflete uma evidência, a que esse tema desperta, além da rejeição, certa curiosidade.
A morte cristã possui um sentido positivo
Caro leitor, é bem possível pensar na morte de maneira bastante saudável. Entretanto, não se trata de uma cega prestação de culto à morte ou de dar uma projeção maior do que ela realmente possui. Se o fato de pensar seriamente na morte nos ajudasse a encarar a vida com olhos menos materiais, um excelente movimento já teria sido realizado em nós.
O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 1010, afirma que, “graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo”. Portanto, entender o sentido cristão para a morte é aprender a valorizar a própria vida. Exatamente nesse ponto nós podemos extrair uma direção valiosa para a nossa vida: é preciso encontrar um sentido para a morte.
Morte sem sentido é desespero, é peso, angustia, desolação, choro, descrença e maldade. Morte com sentido é esperança, júbilo, amparo, alegria, misericórdia, descanso, encontro e fé.
Perante a morte, o que realmente tem valor?
Você já se fez, seriamente, esse questionamento? Por se tratar de uma pergunta fundamental, quero refazê-la mudando alguns termos: perante a morte, o que realmente importa? Se você nunca parou para se fazer essa pergunta, penso que você deveria reservar um tempo e fazê-la seriamente a si mesmo. Diante da morte, o que realmente tem valor?
Algumas pessoas, por acharem que a morte conduz a um inevitável e triste fim, podem considerar que, diante dela, tudo perde o valor. Essa forma de pensar precisa ser respeitada, mas é fato que também existe outra perspectiva de pensamento: algumas coisas possuem grande valor diante da morte.
Vou até mais longe! Aquelas coisas que consideramos mais valorosas são reveladas mais facilmente diante da morte. Diante dela, as fatuidades da vida temporal, coisas, situações, pessoas perdem o seu valor. Subsistem, então, somente as coisas de maior valor.
Infelizmente, nossa sociedade não foi acostumada a fazer o salutar exercício de meditar sobre a morte de forma madura. O assunto é carregado de superstição, crendices, imaginações, tabus. Essa maneira de pensar leva muitos a perceberem o que realmente importa na vida quando elas já estão se preparando para partir.
Desafio
Leia com atenção esta frase: “Muitos santos e santas da nossa Igreja conseguiram encontrar o verdadeiro sentido para a morte e, com isso, aprenderam a viver bem”. Se, ao ler essa frase, você foi levado a pensar ou se recordar de algum santo em especial, quero lançar a você um desafio. Anote, agora mesmo (não deixe para depois), em um pedaço de papel, o nome desse santo, e logo abaixo escreva. “Proponho-me a ser amigo de <nome do santo ou da santa>”. Eu, por exemplo, fui levado a pensar em “São Maximiliano Maria Kolbe” (e já fiz o exercício de anotar seu nome).
O segundo passo é colar esse papel em algum local que você olhe com frequência. Seja na parede do seu quarto, na cabeceira da sua cama, no espelho do banheiro, na porta da geladeira, dentro do seu carro. Não importa o local, desde que sirva para recordá-lo dessa tarefa.
O terceiro e último passo, o mais importante, virá agora. Você vai dedicar um pouco de tempo, a cada dia, para aproximar-se desse santo. Se você puder, compre um livro que fale sobre ele, que conte a sua história, o que ele realizou por meio da sua fé. Mas essa tarefa não é para ser realizada numa única oportunidade. Faça um caminho de aproximação e de aprofundamento na amizade com ele. Estreite os laços com esse santo. Não é para ter pressa. Faça isso e depois partilhe nos comentários abaixo.
No próximo artigo, lançaremos mais um importante questionamento: “Pelo que você estaria disposto a morrer agora?”. Vamos descobrir que Deus nos criou para um fim, quer dizer, a existência humana possui um sentido maior. Também vamos entender o que a Igreja Católica diz sobre a morte. Além disso, falarei brevemente acerca de um retiro mensal feito por todos os missionários da Canção Nova. Nesse retiro, preparamo-nos para bem morrer. Vale a pena ler o segundo artigo!
Deus abençoe você e até amanhã!
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