O Papa relata todas as situações da família com muito amor e bondade
São muitas as razões para nós católicos lermos essa exortação do Papa Francisco. Eu gostaria de relacionar aqui, ao menos, dez dessas razões. É uma palavra do Santo Padre que enche de esperança os fiéis ante as dificuldades e as diversas situações das famílias e matrimônios. É um texto fácil de ser lido, embora extenso. O Papa conseguiu falar de todas as situações da família com muito amor e bondade, com o olhar de Jesus onde ninguém deve sentir-se condenado nem desprezado.
1. O Papa aborda amplamente as realidades da vida familiar: no primeiro capítulo, ele nos dá um conjunto de citações bíblicas referentes à família; no segundo, faz uma colocação geral sobre a situação; no terceiro, indica a vocação da família; no quarto e quinto, fala do amor conjugal; no sexto, indica as atividades pastorais necessárias para a família; no sétimo capítulo, ele fala da importância da educação dos filhos; e no oitavo, explica sobre a integração dos divorciados recasados, os chamados de “segunda união”.
Ameaças nos dias de hoje
2. Ele mostra que a família está sendo muito ameaçada nos dias de hoje, e fala dessas ameaças com clareza: o divórcio, o casamento de pessoas do mesmo sexo, a adoção de crianças, o aborto, a eutanásia, o suicídio assistido, a pílula abortiva do dia seguinte, o útero de aluguel, as manipulação de embriões, inseminação artificial, controle artificial e exagerado da natalidade, uniões livres com simples coabitação, sexo sem compromisso, ataques feministas à família, ao casamento e maternidade, ideologia de género etc.
3. O Papa exorta as famílias a viverem com coragem as dificuldades de cada dia. “Como Maria, (as famílias) são exortadas a viver com coragem e serenidade, os desafios familiares tristes e entusiasmantes, e a guardar e meditar no coração as maravilhas de Deus (cf. Lc 2, 19.51)” (n.30). Ele exorta os casais a nunca acabar o dia “sem fazer as pazes em família”, a dialogar sem rancores, a falar bem reciprocamente, tratando de “mostrar o lado bom do cônjuge para além de suas fraquezas e erros”, a ter confiança no outro sem controlá-lo, deixando “espaços de autonomia”. E convida também para “contemplar” o cônjuge, recordando que “as alegrias mais intensas da vida brotam quando se pode provocar a felicidade dos outros”.
A importância de defender a família
4. O Santo Padre fala da importância de se defender a família e o matrimônio frente às ideologias que os desvalorizam: “Como cristãos, não podemos renunciar a propor o matrimônio, para não contradizer a sensibilidade atual, para estar na moda, ou por sentimentos de inferioridade face ao descalabro moral e humano”. (n.35)
5 – O Papa fala da importância de a família ter uma forte vida espiritual com os meios que a Igreja nos oferece: “A família é chamada a compartilhar a oração diária, a leitura da Palavra de Deus e a comunhão eucarística, para fazer crescer o amor e tornar-se cada vez mais um templo onde habita o Espírito”. (n. 29)
6. Os jovens são uma grande preocupação do Papa em relação à família. Ele disse: “Precisamos encontrar as palavras, as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e até mesmo de heroísmo, para convidá-los a aceitar, com entusiasmo e coragem, o desafio de matrimônio” (n. 40). Ele diz aos jovens que devido à “seriedade” do “compromisso público de amor”, o matrimônio “não pode ser uma decisão apressada”, mas também não se deve adiá-la “indefinidamente”, e que desejos, sentimentos, emoções “ocupam um lugar importante no matrimônio”.
7. O Papa mostra que hoje há um perigo dos direitos individuais estarem superando e prejudicando os direitos da família: “Uma família e uma casa são duas realidades que se reclamam mutuamente. Esse exemplo mostra que devemos insistir nos direitos da família, não apenas nos direitos individuais. A família é um bem de que a sociedade não pode prescindir, mas precisa ser protegida” (n. 44). E faz uma defesa contundente da família: “Ninguém pode pensar que o enfraquecimento da família como sociedade natural, fundada no matrimônio, seja algo que beneficia a sociedade. Antes, pelo contrário, prejudica o amadurecimento das pessoas, o cultivo dos valores comunitários e o desenvolvimento ético das cidades e das aldeias”. (n. 52)
O modelo para as famílias
8. A sagrada família de Nazaré é colocada pelo Papa como modelo para as famílias: “A aliança de amor e fidelidade, vivida pela Sagrada Família de Nazaré, ilumina o princípio que dá forma a cada família e a torna capaz de enfrentar melhor as vicissitudes da vida e da história. Sobre esse fundamento cada família, mesmo na sua fragilidade, pode tornar-se uma luz na escuridão do mundo”. (n. 66)
9 . O Papa chama à atenção para a importância do casamento na Igreja: “O sacramento do matrimônio não é uma convenção social, um rito vazio ou o mero sinal externo dum compromisso. O sacramento é um dom para a santificação e a salvação dos esposos, porque “a sua pertença recíproca é a representação real, através do sinal sacramental, da mesma relação de Cristo com a Igreja. Os esposos são, portanto, para a Igreja, a lembrança permanente daquilo que aconteceu na cruz; são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação, da qual o sacramento os faz participar”. (n. 72)
10. Enfim, o Papa se preocupa com muitos outros problemas ligados à família, como a queda demográfica, devido “a uma mentalidade antinatalista e promovida pelas políticas mundiais de saúde reprodutiva”, e diz que “a Igreja rejeita, com todas as suas forças, as intervenções coercitivas do Estado em favor da anticoncepção, da esterilização e inclusive do aborto”. Ele condena a “violência verbal, física e sexual, perpetrada contra as mulheres em alguns casais, contradiz a própria natureza da união conjugal”. Condena a “grave mutilação genital da mulher em algumas culturas, mas também a desigualdade de acesso a postos de trabalho dignos e aos lugares onde as decisões são tomadas”. “Condena a instrumentalização e mercantilização do corpo feminino na atual cultura midiática”. Valoriza a atividade sexual do casal dentro do plano de Deus. O próprio Deus “criou a sexualidade, que é um presente maravilhoso para as suas criaturas”. Ele cita que São João Paulo II rejeitou a ideia de que o ensinamento da Igreja implique “uma negação do valor do sexo humano” ou que simplesmente o tolere “pela própria necessidade da procriação”.
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