Independentemente da idade, é preciso sempre ter novos projetos de vida
Que tal um encontro sincero, hoje, com o espelho? Não só o espelho físico, que mostra os sinais do tempo, mas também com um espelho emocional, espiritual, afetivo e profissional? Que tal um balanço geral, no qual possamos relacionar nossas conquistas, vitórias e aprendizados? E que tal olharmos para as pessoas – as quais admiramos e têm mais anos de vida do que nós, que já alcançaram fases que ainda esperamos viver – e observar a beleza por elas conquistada?
Dependendo da perspectiva em que nós mulheres nos colocamos, lidar com os anos que passam pode ser motivo de angústia e desespero, uma tentativa insana de lutar contra o tempo, enquanto que, para outras, pode ser o tempo de consolidar uma história com sabedoria e serenidade.
Como é bonito observar uma mulher independente e segura em sua fase madura, com os filhos já crescidos, a vida profissional estabilizada, buscando fazer suas contribuições únicas a um mundo que já lhe deu tanto até aquele momento! Quanto de emoção pode despertar uma mulher de 70 ou 80 anos, com seus cabelos brancos, suas mãos trêmulas e um sorriso no rosto, ao olhar para aquela foto amarela na parede, ao receber um abraço do seu neto e, entusiasmada, apagar mais uma vela do seu bolo de aniversário!
Um olhar diferente
Parece que o caminho para usufruirmos das vantagens de um envelhecimento tranquilo é desenvolvermos a capacidade de vivenciá-lo com alegria. Começamos com um olhar diferente e amoroso para nós mesmas e para nossa história, para o nosso corpo e as marcas que nele existem. Contemplamos nosso passado em toda sua integridade e plenitude, com as vitórias e conquistas, dores, fracassos e tudo aquilo que nos fez ser quem somos. Sem culpa nem remorsos, sabendo que, apesar de nossas fraquezas, fomos o melhor que poderíamos ser dentro dos nossos limites e possibilidades.
Olhar-se com amor, carinho e cuidado nos leva a sentir o delicioso sabor de verdadeiramente envelhecer com alegria. Conseguimos olhar para os mais jovens e já não desejamos ser como eles, pois existe algo dentro de nós que é muito sólido, que é belo e único; e nós só o adquirimos com as experiências vividas ao longo dos anos. E não trocamos nada disso por uma pele mais lisa ou por um corpo mais definido.
Aprender com o tempo
Com o passar dos anos, vivemos muitas desilusões, perdemos pessoas amadas, tivemos nosso coração ferido e muitas expectativas que alimentamos ao longo da vida foram frustradas. No entanto, foram justamente essas vivências que nos tornaram mais humanas, mais tolerantes, mais capazes de amar e aceitar os outros como eles são, sem querer mudá-los nem adequá-los aos nossos desejos.
À medida que os anos passam e a idade avança, incorporamos os desafios e os aprendizados das fases anteriores, tornamo-nos pessoas melhores e mais preparadas para cumprir os objetivos da fase seguinte. Independentemente de nossa idade, que tenhamos sempre novos projetos de vida, e que não tenhamos medo de sonhar nem deixar de pedir a Deus a graça de nos ajudar a tornar esses projetos uma realidade, trabalhando em nossa alma e dando-nos forças e entusiasmo para realizá-los.
Decidir-se por uma velhice saudável
Saber envelhecer é, antes de tudo, uma atitude. E atitudes são comportamentos ditados pela nossa vontade numa disposição interior que nos leva a agir em direção aos nossos objetivos. A tristeza, o sentimento de solidão, o abandono e a depressão são obstáculos para uma velhice saudável.
Não há vacina, nem pílula, creme ou cirurgia plástica que previnam essa causa; ela é tóxica e responsável pela ruína não só da nossa pele, mas da nossa alma. Inimiga de qualquer mulher, a tristeza por envelhecer é como uma erva daninha. E como não a podemos impedir nem evitar, a pergunta é: como posso viver esse tempo da melhor forma possível? A resposta é: com gratidão e muita alegria no coração.
Agradecer à vida
Gratidão por termos vivido cada dia desta nossa vida, gratas por ver nossos cabelos ficando grisalhos e por termos as marcas de nossa juventude gravadas em cada ruga do nosso rosto. Gratas por termos amado e desejado aperfeiçoar este amor até nosso último dia neste mundo.
Celebrar cada aniversário com alegria, vivendo o apogeu da maturidade em toda a sua plenitude, tomando posse da mulher que nos tornamos, sabendo que, dentro de nós, sempre existirá aquela menina cheia de vida, de ideias, sonhos e projetos a realizar. É saber que teremos toda a eternidade para sermos aquilo que amamos.
Judith Dipp
Formada em Psicologia, Judith foi cofundadora da Comunidade de Aliança Mãe da Ternura e voluntária num Centro de Atendimento e Aconselhamento para Mulheres ( Montgomery County Counselling and Carreer Center), em Washington, nos Estados Unidos.
Atualmente, é psicóloga da Escola Internacional Everest, do Lar Antônia e da Congregação dos Seminaristas Redentoristas, todos com sede em Curitiba (PR), cidade onde reside.
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