A Virgem Maria vem ao nosso encontro de diversas formas, reforçando o amor de Cristo por nós
Há cem anos, a Virgem Maria manifestava-se em Fátima (Portugal) a três pastorinhos: Lúcia, Francisco e Jacinta (dois deles canonizados em 13 de maio de 2017). Em Lourdes, a Virgem também se manifestou à jovem Bernadete, filha de um pobre oleiro. Bernadete chegou a trabalhar como pastora e empregada doméstica. Em Guadalupe, a manifestação aconteceu ao índio Juan Diego, um excluído da sociedade. Em Aparecida, a três humildes pescadores, que encontraram nas águas do Rio Paraíba a imagem de Nossa Senhora da Conceição. Em todas essas aparições, a Virgem Maria escolheu pessoas simples e humildes, para lembrá-los dos ensinamentos de seu amado Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. Aquela que foi eleita em sua humildade, escolhida por Deus para ser a Mãe do Salvador, também escolheu os humildes para acolherem suas mensagens, que são um convite à oração, à conversão e à paz. Somente os corações humildes estão abertos a ouvirem a voz de Deus: “Minha alma proclama a grandeza do Senhor, meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, porque olhou para a humilhação de sua serva (Lc 1,46-48)”.
A humildade é uma virtude divina das almas nobres. Quem é verdadeiramente humilde não se envaidece de possuí-la, mas, ao contrário, reconhece sua própria insignificância diante do mundo e do Criador. Deus, em Sua infinita misericórdia, olhou para a humildade, a insignificância, a pobreza de Maria. Ele olhou para ela por pura bondade. Alguém verdadeiramente humilde não espera recompensa nenhuma por tal virtude. Assim era o Coração Imaculado da Virgem Maria, era humilde simplesmente por ser, e não esperava recompensa nenhuma da parte de Deus. Mas Ele olhou com amor para a humildade de seu coração e n’Ela fez morada. Quem é verdadeiramente humilde não tem conhecimento dessa virtude, pois, se souber que a possui, torna-se soberbo, ou seja, quem se considera humilde tende a se envaidecer. Maria era verdadeiramente humilde por natureza. E nesta alma santa Deus veio habitar: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e nós vimos a sua glória (Jo 1,14)”.
Coração humilde e amoroso de Maria
Foi no humilde coração da Virgem Maria que Deus encontrou lugar para acolher seu Filho. Diante do anúncio do anjo Gabriel, Maria disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,38)”. Na sua pequenez, Maria foi exaltada com a maior de todas as graças: ser a Mãe do Salvador. “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se agitou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Com um grande grito exclamou: ‘Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu’ (Lc 1,41-45)”. Na humildade daquela mulher foi inaugurada na história o tempo da salvação.
Santo Tomas de Aquino afirma na Suma Teológica: “A Bem-aventurada Virgem é o modelo e o exemplo de todas as virtudes. Nela, achareis o modelo da humildade. Escutai suas palavras: ‘Eis a escrava do Senhor’ (Lc 1,38). E mais: ‘O Senhor olhou a humildade de sua serva’ (Lc 1, 48)”. No ‘sim’ de Maria Santíssima estava impresso a nossa salvação. Somente em um coração divinamente puro e humilde Nosso Senhor Jesus Cristo poderia ser gerado.
A obediência de Maria
Santo Irineu assim escreve sobre a humildade e obediência da Virgem Maria: “Maria, com sua humildade e obediência, desatou o nó da desobediência de Eva”. Na humildade de Maria Santíssima encontramos o caminho para nos aproximarmos de Deus: um coração obediente e disponível para acolher o Senhor.
A Virgem Maria, em condição de humilde serva, de escrava, coloca-se totalmente disponível para realizar os planos de Deus. Para Ela, o que importava era fazer a vontade do Senhor.
Maria Santíssima, em suas manifestações, sempre nos recordou que o caminho para a superação das guerras e conflitos é o seguimento verdadeiro de Jesus Cristo por meio de uma vida de contínua conversão e oração. Em suas aparições, Maria nos lembra de Jesus. Ela continua a ser a serva humilde e obediente que nos recorda que o caminho para a vida eterna é Jesus Cristo. Em suas mensagens, está explícito o pedido que Ela fez aos que estavam servindo nas Bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser (Jo 2,5)”.
Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem
São Luís Maria Grignion de Montfort, no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nos parágrafos 1 e 2, assim escreve sobre a humildade da Virgem Maria: “Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por ela que deve reinar no mundo. Toda a sua vida permaneceu oculta; por isso o Espírito Santo e a Igreja a chamam Alma Mater – Mãe escondida e secreta. Tão profunda era a sua humildade, que, para ela, o atrativo mais poderoso, mais constante, era esconder-se de si mesma e de toda criatura, para ser conhecida somente de Deus”.
Almas humildes são anônimas aos olhos do mundo, mas brilham como o dia no coração de Deus. Assim foi e continuará para sempre sendo a humilde serva do Senhor. Sua divina humildade brilha em meio àqueles que buscam a glória e o poder. Suas virtudes nos ensinam o caminho para acolhermos Nosso Senhor Jesus Cristo no ventre de nossa alma, nos atos de nossa vida, nos silêncios de nossas preces.
Maria Santíssima, em sua humildade, quer que façamos e pratiquemos, em nossa vida, tudo o que Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou. Amparados pela Santíssima Virgem, seguimos o Senhor. Aquela que concebeu o Verbo Divino em seu ventre convida-nos também a gerarmos Jesus em nossa alma.
Constituição Dogmática Lumen Gentium
O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Lumen Gentium, capítulo VIII, parágrafo 61, assim se expressa acerca da Bem-Aventurada Virgem Maria: “A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde toda a eternidade, simultaneamente com a encarnação do Verbo, por disposição da divina Providência, foi na terra a nobre Mãe do Divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por essa razão nossa mãe na ordem da graça”.
São Bernardo de Claraval expressa, em um belo pensamento, como estar sempre com Maria Santíssima em nosso coração: “Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Que seu nome nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro da intercessão dela, não negligencies os exemplos de sua vida. Seguindo-a, não te transviarás; rezando a Ela, não te desesperarás; pensando nela, evitarás todo erro. Se Ela te sustenta, não cairás; se Ela te protege, nada terás a temer; se Ela te conduz, não te cansarás; se Ela te é favorável, alcançarás o fim” (Hom. II super “Missus est”, 17: PL 183, 70-71).
Que o exemplo de humildade da Virgem Maria Santíssima nunca se afaste de nossos olhos, nem mesmo de nosso coração, para que, ao seguirmos suas virtudes, acolhamos Jesus Cristo em nossa alma.
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