Dicas sobre a vida a dois
Em nossa sociedade, voltada exclusivamente para o trabalho e a produção econômica, as relações humanas só ganham relevância se dizem respeito ao mercado de trabalho ou o afetam. A consequência disso é termos conteúdo e formação para praticamente tudo, menos para o relacionamento da vida a dois.
Assim, as experiências de namoro, noivado e casamento são submetidas sistematicamente a erros e descobertas individuais, e as catástrofes se seguem. Simplesmente não criamos nem sustentamos, enquanto cristãos, uma sabedoria de vida a dois que possa ser disseminada e ajudar outros irmãos a viverem esse maravilhoso sacramento de união.
Depois de 17 anos nesta linda e exigente aventura do verdadeiro universo que é o matrimônio, listo sete pontos que devem ser refletidos e podem servir de guia para os jovens casais viverem um pouco melhor os primeiros anos:
1 – Depois de dez anos, melhora muito!
Começo por aqui, pois ouvi isso de uma madrinha sábia no dia do meu casamento e comprovei na prática. O matrimônio, assim como toda construção espiritual, é como uma árvore: leva tempo para fixar raízes, crescer, sobreviver a ventos e tempestades, formar copa e dar frutos. A chave é sempre a constância e a persistência, ou como dizemos no próprio rito do matrimônio: recebe essa aliança em sinal do meu amor e da minha fidelidade!
Amar quando não se quer amar, ser fiel e constante nas pequenas coisas é muito difícil nos primeiros anos de casamento, tanto que as estatísticas todas comprovam que o grande número de divórcios ocorre nesse período. Lembre-se sempre: não existe árvore forte e bem formada com menos de 10 anos de idade. Esteja alerta! Depois do encanto inicial, seu casamento passará por diversas provações. Fique firme. Se preciso, procure ajuda, não se esqueça de que a promessa foi “para sempre” e que, depois de dez anos, melhora muito!
Para minha e sua alegria, recentemente minha madrinha me disse que, depois de 20 anos, é melhor ainda! Logo vou ver.
2 – Você vai ter que conviver com pequenos defeitos
Quem fez o certo e começou escolhendo, com cuidado, com quem se casar, automaticamente livrou-se de grandes problemas. No entanto, não se anime, os pequenos defeitos do cônjuge vão continuar existindo e, com o tempo, eles irritam demais. É a torneira pingando, a toalha molhada em cima da cama, a roupa jogada, a tampa do vaso abaixada, o resto de comida na pia, o conserto que nunca é feito e uma infinidade de pequenas queixas que já ouvi de vários casais diferentes, e que são insignificantes para quem não vive a situação no dia a dia. Quando é na vida dos outros, a gente ri.
Esses pequeninos deslizes, somados aos problemas próprios do trabalho, da casa, da vida, causam verdadeiras brigas entre os casais. Cuidado! Sobreviva a isso também. Com o tempo (olha ele aí de novo!), você percebe que também faz e desfaz um monte de coisas que irritam o seu cônjuge, e que, para você, parecem insignificantes. Por amor, mude o que vocês conseguir mudar. Aquilo que você não conseguir mudar em você vai lhe servir sempre de alerta para perdoar o que o outro não conseguiu mudar nele também.
Perdoe e releve. Essas “coisinhas” não são defeitos de caráter, são deslizes de comportamento e hábitos. Muitos casais se separam, porque não conseguem conviver com esses pequenos (e irritantes) conflitos; depois, percebem que foram exigentes demais. Escuto, com frequência, de pessoas que estão em segundo e terceiro casamento, que agora eles não dão tanta importância aos pequenos defeitos, e (pasmem) vários relatam que o cônjuge atual é mais difícil de conviver que o anterior.
3 – Suas decisões afetam os dois
A partir do matrimônio, qualquer decisão individual afeta sempre os dois. Não se iluda, o “eu” foi e precisa ser substituído pelo “nós”. Partilhe, pergunte, fuja da presunção de ser o dono da verdade. Num casamento, ninguém deve se sentir diminuído, porque precisa compartilhar decisões. Com o tempo e a intimidade do casal, cada vez mais você ouvirá: “Pode fazer o que você achar melhor!”. Isso é conquista, não imposição.
Decidir as coisas sozinho, se não for ocasião de erro, pode criar muita mágoa. Uma hora, tudo vem à tona e fica claro que o outro se sente como assistente, sem importância, ou, o que é pior, um mero objeto. Além de tudo isso, o ditado popular é claro: duas cabeças pensam melhor que uma! Comece a reparar que, quando você decide sozinho, pode estar embutido aí um medo de que sua vontade não seja feita, um sentimento de inferioridade, de rejeição ou de que você não vai ser ouvido. Pode ser também por medo de conflito e, se o medo for real, é melhor investir mais no diálogo antes de passar para as decisões.
Entra, nesse quesito, também a relação com o dinheiro. Meu dinheiro, seu dinheiro ou um único cônjuge controlando todo o dinheiro e “distribuindo” é um passo certo para problemas. O assunto é amplo demais para ser tratado aqui, mas se lembre: “sereis uma só carne” trata de decisões, de vida e de tudo que influencia na vida, inclusive o dinheiro.
4 – Não esqueça que sua sogra é a minha mãe
Se as diferenças entre os cônjuges já são difíceis de superar nos primeiros anos, o que dizer das diferenças com a família dele? Os problemas de relacionamento são tão grandes, que as milhares de piadas sobre “sogra” exemplificam bem a questão. Quando não são bem administrados, vários casamentos acabam ruindo por essas intromissões “bem intencionadas” dos pais e parentes.
No matrimônio cristão, não é necessário que você se torne íntimo de todos os parentes de seu cônjuge, mas respeito é fundamental. Além de respeitar e ter uma boa convivência com seu sogro e sogra, na ausência deles, as queixas e reclamações sobre eles precisam diminuir ao máximo, pois isso machuca muito o filho deles, ou seja, a pessoa com quem você se casou.
As divergências de opinião são naturais, as criações foram diferentes e, por vezes, perdemos a paciência. Até onde ir, então, com os comentários? Em casa, usamos uma expressão que serve de aviso para quando o outro está passando dos limites: lembre-se de que sua sogra é a minha mãe! Isso sempre encerra o assunto, porque, se as sogras, infelizmente, gozam de má reputação, todas as mães são santas. Busquemos, portanto, honrar o pai e a mãe de nosso cônjuge, como fazemos com os nossos.
5 – Amor e sexo
Na vida matrimonial, a compreensão e a vivência dessas duas realidades são bem diferentes entre o casal. Passado o primeiro ou os primeiros anos de “lua de mel”, um abismo começa a se formar simplesmente por expectativas e experiências diferentes relativas ao que é amar e se sentir amado, e como ter relações sexuais que permitam que os dois se sintam realizados.
Sobre as diferentes percepções do amor pelos homens e pelas mulheres, temos vasta literatura que precisa ser consultada. Faz bem entender que o outro pensa e sente diferente de você; e não é porque deixa de demonstrar os sinais de amor que você entende como corretos, que ele não ama você. Já sobre sexo, preciso dar algumas indicações, mas como o assunto é amplo demais, faço somente um alerta: procure responder com sinceridade; depois, vá para um território neutro (ou seja, longe de sua casa), em que possam conversar sobre esses dois tópicos de maneira amigável.
Para elas
Será que a frequência com que as relações sexuais ocorrem está correta? De modo geral, as mulheres se contentam com menos e os maridos sempre querem mais. A rotina, os trabalhos e filhos também prejudicam essa percepção.
Lembre-se de que, além da geração de filhos, a Igreja ensina que a relação sexual tem o importante papel de fortalecer a união do casal. Longos períodos sem sexo, a não ser que seja de comum acordo, prejudica muito a estabilidade do casal e deixa o marido ressentido com razão.
Para eles
O sexo não se tornou somente uma válvula de escape para outras situações da sua vida? Cuidado para não começar a usufruir de sua esposa como um objeto de prazer. É difícil para o homem entender que, se a mulher não se sente amada, o sexo se torna uma terrível obrigação. Assim, invista em deixar claro que a ama de diversas e diferentes maneiras, de tal forma que a relação sexual seja um coroamento de todo esse amor que você sente por ela.
Os homens que deixam de lado o “eu te amo” sincero e, alguns até o “bom-dia”, verão as relações sexuais com sua esposa diminuir até a raridade. É incrível que o namorado atencioso e criativo, doce e romanticamente grudento ao limite seja substituído pelo marido indiferente, que pensa ter o direito a uma relação sexual, pois é casado e está com vontade. Você se esqueceu como você era? Ela não.
6 – Os filhos são bênçãos
Existem duas opiniões correntes e certas: ser pai e mãe é muito difícil, e ser avô e avó é maravilhoso. Em outras palavras, filhos dão trabalho e os netos são pura alegria! Estranhamente, as pessoas repetem essas frases, mas não raciocinam que nunca serão avós se não forem pais antes, e acabam aderindo à opinião geral de que é melhor não ter filhos ou, infelizmente, no caso dos cristãos, ter o mínimo de filhos possível. Será?
Em casa, fizemos a opção de ter filhos cedo. Confesso que foi enlouquecedor ter três bebês com diferenças de idade de quase dois anos. Também foi fatigante três crianças, e tenho descoberto novos e insondáveis limites de paciência com três adolescentes, mas, quando olho para trás e para frente, tenho gostado do que vejo.
O que posso dizer aos jovens casais é para que não tenham medo. Não parem na opinião corrente dos que tratam os filhos como despesa e problema, sobretudo, não se furtem à possibilidade de ser avô/avó. Para ter uma casa cheia de netos, você precisa começar com os filhos. Acreditem que Deus estará sempre ao seu lado e que não existe ninguém mais fiel.
7 – Viva em santidade
Por último, o mais importante: vivam com Deus. Se cada um fizer o firme propósito de cumprir o mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas, não há nada que possa destruir o casamento. Aliás, Jesus transformou a mera união de duas pessoas em sacramento com esse objetivo: ao amarmos aquele que vemos, possamos finalmente amar Aquele que não vemos.
Isso faz do sacramento do matrimônio um treino de santidade e entrega. Entrega àquele que amamos, para que, Aquele que nos ama mais que nós a nós mesmos, possa se entregar completamente a nós e, assim, saibamos corresponder.
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