Como sofrer sem deixar a felicidade ser comprometida?

Sofrer com alegria e esperança


O sofrimento é inevitável na vida do ser humano. Isso implica em dizer que não existe fórmula mágica para deixar de sofrer nesta vida. Crentes e não crentes, ricos e pobres, poderosos e humildes, ninguém escapa do sofrimento.

Uns sofrem por não possuir, às vezes nem o necessário para sobrevivência, os pobres. Por sua vez, outros sofrem com medo de perder o que tem em abundância, os ricos. Os casados sofrem as dificuldades próprias do casamento, outros sofrem por não conseguirem casar. Sofrem ainda, os problemas provenientes dos filhos, outros, o problema é exatamente não poder ter filhos. Por isso mesmo, todos sem exceção, de algum modo sofrem.

Sendo o sofrimento inevitável à vida de todos nós seres humanos, cabe-nos dar sentido para ele. Dar sentido ao sofrimento significa vivê-lo com alegria e esperança. Isso é possível quando unimos o nosso sofrimento ao sofrimento de Cristo na Cruz. Estas duas palavras, “alegria e esperança”, precisam fazer parte do nosso vocabulário de modo que diante do sofrimento não nos desesperemos, pelo contrário, saibamos sofrer com alegria e esperança.

As duas palavras anteriormente mencionadas estão intimamente ligadas uma à outra. Todos que sofrem em Deus conseguem conjugar com estas realidades, aparentemente contraditórias: alegria e sofrimento, sofrimento e esperança. Diz São Paulo “Estou absolutamente convencido de que os nossos sofrimentos do presente não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada”. (Rom 8,18). Quem tem Deus, sabe que o sofrimento presente passará, mesmo que seja duradouro. Sua esperança não está aqui neste mundo, mas no céu que a espera.

O Papa São João Paulo II, na Carta apostólica Salvifici Doloris, n 9, ao se referir sobre o sentido cristão do sofrimento humano, diz que, “no fundo de cada sofrimento experimentado pelo homem, […] aparece inevitavelmente à pergunta: por quê? É uma pergunta acerca da causa, da razão e também acerca da finalidade (para que).

De modo geral, toda pergunta sobre o sofrimento é sempre acerca do sentido. Esta pergunta não só acompanha o sofrimento humano, como também determina seu conteúdo. Continua o papa: “A dor, como é óbvio, em especial a dor física, encontra-se amplamente difundida no mundo dos animais. Mas só o homem, ao sofrer, sabe que sofre e se pergunta o porquê; e sofre de um modo humanamente ainda mais profundo se não encontra uma resposta satisfatória”.

O cristão encontra na paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo um sentido para o sofrimento. A pergunta “por que?” e “para que?” são respondidas, embora não seja simples e muitas vezes satisfatória.

O sofrimento de Cristo foi redentor. Quando o sofrimento humano, unido ao d’Ele na cruz, também assume um sentido de redenção. Completo na minha carne, diz o Apóstolo São Paulo, ao explicar o valor salvífico do sofrimento, o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja. (Col, 1,24). Neste contexto, por amor de Deus, até mesmo o sofrimento tem um sentido, podendo tornar-se acontecimento de salvação. Ainda diz São Paulo “as nossas aflições leves e passageiras estão produzindo para nós uma glória incomparável, de valor eterno”. (2Cor 4,17).

Na mensagem de Nossa Senhora de Fátima, no dia 13 de maio de 1917, ela faz uma pergunta para os Pastorinhos: “Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores?”. E, no dia 15 de agosto do mesmo ano faz um pedido:“Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas”. Com isto entende-se que a redenção através do sofrimento humano é tanto para a pessoa que sofre como também para aqueles nos quais ela queira oferecer.

Portanto meu irmão, não desperdice o teu sofrimento, ofereça em prol da tua salvação e também dos pecadores!

Como vimos, a dor pode ser um grande instrumento de salvação para nós e para os outros. Para a doutrina cristã, a dor, sobretudo a dos últimos momentos da vida assume um significado particular no plano salvífico de Deus, pois, é uma participação na Paixão de Cristo e uma união com o sacrifício redentor que Ele ofereceu em obediência à vontade do Pai. Ao saber disso, agora cabe a nós não desperdiçar nosso sofrimento, em vez disso, unir a Cruz de Cristo, em prol da nossa salvação e do mundo inteiro.