Como o relacionamento familiar contribui para a saúde mental dos filhos?

A família tem um papel importantíssimo no desenvolvimento da saúde mental das crianças e adolescentes inseridos nela.

Bruno Marques/cancaonova.com

A vida social de todos nós é marcada por um primeiro contato humano, que é o grupo familiar. A família tem um papel essencial na estruturação de nossa personalidade, determinando e organizando nosso comportamento, nossos padrões morais, o que recebemos como educação e regras. (Drummond & Drummond Filho, 1998).

É esse grupo familiar o responsável pela passagem dessa criança para a vida social e sua convivência saudável no mundo, seu relacionamento com hierarquia, com pessoas de todas as realidades, com o estabelecimento de limites. Mais do que um grupo, a família onde crianças e adolescentes estão inseridos tem um papel importantíssimo no desenvolvimento de sua saúde mental. Cada etapa de vida tem sua particularidade física e emocional, e tudo isso tem relação direta com os ambientes nos quais estiverem inseridos.

A forma como nos relacionamos com nossos filhos ajudará no desenvolvimento emocional favorável para os desafios de vida. O suporte ou a falta dele, a presença ou a falta dela, a forma como elogiamos ou deixamos de elogiar, tudo isso contribuirá ou não no desenvolvimento da personalidade de uma pessoa.

Personalidade
Por personalidade, podemos compreender a união entre o que é biológico, ou seja, nosso temperamento, nosso caráter – que diz daquilo que aprendemos enquanto valores e códigos morais – e o que é educação, experiências da vida. Essa personalidade começa a ser formada nos primeiros meses de vida e se estrutura ao fim da adolescência.

Quanto mais próximos da adolescência, maiores os conflitos dados tipicamente pelo nosso desenvolvimento: a explosão de hormônios, as dúvidas existenciais, a busca pelo seu espaço, a relação com normas e condutas, as inquietações, ou seja, literalmente um mundo de coisas, que para um adulto parece até simples, mas pode ser complexa para uma criança ou um jovem, ainda mais se há essa fragilidade emocional presente.

“A família é um grupo natural que, através do tempo, tem desenvolvido padrões de interação. A estrutura familiar é constituída por esses padrões de interação, que, por sua vez, governam o funcionamento dos membros da própria família, delineando sua gama de comportamentos e facilitando sua interação” (Minuchin e Fishiman, 1990).

A família deve ser suporte
O núcleo familiar é uma estrutura tão importante para nossa personalidade, que toda a influência dada por suas características impacta diretamente na vida dos filhos. A violência familiar, os desentendimentos constantes, o abuso de drogas, a forma como os pais se relacionam e como é feito o diálogo neste lar contribuirá, inclusive, no desempenho escolar de seus filhos.

Claro que não existe família perfeita, sem nenhum problema, mas somos o grande núcleo que auxilia a formação emocional dos nossos filhos. Como é importante que filhos possam perceber o espaço de diálogo e afeto em seus lares, sendo este espaço o núcleo que abre portas para que este filho sinta-se livre, coloque suas dúvidas e sinta-se amparado em suas escolhas. Isso não diz de riqueza nem de pobreza, pois temos lares com muito recurso financeiro, mas sem suporte emocional.

Pesquisas na área de comportamento mostram que a autoestima dos adolescentes pode variar de acordo com a funcionalidade da família em que estes estão inseridos. Quanto mais frágeis as famílias, mais frágil essa autoestima.

O que fazer para melhorar o ambiente familiar?
É tempo de repensarmos a família como o espaço de união, apoio, suporte, confiança, carinho e amor. Palavras simples, mas atos complexos, que podem ser perder na dinâmica conturbada da vida. Esta agitação, hábitos pouco saudáveis e tudo mais pode consumir o que de saudável ainda nos resta. Nãotenha medo de educar, não tenha medo de reconhecer suas fragilidades como pai e mãe, mas não se esqueça de que seu filho espera seu apoio. Mesmo que exista erro, mas você tenha interesse em superar suas dificuldades, não deixe de dar esse passo.

Dar carinho não é superproteger nem evitar as dores do mundo. Dar liberdade ao filho não significa deixá-lo solto no mundo. Desenvolver independência vai muito além do que deixar que ele faça o que quer. Ao contrário, a independência do seu filho virá com o suporte que você der a ele, inclusive nos momentos de erros.

Existem ainda estudos que comprovam que problemas emocionais de crianças e adolescentes têm aumentado, e muitos deles estão intimamente ligados à estrutura e suporte familiar, ou melhor, à falta desse suporte.

Sendo assim, sempre é tempo de olharmos para nossa família e pensarmos o que podemos fazer, a partir de nossas atitudes, para que nossos filhos tenham o desenvolvimento de uma personalidade forte e de uma autoestima positiva.

Elaine Ribeiro, Psicóloga Clínica pela USP – Universidade de São Paulo, atuando nas cidade de São Paulo  e Cachoeira Paulista. Neuropsicóloga e Psicóloga Organizacional, é colaboradora da Comunidade Canção Nova.