O discípulo e o seu Mestre
Você já se perguntou como deve ser a sua relação com Deus? Partindo dessa pergunta quero junto com você refletir a maneira como deveríamos nos relacionarmos com o Senhor. E para isso o melhor exemplo é do discípulo João, de quem o próprio Jesus denominou como sendo aquele que Ele mais amava. O laço que ligava João a Jesus era muito maior do que o laço próprio da missão e existia entre eles uma verdadeira amizade.
Antes, é preciso entender uma das origens da palavra “amizade”. O filósofo de Estagira, Aristóteles, define a amizade com o termo “philia”. Aristóteles escrevendo para o seu filho Nicômaco diz que a amizade perfeita é “Aquela que existe entre os homens que são bons e semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o bem um do outro de modo idêntico e são bons em si mesmos […].
Aqueles que desejam o bem aos seus amigos por eles mesmos, são amigos no sentido mais próprio, porque o fazem em razão de sua natureza e não por acidente”. Com isso, podemos entender o verdadeiro sentido da amizade, pensemos, principalmente, nas figuras de Jesus e do Seu amigo João.
Jesus, em um dos seus momentos mais dramáticos, estavam de pé junto à Cruz d’Ele, Sua Mãe, Maria de Cléofas e Maria Madalena. Jesus vê ao lado de Sua Mãe o discípulo que Ele amava e disse à Sua mãe: “Mulher, eis o Teu filho!”. E, depois, olhando para o discípulo disse: “Eis a Tua mãe!” (cf. Jo 19,25-27). Jesus, nesse momento, confia a Sua querida Mãe aquele para quem Ele confiava e tinha a certeza de que cuidaria com o mesmo amor, como Ele mesmo faria. Podemos, com atitude de Jesus, compreender o grau de intimidade que tanto Ele quanto João tinham um com o outro.
Sigamos o exemplo de João
O discípulo João não criou essa intimidade com o Senhor de maneira automática, mas certamente ele a cultivou. A amizade que você precisa ter com Deus requer esforço, perseverança e, acima de tudo, confiança. Como Aristóteles disse, a amizade é uma virtude, então precisa ser buscada, exercitada. Um amigo sempre vai querer o bem para o outro, não havendo busca de prazer ou interesse. E, quem melhor entende de amizade se não Aquele que foi chamado de “bom mestre?”.
Sim, meu caro! Jesus é esse especialista em amizade, pois o maior desejo d’Ele é o seu bem. Se podemos dizer que Jesus tem algum interesse, esse seria o seu bem e a sua salvação. Isso acontecerá cada vez que você tornar-se amigo de Jesus, quando você for verdadeiramente um discípulo aos pés do Mestre. Vejamos, agora, como João cultivou e fez em relação ao Seu mestre, para que passasse de um seguimento como o dos demais discípulos para ser uma relação de amor.
É preciso entender Jesus por dentro
Existe uma palavra que define bem a atitude de João em relação a Jesus, quando João reclinou a cabeça no peito do seu Mestre. A palavra é “auscultar”, que significa escutar por dentro, examinar o interior, muitas vezes, utilizando aparelhos. Com isso, podemos entender o movimento de João em direção a Jesus. Pois, o reclinar a cabeça era o desejo dele de examinar o Senhor por dentro, de conhecer o mais íntimo e profundo de Jesus. Essa atitude já era o discípulo dando sinais do desejo que tinha o seu coração, o de ter uma amizade verdadeira com o seu Mestre.
Mais uma vez nos deparamos com um momento de extremo sofrimento para Jesus. Contudo, o desfecho foi diferente do momento da Cruz. Agora, é João, o amigo do Senhor, que vem em socorro de Jesus no momento da traição. O Senhor anuncia a sua traição: um daqueles que Ele convidara para estar mais próximo, iria o trair.
Após Jesus ficar interiormente perturbado Ele diz: “Em verdade, em verdade vos digo: um de vós Me entregará” (cf. Jo 13,21). O fato do escritor sagrado ter feito questão de dizer que a perturbação foi interior, quer retratar que o coração do Senhor estava aflito. João, querendo o bem para Jesus, tenta com uma atitude de quem ama, confortar o Senhor: “O discípulo, então, recostando-se sobre o peito de Jesus, perguntou: ‘Senhor, quem é?’” (cf. Jo 13,25). O discípulo que Jesus mais amava quis, de alguma forma, amenizar o sofrimento do Senhor. João quis entender o Senhor por dentro, ele quis fazer parte da sua intimidade. E, com essa atitude, João ausculta o coração de Jesus usando o melhor equipamento, o próprio coração.
Jesus quer que sejamos íntimos d’Ele
Depois de perceber o modo como Jesus quer estar com você, isto é, numa relação entre dois verdadeiros amigos. Você pode ainda se perguntar: “Como faço para chegar à intimidade com o Senhor?”.
Sem dúvida de errar, falo a você que: o meio para se tornar íntimo e amigo de Jesus é a oração. E uma das mais belas definições do que é oração, é a que Santa Teresa de Jesus nos deixou: “Oração é um íntimo diálogo de amor, estando, muitas vezes, a sós com Aquele que nos ama”. Você, assim como eu, só conseguirá ser próximo de Jesus quando se dedicar à oração. E, quando falo em rezar, não digo de muitas horas e nem muitos recursos, mas de qualidade na oração.
O que você precisa saber é que, no momento que você se coloca em oração, você entra em diálogo íntimo com Aquele que te ama. É na oração que conhece o Senhor por dentro. Quando você ora, você volta o seu coração na direção do coração de Jesus e, assim, experimenta o amor de uma verdadeiro amigo.
Francisco Fábio Nunes
Natural de Fortaleza (CE), é missionário da Comunidade Canção Nova e candidato às Ordens Sacras. Licenciado em Filosofia pela Faculdade Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP), Fábio Nunes é também Bacharelando em Teologia pela Canção Nova, Cachoeira Paulista (SP) . Atua no Departamento de Internet da Canção Nova, no Santuário do Pai das Misericórdias e nos Confessionários.
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