Os desafios de viver a ética na sociedade de hoje
Dentre as características que nos identificam como seres humanos, destaca-se a necessidade de estarmos em sociedade, em grupos que se assemelham e diferenciam de modo a promover o enriquecimento das percepções de mundo e da existência. Essas relações possibilitam encontros e desencontros, semelhanças e diferenças, evidenciam a necessidade de desenvolvermos habilidades para esse coexistir, ou seja, um padrão comportamental, uma postura moral e ética.
Enquanto a moral vincula-se ao conjunto de normatizações e regras propostas por uma sociedade, dentro de uma cultura, e portanto situada em um recorte histórico, a ética diz respeito a como cada indivíduo, dentro de sua liberdade interior, decidirá pelo rumo de suas ações.
Nesta conjuntura, há ainda um terceiro aspecto que devemos trazer ao centro de nossa reflexão, devido à sua importância e relevância, no labor da compreensão que nos propomos fazer: o senso comum. É ele o responsável pela justificação pública ou interior de deliberações amorais ou antiéticas. Ele está presente quando a fim de justificar um ato ilícito, o indivíduo arroga: “Mas todo mundo faz”; ou ainda “se não for eu será outro”; e a mais nociva de todas: “é meu direito”.
Desafio diário e contínuo
Assim é notória a percepção de como o comportamento ético é exigente, pois se dá por meio de um contínuo e diário “remar contra a maré”. Ele consiste em uma firmeza de posição, em uma fidelidade aos princípios assumidos como basilares, por maior que possam vir a ser as circunstâncias e adversidades do momento.
A ação ética se evidencia sempre em relação ao outro. Nesse sentido, é possível compreender o quão desafiante essa postura pode ser no nosso tempo, tão fortemente marcado pelo individualismo, pelo egoísmo e hedonismo.
Quando sou capaz, em detrimento de possíveis vantagens pessoais de agir em prol do outro, levando o seu bem-estar em consideração, há uma manifestação de um comportamento ético, que se estabelece para além das conveniências.
Ser ético nas pequenas coisas
Desejamos ver o nascer do sol, mas queremos evitar a noite. Ansiamos pelo cume da montanha, mas rejeitamos a subida. Queremos subir ao pódio, mas sem enfrentar as agruras dos treinamentos. Desejamos uma vida cheia de sentido e significado sem, no entanto, estarmos dispostos às renúncias e superações que são próprias.
Um viver ético nos viabiliza uma coerência no existir. Aos olhos dos demais, o comportamento regido pela ética parece carecer de liberdade, mas isso é um grande engano, pois a liberdade sem a ética é falsa e parcial, na medida em que é danosa à liberdade dos outros.
Como cristãos, somos chamados a viver a ética em tudo, principalmente nas pequenas coisas. A partir desses pequenos passos, seremos capazes de trilharmos longos caminhos. Não que atingiremos a perfeição, mas, se assim procedermos, seguiremos os passos do Senhor, e com cada gota de nossas ações, a água viva da bondade, da justiça, do bem poderá chegar a mais e mais pessoas, tão ressequidas bela brutalidade de nosso tempo.
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